19 e 26/10
09 e 16/11
- Das 19h às 22h
- Na Sala de Vidro
- Classificação Indicativa: livre
- Grátis
- Retirada de ingressos 1h antes na bilheteria
- É recomendado o uso de máscara
A balaclava é um dispositivo de segurança, muito utilizado em baixas temperaturas e entre motociclistas, para reforçar a proteção entre a pele e o capacete. Este objeto tomou a atenção de muitos profissionais da moda nos últimos tempos, presente nas passarelas como parte criativa e lúdica dessas coleções. Através da troca de informações, a vivência tem a intenção de recriar balaclavas. Bordando neste dispositivo objetos do cotidiano, as embalagens de produtos consumidos diariamente, acessórios comuns do dia a dia, se transformam em adornos que serão bordados à mão, revelando uma reflexão sobre o consumo e o processo de reciclagem.
Todo acessório, elemento e ferramenta que o ser humano cria já vem à existência com o estigma do lixo. Desde as roupas, brincos, tênis, aos tapetes ou capacetes – existem apenas estágios diferentes do que se acostumou a ver como lixo. Existe na sociedade moderna um grande e inescapável sistema de processos, cujo efeito colateral é a distração dos indivíduos em relação a este fato. Assim, parte do que sustenta a indústria e seu consumismo é a ilusão de que o lixo é algo definido e delimitado, e que sua condição é imutável: lixo é lixo e ao se tornar assim, se “joga fora” pois não voltará a ter serventia. A ideia de “jogar fora” é uma ilusão porque não existe “fora” e “dentro” no ecossistema que a humanidade coabita – tudo o que há, existe dentro ou sobre a mesma forma rochosa a que chamamos Terra. E sendo assim, tudo o que é ilusoriamente descartado seguirá tendo influência na existência de tudo mais, inclusive na vida de quem praticou o descarte. Essa visão, que vai muito além da criatividade, se trata positivamente de uma interpretação do processo que essas mesmas pessoas já aplicam inexoravelmente a seus próprios corpos e ao diferente. Pois, corpos transgressores, mentes transcendentes e identidades transgêneras já experienciam em primeira pessoa a trajetória higienizada das coisas, tendo como vivência ser descartada como lixo, perspectiva qual o corpo hegemonista se faz alheio. O que se “joga fora” não está nem “fora” e nem parou de ocupar espaço, tampouco de interagir com a realidade. Usa-se aqui a palavra realidade em vista da dificuldade do corpo hegemônico em reparar que “natureza” não é algo destacado de sua existência.
Por ser o corpo hegemônico o mais representado legislativamente e, por consequência, o maior contribuinte na criação e aplicação dos sistemas educacionais, fica claro que a maioria das tecnologias e ciências seja dominada por um pensamento socialmente destacado. Assim, o que se consideraria novo conhecimento só é novo para os recortes sociais que ainda não o aprenderam. É nessa perspectiva que o ATM tem como objetivo se tornar em um laboratório de Transmutação Têxtil, que propõe, através de técnicas de costura, estimular as pessoas a promoverem uma consciência de que o consumo também é um mecanismo de construção de estereótipos. A partir desse ponto, podemos utilizar dessas técnicas, junto ao reaproveitamento de materiais têxteis, e desenvolver, para além de peças de roupas, uma consciência crítica perante o amortecimento social. É importante tal promoção de intercâmbio tecnológico entre corporeidades que divergem entre si e, mais ainda, o incentivo a discussão do tema entre os corpos que compartilham da mesma visão dissidente daquela trajetória normatizada, como forma de expandir e desenvolver essas mesmas tecnologias e processos, como a autonomia financeira e emocional.
Sobre Manauara Clandestina
Nascida no Amazonas, filha de missionários evangélicos, sua relação com a arte inicia-se dentro da igreja, através de viagens da capital até os interiores, sendo também preparada para a sua missão que começaria fora dali. Em São Paulo, começa sua experiência de trabalho com a noite da cidade. Seu trabalho com a performance se expande aos diálogos com novas perspectivas sobre a existência travesti, questionando as condições que as permeiam, a partir de processos de transição de fronteiras e de mergulhos sensíveis que constroem registros íntimos de uma artista nortista. Na posição de diretora artística no Ateliê TRANSmoras, ao lado da estilista Vicenta Perrotta, edifica construções imaginárias dentro da moda, evocando diálogos que dão luz às subjetividades das corporeidades dissidentes brasileiras. Em 2020, sua pesquisa foi desenvolvida a partir do Programa de Residên-cias, da Delfina Foundation, em Londres, e em 2021, no Piramidón – Centro de Arte Contemporânea, em Barcelona, ambos com o apoio do Instituto Inclusartiz (Brasil). Já participou de exposições coletivas e em 2021 obteve duas individuais: Pitiu de Cobra (Delirium, São Paulo) e Saltação (Casa70, Lisboa). Atualmente, participa também da exposição “Composições para Tempos Insurgentes”, no MAM Rio.
Ficha técnica
Manauara Clandestina e Vicenta Perrotta.