Um panorama do mês do orgulho gay em São Paulo 

Saber das suas próprias categorias, colocações e privilégios, independentemente de sua identidade de gênero ou sexual, é muito importante para uma boa convivência na sociedade contemporânea e um tratamento igualitário a todos. Por isso, vamos comentar e entender um pouco sobre o tema LGBTQIAPN+ e as visões e experiências que ele pode trazer? Vem comigo.

Junho é escolhido como mês do orgulho LGBTQIAPN+ por ser o momento em que aconteceu, em 28 de junho de 1969, uma rebelião em um bar em Nova York que contou com pessoas muito características do que viria a ser uma ampla comunidade. Esse momento marcou o que foi considerada a primeira parada gay, que, apesar de na época contemplar apenas essa sexualidade, hoje abarca todas as manifestações de uma sigla muito mais abrangente.

No entanto, a sigla LGBT faz parte de um vocabulário que se transforma tendo em vista a importância da linguagem ao pertencimento para os seres humanos, formando pontes entre vivências e identidades. O acrônimo que configura Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais/Transgênero, em uso desde 1990, é estendido para LGBTQIAPN+ para englobar diferentes representações que se manifestaram ao longo dos anos. Dessa forma, o gênero Queer, os Intersexuais, Assexuais, Pansexuais, Não-binários e  “+”, como as outras orientações sexuais e gêneros, estão colocados!

É inquestionável que o mês do orgulho nos traz relações de individualidade, auto afirmação e libertação, com caráter de desconstrução social. Sabemos que a sociedade ocidental carrega uma supervalorização histórica sobre uma variação específica de gênero e sexualidade, principalmente heteronormativa. Por isso, antes de tirar qualquer conclusão sobre sexualidade ou gênero, é essencial entender e incluir novas ideias sobre a constituição subjetiva de cada pessoa, fazendo com que atitudes de reconhecimento dentro da sigla não a classifiquem, mas a libertem.

Estamos, justamente, nesse mês em que é celebrado o orgulho sobre as formas de identificação e expressão que fogem da predisposição patriarcal. Por isso é essencial compreender o panorama encontrado diariamente pelas pessoas da comunidade. Dessa forma, a realidade exemplifica questões já evidentes para o grupo LGBTQIAPN+, que hoje representa cerca de 10% da população adulta do Brasil (16 milhões de brasileiros), de acordo com a ONG All Out em 2022. De 18 a 24 anos, a porcentagem é de 18% da população total. Em entrevista para a revista Exame, em 2022, a gerente de campanhas da ONG, Ana Andrade, comenta como a saúde e a violência são temas intrínsecos nesse debate: “O dimensionamento trazido por essa pesquisa nos dá mais assertividade para cobrar políticas públicas e de forma específica: nessa região, o problema maior é de violência; nessa outra, é saúde. Esse é um avanço importante.”.

Aqui cabe dizer como a identificação é um tópico importante. Por meio de outras pessoas, perfis e eventos, para que uma pessoa que se vê como pertencente ao grupo LGBTQIAPN+ se sinta menos sozinha. Isso obtendo como perspectiva que a própria parada gay nasce em São Paulo a partir de um momento de anonimato. Além disso, segundo relatório de 2022 da Antra, Associação Nacional de Travestis e Transexuais, o Brasil, já há treze anos, é o país que mais mata pessoas trans e travestis do mundo.

Levando em conta tal dura realidade, o enfoque na existência de festivais e eventos como o ‘Ballroom’ traz a essencialidade para o encontro de diferentes formas de expressão. A música, a moda, o cinema, a literatura, a dança e as artes visuais carregam em si a liberdade e o poder de representação e transformação, que todos deveriam ter. 

Bielo Pereira, apresentadora e empresária, se identifica como bigênero e é uma mulher trans. Ela utiliza as redes sociais como palco para debater questões do gordoativismo, empoderamento negro e luta contra a discriminação da população LGBTQIAPN+.

O contexto de realidades é colocado pela apresentadora a partir de seus próprios conhecimentos e experiências, que dizem de relacionamentos amorosos, de amizade, de momentos segregação, exclusão e discriminação pela sociedade brasileira. A empresária procura passar informações por meio de seus vídeos: focando assim em uma possibilidade de existência, resistência e visibilidade de forma bastante positiva.

Em entrevista para L’Officiel Brasil, no final de 2022, Bielo comenta que acredita que falta respeito e humanidade no tratamento da sociedade. E que isso faz com que as pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ sejam pessoas que precisam se provar duas, três vezes mais para estarem nos espaços. Mas, entretanto, que “estamos mudando essa imagem de que não somos pessoas que merecem respeito, e que sim, estão em todos os lugares”, e que “a busca incessante por respeito e humanização tem a ver com uma busca de existência na nossa resistência”.

A parada gay de São Paulo iniciou-se como uma concentração na praça Roosevelt, no centro, em 1996, acompanhando movimentos de globalização da política gay por meio de chamadas em jornais. Naquele momento, a pequena quantidade de pessoas que compareceram representaram o quanto a comunidade LGBTQIAPN+ no Brasil da época ainda era muito anônima. Ainda assim, o movimento já tinha um caráter forte e se espalhava pela cidade toda, principalmente, ocupando ruas dos Jardins – de acordo com Trindade, em “Construção de identidades homossexuais em São Paulo”. (Trindade, 2005). Ronaldo Trindade, inclusive, é Bacharel e Licenciado em História (pela UFPA), Mestre em História Social (pela Unicamp) e Doutor em Antropologia Social (pela USP). Ele é  autor de diversos artigos nas áreas de História, Antropologia e Estudos de gênero e sexualidade, além dos livros Homossexualismo em São Paulo e Outros escritos.

Fica transparente então como houve o nascimento desse movimento na cidade e de que forma ele ainda é refletido atualmente. Por mais que tenhamos observado dados um pouco assustadores, vale ressaltar: hoje, a Parada Gay em São Paulo, que acontece principalmente na Avenida Paulista, é a maior do mundo. Numa perspectiva mais ampla, o Brasil também é um dos países com o maior número de cidades participantes dessa manifestação. Ela carrega uma história repleta de marcos que envolvem a expressão e a libertação de uma comunidade extremamente oprimida e apagada no decorrer da história. 

Por isso, junho é um mês em que quem se sente de algum modo pertencente ao grupo LGBTQIAPN+ comemora com muita emoção. Porém nós entendemos que o respeito e o tratamento igualitário é algo que é necessário, claramente, a todos em todos os meses do ano. 

A questão de identidade de gênero e sexualidade é tão primária quanto a própria identidade dos seres humanos e sua  aprovação como parte de uma sociedade. Por esse motivo, a partir do século XXI, com a adesão da comunidade LGBTQIAPN+ à própria convenção social, aos poucos e dependendo da opressão de diferentes governos, é colocada em prática uma questão primordial de pertencimento. Como as pessoas carregam um caráter de fazer parte, é necessário fazermos justamente essas reflexões todos os dias, não apenas em junho, visto que a comunidade em sua total pluralidade é reconhecível e inteligível independente de sua expressão de gênero ou sexualidade. Com consciência e saindo de tabus, esse grupo se fortalece diariamente e pode reverter exemplificações extremamente duras do quanto é machucado em espaços ainda extremamente intolerantes. 

Feliz mês do orgulho! Em breve, voltaremos aqui para conversas com pessoas que possam nos trazer mais exemplos e experiências nesse sentido.

 

Texto: João Vitor Guimarães

Adaptação e foto: Luiza Lindner 

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