11, 13, 18 e 20/10
- Terças e quintas, das 15h às 18h
- Na Sala de Vidro
- Classificação Indicativa: livre
- Grátis
- Retirada de ingressos 1h antes na bilheteria
- É recomendado o uso de máscara
Neste laboratório, serão desenvolvidos acessórios vestíveis a partir de roupas de trabalhadores, debatendo o impacto do trabalho e do mercado no corpo transvestigênere.
Todo acessório, elemento e ferramenta que o ser humano cria já vem à existência com o estigma do lixo. Desde as roupas, brincos, tênis, aos tapetes ou capacetes – existem apenas estágios diferentes do que se acostumou a ver como lixo. Existe na sociedade moderna um grande e inescapável sistema de processos, cujo efeito colateral é a distração dos indivíduos em relação a este fato. Assim, parte do que sustenta a indústria e seu consumismo é a ilusão de que o lixo é algo definido e delimitado, e que sua condição é imutável: lixo é lixo e ao se tornar assim, se “joga fora” pois não voltará a ter serventia. A ideia de “jogar fora” é uma ilusão porque não existe “fora” e “dentro” no ecossistema que a humanidade coabita – tudo o que há, existe dentro ou sobre a mesma forma rochosa a que chamamos Terra. E sendo assim, tudo o que é ilusoriamente descartado seguirá tendo influência na existência de tudo mais, inclusive na vida de quem praticou o descarte. Essa visão, que vai muito além da criatividade, se trata positivamente de uma interpretação do processo que essas mesmas pessoas já aplicam inexoravelmente a seus próprios corpos e ao diferente. Pois, corpos transgressores, mentes transcendentes e identidades transgêneras já experienciam em primeira pessoa a trajetória higienizada das coisas, tendo como vivência ser descartada como lixo, perspectiva qual o corpo hegemonista se faz alheio. O que se “joga fora” não está nem “fora” e nem parou de ocupar espaço, tampouco de interagir com a realidade. Usa-se aqui a palavra realidade em vista da dificuldade do corpo hegemônico em reparar que “natureza” não é algo destacado de sua existência.
Por ser o corpo hegemônico o mais representado legislativamente e, por consequência, o maior contribuinte na criação e aplicação dos sistemas educacionais, fica claro que a maioria das tecnologias e ciências seja dominada por um pensamento socialmente destacado. Assim, o que se consideraria novo conhecimento só é novo para os recortes sociais que ainda não o aprenderam. É nessa perspectiva que o ATM tem como objetivo se tornar em um laboratório de Transmutação Têxtil, que propõe, através de técnicas de costura, estimular as pessoas a promoverem uma consciência de que o consumo também é um mecanismo de construção de estereótipos. A partir desse ponto, podemos utilizar dessas técnicas, junto ao reaproveitamento de materiais têxteis, e desenvolver, para além de peças de roupas, uma consciência crítica perante o amortecimento social. É importante tal promoção de intercâmbio tecnológico entre corporeidades que divergem entre si e, mais ainda, o incentivo a discussão do tema entre os corpos que compartilham da mesma visão dissidente daquela trajetória normatizada, como forma de expandir e desenvolver essas mesmas tecnologias e processos, como a autonomia financeira e emocional.
Sobre Dandara Maria
Dandara trabalha em meio a criação e reestruturação da moda e produção visual, onde se vê abarcando as discussões de consumo consciente e sustentável, trabalhando com descartes de tecidos e abarcando a costura, moda e produção audiovisual a partir de tecnologias da ancestralidade trans/travesti. Iniciou seu empreendedorismo em 2016 quando viu a necessidade de trazer a moda para periferias de Barueri, neste tempo cursava Logística no ITB (Instituto Técnico de Barueri) e criou um Brechó Online com uma curadoria totalmente dela. Em 2018/2019 começou a expor peças de brechós e autorais a partir de pinturas desenvolvidas pela artista na Avenida Paulista e feiras pela capital de São Paulo. Em 2021, ganhou seu primeiro Edital no Fundo Agbara que foi onde avançou alguns processos em sua marca Revista Aquenda, que é uma plataforma de construção e descolonização da moda e audiovisual. No mesmo ano participou do projeto Descobertas com curadoria do AteliêTransmoras e Vicenta Perrotta. Neste projeto, que abarcava nichos que a artista já vinha desenvolvendo, foi um dos destaques e gerou conhecimento para então integrar ao Ateliê Transmoras. Em 2022, foi contemplada com o Edital Pretas Potências junto ao Instituto Alok e Feira Preta e, desde então, começou na estruturação de seu Ateliê e fomento a projetos que envolvem audiovisual, moda, contratação e desenvolvimento de projetos com pessoas trans/travestis e reuso de peças.
Ficha técnica
Dandara Marya e Vicenta Perrotta.