15/01 a 15/02
- No CCSPlay
- Classificação Indicativa: 16 anos
- Grátis
- Disponível 24 horas
No início dos anos 2000, paralelo à revolução digital, uma série de movimentos cinematográficos buscaram uma renovação em meio a um desarranjo do cinema contemporâneo e suas práticas mais tradicionais de realização. Movimentos que buscaram uma renovação estimulada pelos novos equipamentos digitais, e por uma grande vontade de realizar de artistas antes marginalizados pela dificuldade de acesso aos meios de produção. Nos Estados Unidos, tivemos o Mumblecore, na Alemanha, o Berliner Mumblecore, no Chile, o Post-Cine, na França, o Banlieue Cinema, e no Brasil, o Novíssimo Cinema Brasileiro.
Brigitta Wagner chamou esse novo fenômeno cinematográfico de No-Excuses Cinema, um novo momento com uma nova geração de jovens realizadores com fácil acesso às tecnologias de produção de imagem em movimento, desde câmeras fotográficas com funções de vídeo a telefones celulares e computadores pessoais com ilhas de edição e finalização. Mas o que mais a impressionou foram as possibilidades estéticas abertas por esta nova configuração, como se a união das tecnologias acessíveis e uma nova geração de realizadores ávidos, abertos à experimentação e sem medo de quebrar estatutos de dominância narrativa, estivessem criando novos horizontes de manipulação.
No Brasil, a partir de 2002, a identidade do cinema brasileiro mudou à medida que as políticas dos governos Lula / Dilma passaram a entregar uma prometida distribuição de recursos a serviço de um cinema diverso e verdadeiramente representativo. Não eram apenas políticas de continuidade ou o fortalecimento dos fomentos existentes; em vez disso, as políticas de financiamento atenderam às necessidades populares através do investimento em novas gerações e comunidades de realizadores, com a formação de jovens cooperativas de cinema em regiões com menos produções no Brasil: Ceará, Pernambuco, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e muito mais. As obras que começaram a surgir dessas iniciativas de coletivos e cooperativas – que incluem Filmes do Caixote, Alumbramento, Coletivo Guarani, Teia, Filmes de Plástico, Coletivo de Imagens, Ceicine, Filmes de Quintal, CUAL (Coletivo Urgente do Audiovisual), Mate com Angu, Filmes a Granel, Caboré, Surto e Deslumbramento, e uma série de outros grupos de filmes indígenas – são distintos no estilo e fortemente dedicados à expressão local de seus realizadores.
Além disso, o cinema brasileiro foi revigorado pelas inovações de um novo cinema negro inteiramente definido por suas próprias culturas e comunidades, estendendo temas e locais para além das fronteiras colonialistas; da mesma forma, houve o surgimento da produção cinematográfica indígena finalmente livre de estruturas antropológicas.
A Embaúba, é hoje, umas das principais distribuidoras de filmes brasileiros no país, não apenas pelo volume, mas por uma seleção de qualidade e ousadia, apostando em obras e artistas mais inovadores e desconhecidos.
A mostra Embaúba e o Novíssimo e Ousado cinema brasileiro seleciona uma série de filmes lançados e inéditos dos últimos dois anos.
FILMES
O dia da posse
Direção – Allan Ribeiro
Brasil, 2021, 70’
Sinopse: Brendo quer ser presidente do Brasil. Enquanto esse dia não chega, ele estuda direito, faz vídeos para as redes, sonha com novas conquistas e se imagina em um reality show, durante a pandemia.
Sobre o filme: Novo e inédito filme de Allan Ribeiro é capaz de transformar pequenas banalidades cotidianas em grandes paisagens cinematográficas, realizando um filme ao mesmo tempo particular e universal que reflete o nosso tempo enquanto sonha novos futuros para o país. Filme de Abertura do World Premiere – 10. Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, e Menção Honrosa do Júri Oficial do Festival do Rio – Mostra Novos Rumos.
Estamos te esperando em casa
Direção – Cecília da Fonte e Marcelo Pedroso
Brasil, 2021, 56’
Sinopse: Mais de 600 mil mortes. Um presidente negacionista que debocha da doença. Durante os mais de dois anos de Pandemia, os profissionais de saúde do país travaram uma luta diária. Para a terapeuta ocupacional Poliana, o trabalho consistia em manter a linha tênue que ligava a vida dos pacientes com a de suas famílias.
Sobre o filme: “Um filme que tem menos de uma hora de duração, mas que certamente ativa muitos gatilhos emocionais para quase todo mundo. Vemos imagens colhidas na primeira onda da covid-19, em 2020, e a personagem principal, por assim dizer, é irmã de um dos diretores, a terapeuta ocupacional Poliana, que tem o trabalho de entrar em contato pelo celular com os familiares de pessoas que estão na UTI, muitas delas às portas da morte; outras, conseguindo se recuperar. A maioria das imagens é feita pela câmera do celular, exceto as que apresentam a intimidade de Poliana, casada com um professor e mantendo contato à distância com os pais, idosos. É triste voltar no tempo, aos tempos de lockdown, mas é mais triste lembrar dos nossos amigos queridos que se foram pela doença.”
Eu, Empresa
Direção – Leon Sampaio e Marcus Curvelo
Brasil – BA/ MG, 2021, 82′
Sinopse: Um trabalhador informal enfrenta problemas financeiros e emocionais. Sem oportunidades decentes de trabalho, ele cria um canal no Youtube para tentar monetizar suas pequenas histórias de fracasso, enquanto presta serviços precarizados para empresas estrangeiras.
Sobre o filme: “Em ‘Eu, empresa’ há o escárnio do mundo contemporâneo que passou a curvar-se para um processo de ‘coachzação’: você deve ter o mindset certo, a postura correta, pensar positivo, ser o próprio chefe, ousado e ter personalidade. O personagem embarca no balaio sem um rumo concreto além das cifras e escancara alguns pontos basilares da falibilidade do meandro neoliberal e ‘meritocrático’. Melhor intérprete (Marcus Curvelo) e Melhor Roteiro no 1º Festival SatyriCine Bijou.”
Sementes: mulheres pretas no poder
Direção – Éthel Oliveira e Júlia Mariano
Brasil/ RJ, 2020, 105′, doc
Sinopse: Em resposta à execução de Marielle Franco, as eleições de 2018 se transformaram no maior levante político conduzido por mulheres negras que o Brasil já viu, com candidaturas em todos os estados. O documentário acompanha seis mulheres negras, em suas campanhas, mostrando que é possível transformar o luto em luta.
Sobre o filme: “Sob o impacto do assassinato de Marielle Franco, mulheres negras em várias partes do Brasil disputam as urnas nas eleições de 2018 para ocupar o Congresso Nacional e Assembléias Legislativas, com novas proposições do fazer político. O filme segue várias das candidatas ao longo da campanha, capturando momentos de intensidade e força de um coletivo a enfrentar a máquina da extrema direita que se apossou do cenário político e social brasileiro. Entre a observação discreta e o olhar poético sobre corpos e ações, ‘Sementes: Mulheres Pretas no Poder’ é um instantâneo de esperança e luta diante de um cenário catastrófico desenhado nos últimos anos.”
Breve história do planeta verde
Direção: Santiago Loza
Argentina/ Brasil, 2019, 75′, fic
Sinopse: “Nós somos um pouco estranhos”, diz Pedro na presença de Daniela e Tânia. Eles estão prestes a revelar para alguém o que há dentro da maleta que carregam: um alienígena do tamanho de uma criança, com coloração roxa e grandes olhos pretos. Os três amigos estão passando por uma fase de diversos desencantos em suas vidas e estiveram nos últimos dias seguindo um mapa deixado pela avó de Tânia, que acabou de falecer. Seu último desejo era de que o alien retornasse ao lugar onde aparecerá na Terra. Levemente surpresa, mas relativamente despreocupada com a descoberta de que sua avó passara os últimos anos de sua vida como cuidadora de um fofo alienígena, Tânia, uma mulher trans, embarca com seus amigos em uma jornada através de uma pequena cidade argentina. Com o desenrolar de sua viagem, o vazio emocional que vivem dá lugar a uma força recém-descoberta.
Sobre o filme: “Teddy Award de Melhor Longa-metragem no Festival de Berlim 2019. O corpo da mulher trans não é explorado por sua genitalidade, sua maquiagem, pelos olhares alheios. O corpo gay não se presta a qualquer tipo de idealização e promiscuidade, do mesmo modo que a mulher cis e hétero não se sente obrigada a se embelezar para os homens.”
Rua Guaicurus
Direção: João Borges
Brasil/MG, 2019, 75′, fic
Sinopse: A rua Guaicurus é uma das maiores zonas de prostituição do Brasil, localizada no centro da cidade de Belo Horizonte, desde os anos 50. Atualmente funcionam mais de 25 hotéis na região, com aproximadamente três mil trabalhadoras do sexo. O filme vai revelar este enorme complexo de prostituição por meio de situações que eclodem das relações entre suas personagens.
Sobre o filme: “Esses artistas próximos do naturalismo constatam que só se pode captar a vida através da representação. É com esse tipo de procedimento que se tem notabilizado a atual escola mineira de cineastas. É a ela que se pode acrescentar agora João Borges, cujo “Rua Guaicurus” é o primeiro, original e notável trabalho em longa-metragem. Notável, embora não raro desigual. Mas uma coisa não anula a outra.”
A Rainha Nzinga chegou
Direção: Júnia Torres e Isabel Casimira
Brasil/MG, 2019, 74′, doc
Sinopse: Antigos reinos, com suas coroas, séquitos e guardas, seus cosmos singulares, (re) existem hoje nas terras alhures das minas gerais. Três gerações de rainhas e uma travessia de volta, em visita aos domínios da mítica rainha Nzinga, e às terras dos reis do Congo, Angola, pelos descendentes da eterna Rainha da Guarda de Moçambique e Congo Treze de Maio, Isabel Casimira, presença central deste filme.
Sobre o filme: “A produção apresenta uma irmandade negra de caráter essencialmente religioso, que descende da espiritualidade e das normas praticadas há séculos por Nzinga, uma rainha e guerreira que viveu na África.”
Quem tem medo?
Direção: Dellani Lima, Henrique Zanoni e Ricardo Alves Jr.
Sinopse: A ascensão da extrema direita no Brasil a partir da perspectiva de artistas e suas obras censuradas. A partir de suas vozes, é composto um mosaico das consequências nefastas da ascensão do fascismo em nosso país.
Sobre o filme: “Quem Tem Medo?” é um documentário que registra os inúmeros casos de censura a artistas brasileiros em anos recentes, período no qual a extrema direita ampliou espaço político e social e, com isso, foi para cima de manifestações culturais que considerassem passíveis de proibição. Casos de grande repercussão envolvendo nomes como Renata Carvalho, Wagner Schwartz, Maikon K, José Neto Barbosa e as peças “Caranguejo Overdrive” (Aquela Cia de Teatro) e “RES PUBLICA 2023” (A Motosserra Perfumada) são abordados.
Pão e gente
Direção – Renan Rovida
Brasil, 2020, 60′, 12 anos
Sinopse: Em um beco sem saída, pessoas trabalhadoras narram uma história inspirada na peça teatral A Padaria, de Brecht. À medida que narram, a história é representada. Na história, o desemprego assola, a fome também. Ana é despedida e despejada pelo padeiro Massinha, que precisa reduzir os gastos. Ela precisa viver na rua com seus 7 filhos. Eugênia consegue um emprego. Ao fim, a mulher despejada se torna empreendedora. Mas a ilusão dura pouco, pois negociam e tomam seu patrimônio, a lenha para abastecer os fornos. Eugênia e os desempregados se revoltam e ameaçam a padaria. Massinha, seus funcionários e sublocatários defendem a propriedade. Um ensaio de despossuídos sobre o pão de cada dia.
Sobre o filme: “Pão e Gente” (Renan Rovida, 2021) se baseia no dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1848-1956) para tratar da fome e do desemprego no Brasil e mescla encenação e improvisação de um grupo de atores às margens de uma sociedade cada vez mais desigual.
A máquina infernal
Direção – Francis Vogner dos Reis
Brasil, 2021, 30′, 12 anos
Sinopse: Uma fábula sobre o apocalipse da classe operária.
Sobre o filme: “A Máquina Infernal”, curta de estreia do roteirista Francis Vogner Dos Reis, reimagina a falência de uma fábrica do ponto de vista do empregado, trocando o realismo por um clima de puro terror. O filme foi uma das duas produções brasileiras selecionadas para o Festival de Locarno deste ano, figurando na seção internacional da Leopardos do Amanhã – principal mostra competitiva de curtas do evento.