Axexê da Negra ou o Descanso de todas as pretas que mereciam ser amadas

11/03

  • Sábado, às 16h
  • No Piso Caio Graco 
  • Classificação Indicativa: livre
  • Grátis
  • Não é necessária a retirada de ingressos 
  • É recomendado o uso de máscara

No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, a artista visual Renata Felinto apresenta a performance “Axexê da Negra ou o Descanso de todas as pretas que mereciam ser amadas”. Num rito simbólico e poético a artista faz uma reverência a todas as negras que durante o Brasil colonial e império foram amas e mães pretas de brancos/as da elite escravocrata brasileira, e enterra essas mulheres negras registradas em fotografias, bem como a reprodução da obra “A Negra” de Tarsila do Amaral, de 1923.

Axexê da Negra ou o descanso de todas as pretas que mereciam ser amadas, por Renata Felinto. 
Somente num país que naturaliza o racismo, como o Brasil, um dos seus maiores ícones na arte poderia ser o retrato de uma ama de leite. Isso diz muito sobre nós.

O Axexê é uma cerimônia fúnebre de extrema complexidade realizada para um/a praticante adepto/a das religiões afro-indígenas falecido/a, no qual é desfeito o ritual realizado na iniciação dessa pessoa. Ou seja, o corpo sacralizado é dessacralizado e tal processo inclui a entrega de pertences pessoais do/a falecido/a que são utilizados dentro do culto, juntamente com músicas, danças, consulta ao Ifá (jogo de búzios), desfazimento do assentamento (ou não), banhos, dentre outras práticas.

Com o devido respeito ao Candomblé e seus/suas adeptos/as, nos apropriamos da palavra e de sua conceituação de forma artística a fim de homenagear e realizar o desligamento espiritual de todas as negras que durante os períodos Colônia e Império da História do Brasil foram amas e mães pretas de brancos/as da elite escravocrata brasileira.

Na performance, resgatamos imagens de mulheres negras que serviram a essa violência e as enterramos juntamente com uma reprodução da obra “A Negra” (1923), de Tarsila do Amaral (1886-1973), que representa um dos pontos altos da atualização estética das artes visuais brasileiras do início do século XX. “A Negra” revoluciona o campo da representação do feminino na arte brasileira na medida em que não traz a mulher no lugar comum da fragilidade, sensualidade ou maternidade, pois elas estavam reservadas às representações de brancas. Às negras cabiam representações de ofícios de rua, como quitandeiras, ou a partir do uso dos corpos e de uma suposta sexualidade “selvagem”. Em relação à maternidade, existem algumas representações das amas e mães pretas de forma compulsória e artificial, as quais a leitura sociológica mais romantizada eterniza como relações de afeto entre negras e crianças brancas [1].

A performance enterra as negras registradas em fotografias e imagens nas quais repousam instantâneos de vida que, assim como “A Negra”, possuem olhares perdidos no vazio, vidas raptadas e violentadas das mais brutais maneiras possíveis de se imaginar.
Enterramos essas mulheres que mereciam ser amadas em corpos/almas, juntamente com os estereótipos construídos/fortalecidos a partir do uso das imagens do/a/s negro/a/s, como elementos decorativos nas casas das famílias tradicionais brasileiras detentoras da riqueza/dinheiro deste país. Enterramos o modernismo enquanto o mais importante momento das artes visuais no Brasil. Num movimento antropofágico, devolvemos à terra simbolicamente essas imagens, terra na qual pisamos e que nos devolve vitalidade, energia e crença na continuidade.

[1] Ver Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal (1933), de Gilberto Freyre.

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