A arquiteta Lina Bo Bardi foi reconhecida postumamente com o Leão de Ouro, o prêmio mais importante da Bienal de Veneza, pelo conjunto de sua obra. O anúncio, feito na segunda (8/3), apenas reforça a preciosidade do evento: é a primeira vez que uma mulher brasileira é reconhecida pela premiação e, mundialmente, é a primeira vez que uma mulher com obra construída é premiada na categoria.
Lina Bo Bardi é natural da Itália, tendo se formado na Universidade de Roma. Ainda na Itália, a arquiteta teve grande atuação política na resistência contra os alemães durante a segunda guerra. Nesse mesmo período chegou a ter seu escritório de arquitetura bombardeado e conheceu seu marido Pietro Maria Bardi, com quem veio para o Brasil em 1946.
Bo Bardi naturalizou-se brasileira em 1951, encantada com o nosso país. Foi por aqui que Lina adquiriu referências para transformar sua narrativa e sua criatividade em emblemáticas e memoráveis construções. O diferencial de suas obras reside na simplicidade e na objetividade da arquitetura: para além da concepção do prédio, Lina arquitetava também uma ambientação que favorecesse o convívio e o encontro entre pessoas e das pessoas com a arte.
De seu legado inestimável destacam-se construções familiares como o MASP (SP), o SESC Pompéia (SP), o Teatro Oficina (SP), a Casa de Vidro (SP) e o Solar do Unhão (BA), no que tange à arquitetura. Mas Bo Bardi não restringiu sua atuação a apenas uma área: seus trabalhos também incluem a cenografia, as artes plásticas, o desenho de mobiliários e o design gráfico.
A pluralidade e versatilidade dessa artista, bem como sua atenção com o acolhimento na arquitetura, foi o que motivou sua vitória na Bienal de Veneza – cujo tema é justamente “Como viveremos juntos?”. Como o arquiteto responsável pela premiação, Hashim Sarkis, disse:
“Se há alguém que encarna perfeitamente o tema da Bienal de Arquitetura 2021, esse alguém é Lina Bo Bardi. Sua carreira como designer, editora, curadora e ativista nos lembra do papel do arquiteto como convocador e, mais ainda, como construtor das visões coletivas. Lina Bo Bardi também exemplifica a perseverança do arquiteto nos tempos difíceis, seja durante guerras, lutas políticas, ou em conflitos de imigração, e também a habilidade que é preciso ter de se manter criativo, generoso e otimista”. (em tradução livre, retirado do site da Bienal de Veneza)
O CCSP saúda a memória e os feitos desta multiartista, brasileira de coração e alma, que contribuiu largamente para a história da arquitetura.
Foto: Lina Bo Bardi na Casa de Vidro (Francisco Albuquerque)