Parabéns, CCSP!

Maio é mês do CCSP soprar velinhas. Inaugurado em 1982, o equipamento nasceu e cresceu como um polo de promoção e divulgação de múltiplas linguagens artísticas, culturais e educativas. Sua localização estratégica no centro da cidade de São Paulo também não é por acaso: foi escolhida para acolher o vasto público da capital e proporcionar acesso livre e gratuito a uma ampla variedade de manifestações culturais. Hoje, completando seus 42 anos, o CCSP já faz parte de muita gente. 

Um dos aspectos centrais do projeto do Centro Cultural é a arquitetura, idealizada pelos arquitetos Luiz Telles e Eurico Prado Lopes. Horizontal e transparente, em contraponto com verticalidade e opacidade da cidade grande, o prédio se desenvolve a partir da figura inicial de um barco. Luiz Telles, quando perguntado sobre a escolha do formato, explica que o próprio terreno, com um desnível de aproximadamente 10 metros de altura e de característica longitudinal, sugere a figura do barco: “existe uma curva da Vergueiro e uma curva de 23 de maio, diferentes”. Essa integração do projeto com as condições geográficas originais do território se soma à simbologia da transparência, horizontalidade e comunicabilidade dos espaços. É como um convite: entre, participe, faça casa. É essa poeticidade, presente na própria materialidade arquitetônica, que faz o CCSP ser o que é.

De alguma forma, esse espírito acolhedor também se apresenta em forma de agenda, de programação. Funcionando de maneira multidisciplinar e integrativa, a instituição oferece uma diversidade de atividades e de artistas para um público variado, semana a semana, o que inclui exposições, oficinas, sessões de cinema e espetáculos de dança, teatro, música, literatura entre outras linguagens. Além do mais, a Folhetaria Ateliê Público, o Láb Rádio e o Lab Foto proporcionam aos visitantes a oportunidade de serem além de telespectadores, mas também criadores; para isso, oferecem uma ampla estrutura pública com os equipamentos e infraestrutura necessários. Visitas mediadas oferecidas pela Ação Cultural do CCSP, ainda, permitem que escolas, universidades, pesquisadores e demais interessados possam conhecer o espaço em todos os seus andares.

Há também a ocupação orgânica do público, que já é rotina nos espaços de convivência: os ensaios de dança pelos corredores, os jogos de xadrez, os encontros de pessoas que andam de maneira imaginativa pelo jardim suspenso. A força de encontro é o que integra e o que dá significado prático à transparência e horizontalidade da arquitetura.

Sabe-se que o marco zero conceitual do que viria ser o CCSP é o projeto de uma biblioteca pública. Inicialmente, o terreno delimitado pela Avenida 23 de Maio, a Rua Vergueiro e os viadutos João Julião e Paraíso fora doado pelo prefeito Olavo Setubal ao Departamento de Bibliotecas Públicas do Município de São Paulo para a construção da Nova Biblioteca Central-Vergueiro. Apenas anos mais tarde, com a construção do edifício já em andamento, o projeto arquitetônico foi reformulado para adaptar o edifício da Biblioteca Central e transformá-lo no Centro Cultural São Paulo. É simbólico que, de alguma forma, o CCSP tenha surgido dos livros, de histórias, de conhecimento e imaginação. E também da transformação, da ressignificação, de um outro espaço.

Hoje em dia, com o ambiente expandido e atravessado por inúmeras outras atividades, e portanto, por histórias, a instituição abriga a segunda maior biblioteca da cidade, a Sérgio Milliet, que possui mais de 110 mil títulos interdisciplinares e, dentro dela, a Alfredo Volpi, que abriga o acervo de artes proveniente da Biblioteca Mário de Andrade e do Departamento de Informação e Documentação Artísticas (IDART). Além disso, há a biblioteca Louis Braille, especializada no atendimento de pessoas com deficiência visual, que reúne cerca de cinco mil títulos em braille e audiolivros, além de oferecer recursos específicos de acessibilidade. A Gibiteca Henfil, por fim, se junta ao complexo com um acervo focado em quadrinhos, gibis, periódicos e livros sobre HQ.

Somando às bibliotecas, também há cinco acervos de obras e objetos históricos que representam a história e a diversidade cultural tanto em nível institucional, como é o caso do Núcleo de Memória do CCSP, quanto a nível municipal, como é o caso Coleção de Arte da Cidade, e nacional e internacional, como é o caso do Missão de Pesquisas Folclóricas de Mário de Andrade, do Arquivo Multimeios e da Discoteca Oneyda Alvarenga. Cada um desses acervos tem sua particularidade: se, por exemplo, o Núcleo de Memória do CCSP se volta para a história da própria instituição, construindo um acervo de aproximadamente 50.000 documentos entre fotografias, registros sonoros, cartazes, programas, vídeos, premiações etc. dos principais eventos e acontecimentos realizados na instituição desde sua fundação; a Coleção de Arte da Cidade reúne, cataloga e expõe as obras de artistas nacionais e estrangeiros pertencentes ao patrimônio do município de São Paulo; a Missão de Pesquisas Folclóricas agrupa uma grande diversidade de instrumentos musicais, objetos de culto, peças utilitárias, fotos, reproduções de desenhos, gravações musicais e filmes que foram coletados durante a Missão de Pesquisas Folclóricas realizada no Norte e no Nordeste do Brasil; o Arquivo Multimeios é um depositário das pesquisas, documentações e registros de eventos produzidos pelos pesquisadores do Departamento de Informações e Documentação Artísticas – IDART; e a Discoteca, enfim, é um centro de informação especializado em música, reunindo discos de 78rpm, 45 rpm, 33rpm e CDs, além de partituras, métodos, periódicos, hemeroteca de música popular, folclórica e erudita, de procedência nacional e estrangeira. Associado a isso, há o Laboratório de Conservação e Restauro, que tem como objetivo principal garantir a conservação e a preservação dos acervos do CCSP, além de tratamentos específicos de encadernação dos livros pertencentes às bibliotecas. E é assim, com a diversidade de narrativas, pontos de vista e manifestações culturais, bem como a constituição de um organismo multifuncional que se salvaguarda e se restaura, os acervos não apenas preservam a memória, como também promovem encontros entre diferentes tempos e espaços. Uma horizontalidade, também. 

Para dar ligação, funcionalidade e, mais importante, vida a todo esse organismo, é preciso tanto de uma equipe de funcionários bem capacitada e bem gerida quanto de um público engajado. Se mantivermos a metáfora do barco em mente, para além de sua estrutura física e estrutural, é preciso de uma tripulação e de uma bússola. Nesse sentido, no que diz respeito à tripulação de funcionários do CCSP, é importante destacar a divisão organizacional da instituição que inclui a Supervisão de Ação Cultural, a Supervisão de Acervo, a Supervisão de Bibliotecas, a Supervisão de Curadorias, a Supervisão de Gestão, a Supervisão de Informação e Comunicação, a Supervisão de Produção e o Núcleo de Projetos. Cada uma delas, em conjunto também com outros servidores, colabora para a construção por vezes literal, ou seja, física, e por vezes simbólica, do grande nau urbano que se instaura no centro da cidade.

O público, enfim, talvez possa ser considerado uma bússola: parte central de todo o equipamento, que dá significado e finalidade aos espaços. Com ele, o barco ganha vitalidade e propósito. A brutalidade da cidade grande e a verticalidade dos arranha-céus se tornam mais navegáveis. É apenas a partir da interação e a participação ativa e orgânica do público que a instituição se torna verdadeiramente transparente, horizontal, em suma: vivo. E dá, então, razão ao projeto, ao trabalho, às programações e até ao nome do Centro Cultural São Paulo, o CCSP.

Hoje, enfim aos 42 anos, a instituição tem o orgulho de celebrar seu passado e presente – de tantas conquistas, muitas também recentes, como é o caso da incorporação oficial de Ações Afirmativas nos editais para a seleção de artistas. Ao soprar as velinhas, ainda, vislumbra e imagina: que o futuro venha perpetuando muito mais casas cheias, mais aplausos, mais estudo, mais convivência, mais diversidade, mais memória. E que se perpetue como  organismo que navega: sobre as águas, sobre o cimento, da cidade de São Paulo.

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Texto e pesquisa: Jasmin Santos
Revisão: Isabela Pretti
Capa: Diego Claudino e Isaac de Moraes

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