O curador de teatro do CCSP, Kil Abreu, indica três séries de podcasts nos quais é possível viver a experiência teatral por meio do som.
Podcasts
Faxina
O Faxina é um projeto que tem entre suas mentoras a atriz brasileira, paraense de Belém, Heloiza Barbosa, radicada nos Estados Unidos. Hoje doutora em educação e audio-documentarista, Heloiza passou a mesma saga pela qual muitas/os trabalhadoras/es latinas/os passam na América, como faxineiras/os. Por isso decidiu retratar nesta série um pouco da vida de imigrantes brasileiros que fazem faxina para sobreviver nos Estates. Os roteiros são feitos junto com os retratados. São perfis profundamente empáticos, ternos e bem humorados, que desenham em ótimas narrativas histórias exemplares sob este ponto de vista, do estrangeiro – de como, lá, nesta situação ele vê e é visto. Iluminações do que chamamos sobrevivência e também relações de poder e afeto. O primeiro episódio, por exemplo (Um Coisinha chamado Samuel) é sobre Samuel Andrade, que migrou de Carmo do Rio Verde (interior de GO) para os EUA há 16 anos e para “vencer” inventou – pode-se dizer, teatralmente – um personagem, o Coisinha.
A primeira temporada foi bancada por campanhas de financiamento coletivo e com apoio dos estúdios da PRX/NPR (Public Radio Exchange e National Public Radio, dos EUA). Além de Heloíza, a equipe de produção conta com Adam Gamwell (antropólogo e áudio-documentarista), Diogo Saraiva (historiador, tradutor, e músico), Paulo Pinheiro (músico), Valquiria Gouvea (historiadora e professora), com a colaboração de Giovana Romano Sanchez (jornalista e áudio-documentarista).
Que dia é hoje?
Esta série em dez episódios, com dramaturgia e direção de Vinícius Calderoni, apresenta-se com a missão de “aproximar em tempos de distanciamento” através de “flagras ficcionais do absurdo da vida na pandemia”. O flerte com o nonsense, uma das marcas na escrita do autor, a coloca em um lugar especial na abordagem deste momento terrível na vida coletiva. É que o tema dramático encontra atalhos próprios para bonitos suspiros líricos, para a ironia ou o humor. No episodio de abertura, por exemplo, o ator Marat Descartes personifica um elemento central na trama do isolamento: o álcool gel, que convoca uma entrevista coletiva. No segundo, com Alexandre Nero e Gabriel Leone, um Shakespeare revivido vem falar com um quase-escritor durante a quarentena. Em outro, Gregório Duvivier, Helô Cintra e João Castilho Maia vivem um casal e um filho que entram em crise durante o isolamento. E por aí vai.
Além do elenco excelente a produção é caprichada, com ótimo acabamento sonoro. Arthur Decloedt assina a trilha e edição de som.
Spoilando a peça
Primeira temporada, com quatorze aúdios em torno de uma hora cada. É uma série documental sobre dramaturgias teatrais feitas por mulheres (cis e trans). A diretora e escritora Belise Mofeoli conversa com autoras de teatro. Nas entrevistas, no entanto, a ideia não é esconder e sim spoilar mesmo, revelar o de dentro dos textos bem como o entorno, os bastidores de cada criação dramatúrgica, quase sempre à parte da montagem, exceto no caso de textos produzidos em sala de ensaio. É um ótimo registro de vozes emergentes e veteranas da dramaturgia em São Paulo e sobre seus processos criativos singulares. Participam neste primeiro momento: Silvia Gomez, Carla Kinzo, Michelle Ferreira, Dione Carlos, Claudia Barral, Renata Pallottini, Ave Terrena, Vana Medeiros, Luh Maza, Maria Shu, Angela Ribeiro, Lucienne Guedes Fahrer, Solange Dias e Carol Pitzer.
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