Mostra Abô.Lição | Cinema | Programação

de 10 a 25 de junho
na plataforma Spcine Play
gratuito

A partir da programação “O Dia Seguinte”, que ocupou o Centro Cultural São Paulo em maio, a mostra de curta-metragens “Abô.Lição” constrói uma trajetória audiovisual de diálogos para pensar os processos sociais, raciais e culturais que se iniciam após a falsa abolição da escravatura.

A mostra de filmes é organizada a partir do ano de 2013, marco de uma série de filmes que se entendem, se enunciam ou são recebidos dentro dos campos do cinema e audiovisual negros-as-es no Brasil.

A mostra também se pauta em filmes produzidos, com a licença da gigante Beatriz Nascimento, em contextos e desejos de “aquilombamento”. A ideia é trazer símbolos e narrativas de ancestralidade, de herança e de diáspora negra a partir do cinema e do audiovisual. São 15 filmes, agrupados em 4 diferentes programas, que estarão disponíveis gratuitamente até o dia 25.

PROGRAMAÇÃO

PROGRAMA 1

Mato Adentro
São Paulo, 2019, 19 minutos.
Direção: Elton de Almeida
1870. São Paulo é uma província antes de ser São Paulo cidade. Amadi, um homem igbo escravizado, foge à procura de um suposto quilombo. Perseguido por dois capitães-do-mato, talvez nas matas por onde caminham exista um refúgio que, por ser refúgio, não se faz lugar ameno, sendo lugar onde atlântico e atlântica se encontram.

Teatro Hacker sem Cortes para Cyberiun
Pernambuco, 2017, 8 minutos.
Direção: Biarritzzz
Artista propositiva do termo tranzcinema Biarritzzz constrói neste projeto uma interessante encruzilhada entre o cinema, a hipermídia e as estéticas digitais como a de gifs que, assim, extrapolam os limites do discurso decolonial, ou mesmo anti-colonial, para criar formas livres, inconstantes e disruptivas de formulação de reflexões que nascem mergulhadas em sua própria época.

Caixa D’água Qui-lombo é esse?
Sergipe, 2013, 15 minutos.
Direção: Everlane Moraes
Como num tear de duas linhas do tempo o paradigmático documentário dirigido por Everlane Moraes formula e reformula registros que repousam sobre a história do bairro Getúlio Vargas, na capital Aracaju, de modo a reconstituir o passado escravocrata que assombra a região enquanto filmam-se camadas de um dia a dia atual, contemporâneo e, mesmo depois de séculos, ainda negro, que mesmo escravizado, ainda se faz quilombo.

O Túmulo da Terra (Pretusi)
Rio de Janeiro, 2021, 12 minutos.
Direção: Yhuri Cruz
Partindo de categorias da imagem cinematográfica tais como o universo “expressionista” do cinema silencioso, o filme inspirado num poema do diretor propõe a elaboração de um mito que funda seus procedimentos num raro sentido de invenção que se desprende de signos previamente preparados. Mais do que interpretar este filme, é fundamental vibrá-lo.

PROGRAMA 2

Pontes sobre Abismos
Rio de Janeiro, 2017, 9 minutos.
Direção: Aline Motta
Fazendo da imagem tessitura e retalho esta vídeo-instalação/filme de Aline Motta busca remontar histórias e presenças da família enquanto se defronta com a inevitável impossibilidade de existência dessas imagens. E se é impossível dar ver, ao menos é possível permitir que aqueles e aquelas despossuídos de suas imagens possam, pela câmera, ter olhos pra enxergar.

Morde e Assopra
Minas Gerais, 2020, 10 minutos.
Direção: Stanley Albano
Com gestos de uma presença sublime e de uma delicadeza cínica, este filme registra a deliciosa destruição de símbolos e construções forjadas no sangue e na dor dos lastros escravocratas brasileiros.

Essência Floral
Espírito Santo, 2016, 7 minutos.
Direção: Castiel Vitorino Brasileiro
Na linha do tempo corpo que vira flor que vira cura. Mas quem disse que curar não arde? Neste registro surrealista, ou sobrerrealista, Castiel Vitorino Brasileiro e equipe constroem um não filme fílmico, um não cinema cinematográfico, uma transição em plano único do corpo que é matéria para a matéria do corpo. Em algum lugar, em alguma medida, é preciso deixar de ser só carne.

Experimentando o Vermelho em Dilúvio
Rio de Janeiro, 2016, 10 minutos
Direção: Musa Mattiuzzi
Extrapolando os limites da performance, da ficção e do documentário, este curta-metragem assujeita a câmera aos efeitos das dores e cicatrizes causadas por séculos de escravocracia no Brasil. Destituindo todos os discursos pelo impacto da imagem, o que se vê aqui não é pra olhos confortados na democracia racial, não é pra olhos que desejam apaziguamento. Vermelho sangue, vermelho vivo. Esse filme é sangue no olho.

PROGRAMA 3

A Morte Branca do Feiticeiro Negro
Santa Catarina, 2020, 10 minutos
Direção: Rodrigo Ribeiro
No gesto de enunciação do indizível o filme se apropria de uma carta escrita por um homem negro escravizado no período do Brasil Colônia para reconstituir e driblar os limites impostos pelas formas do documento e da memória como medidas oficiais de uma existência traumática. Mais do que reconstruir as ruínas da memória, o filme parece desejar erguer novas vilas.

Looping” (Entre o azul e o que não me deixo/deixam esquecer)
São Paulo, 7 minutos.
Direção: Juliana dos Santos
Nem tudo é corpo, parece dizer o filme dirigido por Juliana dos Santos. A partir da cor azul, que pode ser também muito mais do que cor, o curta-metragem ativa processos subjetivos de consciência e inconsciência sobre o azul que, diante do preto, pode dar vários tons de preto ao azul e de azul ao preto. Tem que ver pra sentir, mas tem que sentir pra sentir também.

Liberdade
São Paulo, 2018, 25 minutos.
Direção: Vinícius Silva e Pedro Nishi
A partir da história do bairro da Liberdade, região central de São Paulo, os diretores Vinícius Silva e Pedro Nishi constroem um filme que reacende as luzes sobre a história negra de um bairro que, ao longo dos séculos, teve sua história africana cimentada e, em seguida, apagada pela especulação produzida ao reboque da imigração das comunidades japonesa, chinesa e coreana para o local. Fantasmas, vultos e ancestralidades ali se encontram por esquinas invisíveis.

PROGRAMA 4

Travessia
Bahia, 2015, 5 minutos.
Direção: Safira Moreira
Neste curta-metragem documental o gesto central do filme tenciona também um dos traços mais cínicos do processo de escravatura no Brasil: a ausência de imagens. Como dar imagem a quem não a possui? parece ser a pergunta central do filme dirigido por Safira Moreira.

Cartuchos de Super Nintendo em Anéis de Saturno
Ceará, 2018, 19 minutos.
Direção: Leon Reis
A ancestralidade negra tem muitas formas, para muitas gerações diferentes, e nem por isso deixa de ser ancestralidade. Neste curta-metragem que por vezes é um jogo, por vezes é uma história de super-heróis, por vezes justamente por ser as duas coisas é o retrato mais realista da vida de um jovem negro brasileiro.

Sample
São Paulo, 2018, 15 minutos.
Direção: Ana Júlia Travia
Uma noite de encontro e festa se transforma num manifesto da juventude negra vivendo numa das cidades que mais se beneficiaram do período escravocrata no Brasil. Ser vida e ser fantasma, falar sobre os rolês e sobre como o Vale do Anhangabaú era uma região de fazendas e senhores de engenho, tudo ao mesmo tempo. Sample, recorte, excerto, vivendo uma vida que são várias no mesmo beat.

Esperança 1770
Maranhão, 2019, 16 minutos.
Direção: Carmen Kemoly
Curta-metragem em formato documental que registra e reconta a história da primeira advogada negra do Brasil, Esperança Garcia, mulher símbolo da luta abolicionista e invisibilizada pela história do Brasil e do direito brasileiro.

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