ONDE HABITA A MINHA PELE | Por Lino Calixto
Trabalho nasce do encontro confinado de três artistas transvestigeneres que desvendam em suas trajetórias as narrativas gritadas pelos próprios corpos.
Desvendar em si, no espaço e no outre a relação com o corpo e suas lutas e leituras. Ao vivermos em uma sociedade que estetiza nossa forma de ser para caber no cistema binário e opressor, destruímos aquilo que nos foi imposto e nos remoldamos para caber em nós mesmos com as ferramentas que encontramos pelo caminho. Em busca de nossa liberdade ainda caímos em novos aprisionamentos.
Na quarentena, em solitude nos reencontramos e nos buscamos no escuro. E decidimos a cada dia como nos apresentar e nos moldar nessa guerra.
Fotografias: Rafa Kennedy
Por Larissa Cemitério
O corpo em que hAbito repleto de desejos repetitivos que degenera ou causa algum prejuízo ao viciado e aos que com ele convivem; eu mesma.
Assim como qualquer entorpecente venho por meio desta performance trazer a realidade dentre corpos trans viciados no desejo de parecer algo, trago a imagem desses que resolvem se envenenar por meio de hormonios
Caindo em um vício não só físico como psicológico. Entre seringas e comprimidos, vivendo de forma “artificial” justamente por causa de uma sociedade plástica, tentamos a todo tempo e buscamos com desejo e gana o pertencimento, uma imagem, alimentando não a nós mesmas e sim uma uma sociedade que nos cobra isso a todo tempo; o de se parecer pra pertencer, o de se parecer para de fato ser. E de carro em carro, atrás do dinheiro do meu vício, eu sigo mais uma vez, ganhando o mínimo possível pra suprir a necessidade do meu corpo viciado.
Sendo empurradas à isso para nos enquadrarmos e conquistarmos o mais próximo possível a um corpo binário; mas a noite, no escuro, essas questões sempre caem por terra. Costumo dizer que a luz do dia é a maior julgadora de nossos corpos. Nossos corpos não são aceitos a luz do dia, a luz natural, só na luz artificial entre quatro paredes que foi o lugar em que sempre nos colocam. Quando o meu processo de entendimento ficou mais claro sobre o que de fato eu era, eu passei a viver no breu, esse mesmo breu que me conforta, me esconde e que me acolhe. Afinal a noite, tudo é possível, você pode ser quem quiser, sem julgamentos, sem precedentes.
Em contra partida, não serei hipócrita a ponto de dizer que abomino o uso dessas substâncias, até por que eu mesma faço uso, mas venho mostrar por meio deste ato a auto-multilação que somos obrigadas à nos submetemos desnecessariamente em busca de um corpo estereotipado sempre nos obrigaram a ter.
Por fim fazendo uma terapia hormonal, que pra mim é um vício como qualquer outro, se não pior… Fazendo com que tenhamos medo e disforias do nosso próprio corpo, medo de enfrentar uma sociedade que nos mata, mas também nos procura o tempo inteiro.
@k_calixto_
Lino Calixto é paraense, ator, performer, modelo e agente cultural . Formado em 2018 em Artes Cênicas pela Unicamp. O artista pesquisa a relação do corpo e da vivência individual na construção da memória e registro do imaginário coletivo. Desenvolvendo as bombas-narrativas poéticas que são registros míticos das vivências em disputa.
@larissacemiterio
Larissa Cemitério é uma travesti multi artista carioca. Seu objetivo enquanto artista é trazer questionamentos sociais relacionados ás suas disforiais pessoais tanto fisicas quanto mentais, transitando entre o caos e a paz, ela te possibilita sensações entrando em questões profundas, fazendo você se auto questionar do seu posicionamento social o tempo inteiro.
@xantanaxantara
Xantana Travexy Xantara, artista cubatense. Atua enquanto artista transmidia nas áreas das artes digitais, plásticas, performance e literatura. Seu trabalho tem como base a produção de terrorismo artístico, partindo de um processo travestigenere tecno-anticolonial.
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