Escrevivendo na Pandemia

Intelectuais, pensadores e filósofos dos mais variados lugares do mundo se reuniram na produção de um livro chamado Sopa de Wuhan - Pensamento contemporâneo em tempos de pandemia. O que nos grita, a princípio, é o título absolutamente equivocado para uma publicação com a intenção de complexificar e entender o mundo sob efeito da pandemia. Além de contrariar a OMS, que procura nomear as doenças de forma técnica, para não associá-las pejorativamente a alguma região do mundo, o título nos diz muito sobre certa pretensão ocidental de explicar o outro por seus hábitos, sempre numa chave de barbarismo e exotismo.

Com esse projeto, criamos um ponto de tensão com as pretensões - brancas e europeizantes - de universalizar os problemas de um momento tão delicado. Resolvemos pelo brilhante neologismo “Escrevivência” de Conceição Evaristo para conduzir e tematizar as autoras e autores.  Produzimos escritos da margem. Da marginalidade periférica com que nos caracterizam pejorativamente e que se transforma numa de nossa armas epistêmicas mais poderosas.

Pensadorxs, escritorxs, artistas e intelectuais são convidadxs do Centro Cultural São Paulo para dar sua contribuição na descrição, análise e formulação da realidade em que a pandemia nos encerra. A beleza dos textos está em sua variedade e multiplicidade de olhares; Ficcionais, ensaísticos, poéticos, visuais... ao sabor da autoria e da vivência experienciada por cada um. 

Para tornar o processo ainda mais relevante, cada uma das publicações traz ilustrações do artista plástico Robinho Santana, que capturou com suas cores parte da personalidade dessas autoras e autores.

Temos uma reflexão de largo fôlego sobre nossa persistente presença, criando sentidos coletivos para uma realidade que mais parece um futuro distópico. Certamente não apresentaremos respostas definitivas a nossas angústias, mas com certeza traremos ferramentas para melhor enfrentá-las.