A ideia da série Diálogos entre acervos é criar pontos de contato entre os livros do acervo da Biblioteca (especialmente da Alfredo Volpi) e as obras das coleções mantidas pelo CCSP. No mês de julho, destacamos o contexto de efervescência do movimento conhecido como Pop Art, suas reverberações na produção artística mundial desde os anos 1950 até hoje (especialmente no contexto brasileiro) e as influências perceptíveis dessa estética em obras presentes no acervo da Coleção de Arte da Cidade.
Em meados da década de 1950, na Inglaterra e nos Estados Unidos, surge um movimento estilístico conhecido como Pop Art ou Arte Pop, em que os artistas defendem uma arte popular (pop) que se comunique por meio de signos e símbolos retirados do imaginário da cultura de massa e da vida cotidiana. Portanto, trata-se de uma produção artística que traz a junção entre arte e vida pela incorporação das histórias em quadrinhos, da publicidade, das imagens televisivas e do cinema.
Em um século marcado pelas vanguardas artísticas europeias, que reverberaram por todo o mundo, a Arte Pop retoma – a seu modo – o pensamento figurativo e realista do manifesto de Gustave Courbet, de 1861. Roy Lichtenstein, um dos expoentes do novo movimento, dizia que “Fora está o mundo, está lá. O olhar da Arte Pop entra nesse mundo”. A vida presente é a base para o pensamento plástico. A Pop Art nasce em Londres e Nova York, em meio à efervescência de duas metrópoles que se anunciavam culturalmente para o mundo no século 20. Desse modo, está enraizada no meio urbano:
“O pop contempla aspectos especiais daquele ambiente, aspectos que por suas associações e nível cultural pareciam à primeira vista incompatíveis com temas para arte. Esses temas eram quadrinhos e revistas ilustradas; anúncios e embalagens de toda espécie; o mundo do espetáculo popular, incluindo o cinema de Hollywood, a música popular.” (trecho do livro A arte pop, de Simon Wilson, que está disponível na Coleção de Artes Alfredo Volpi do CCSP).
A nova expressão artística buscava inspirações na cultura de massa e no gosto popular, aproximando-se e, ao mesmo tempo, mostrando de maneira irônica a vida cotidiana materialista e consumista da sociedade a partir de procedimentos com signos estéticos da publicidade, quadrinhos, ilustrações.
Andy Warhol, artista de destaque da Pop Art americana, mostrou sua concepção da produção mecânica da imagem numa série de retratos de ídolos da música popular e do cinema, entre eles Elvis Presley e Marilyn Monroe. Utilizando, sobretudo, a técnica de serigrafia, destacou a impessoalidade do objeto produzido em massa para o consumo, como as latas de sopa Campbell, automóveis, etc.
Os artistas utilizavam a técnica de repetir várias vezes um mesmo objeto com cores diferentes. O uso de materiais como tinta acrílica, poliéster e látex produziam cores vivas e fosforescentes inspiradas na indústria e nos objetos de consumo. A colagem – tão frequente nas produções que se desenvolveram nas vanguardas europeias, como o Surrealismo – aparece nas obras de diversos nomes, entre eles o britânico Richard Hamilton, considerado o precursor da Arte Pop na Inglaterra – autor da famosa colagem O que exatamente torna os lares de hoje tão diferentes, tão atraentes? (1956).
Aliás, é fundamental citar que a Pop Art buscou várias de suas ideias e atitudes em movimentos de arte do começo do século 20. Logo:
“A atitude irreverente do dadá, assim como sua disposição de aceitar quase tudo na esfera da arte, certamente ajudou no desenvolvimento da arte pop. O dadá também popularizou várias técnicas que foram mais tarde adotadas por artistas pop.” (trecho do livro Arte pop, de David McCarthy, que está disponível na Coleção de Artes Alfredo Volpi do CCSP).
No Brasil, os anos de 1960 foram de grande efervescência para as artes plásticas no País. Com os crescentes meios de comunicação de massa, diversos artistas absorveram os procedimentos e as técnicas da Pop Art, como o uso das impressões em silk-screen e as referências aos gibis. Entre os nomes estão Claudio Tozzi e Wesley Duke Lee. Décadas após a eclosão do movimento, que expandiu sua estética para além da Inglaterra e dos Estados Unidos, podemos associar a influência da Arte Pop em produções de artistas contemporâneos do Brasil e do mundo.
Leda Catunda é uma representante do pop da nova geração. Com uma produção que se estende para novas técnicas e linguagens, a artista paulista absorve o que está por trás da cultura de massa e da iconografia da internet. Catunda tem na Coleção de Arte da Cidade do CCSP sua obra Entrelaçamento, de 2003. O trabalho – em guache, papel e tecido colado sobre papel – remete às histórias em quadrinhos, num procedimento que talvez seja o mais central na trajetória da artista.
A obra Sem título, de Alex Vallauri, considerado um dos pioneiros do grafite no Brasil, traz a linguagem gráfica da Pop Art, utilizando fragmentos do corpo humano. Vallauri explora, ao longo de sua produção, a iconografia que faz menção à cultura de massa dos anos 1950. O trabalho também pertence ao acervo do CCSP.
Antonio Dias tem, no acervo, The desert – Let it absorb, da década de 1970, que integra uma série significativa para o desenvolvimento da poética do artista. A serigrafia sobre papel, que instiga pela textura dos materiais que a compõe, faz parte de produções que incorporam palavras ou frases às obras, característica de diversos trabalhos americanos e ingleses da Pop Art.
Texto: Danilo Satou
Ilustração da capa: Beatriz Vecchia
Colaboração: Supervisão de Acervo do CCSP