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Entrevistas

Programa de Exposições 2018: Gsé Silva

Atuando, ao longo de sua trajetória, com fotografia, cinema e literatura, Gsé Silva narra a intrigada relação de sua mãe com a fotografia em Écfrase – Frases de mãe, trabalho presente na I Mostra do Programa de Exposições 2018.  “Mesmo sendo muito pessoal a relação de minha mãe com a fotografia, a história dela pode gerar interesse de outras pessoas por fazê-las pensar em como se relacionam com as suas próprias fotografias antigas, com o seu passado e o da sua família”, afirma Gsé.

O foco da sua produção parece ser, sobretudo, as leituras da memória. São elas que, de fato, mais te mobilizam até esse momento da sua trajetória artística? Se sim, em que fase do seu trabalho com a memória Écfrase – Frases de mãe está localizado?
É difícil falar de um foco, pois são muitos os gatilhos que me fazem refletir. Porém um assunto recorrente na minha produção é o “Nós”, o indivíduo na sua solidão. Acredito que somos muito mais do que a imagem que passamos, temos coisas que não mostramos, como nossas dores, angústias, confusões internas, nossa busca por algo que muitas vezes nem sabemos o que é. Quem somos quando estamos a sós? Écfrase – Frases de mãe trata de memória e memória também nos constitui, é parte de quem somos e como nos transformamos. Tudo está em constante mudança o tempo todo e me interesso pelas histórias por trás das histórias que se transformam em outras histórias.

 

Muitas vezes, o migrante, além da memória que traz no corpo, carrega consigo apenas memórias que caibam numa mala. O gesto de migração dos seus pais é decisivo para o desenvolvimento da sua poética visual?
Nossa presença está em tudo, deixam as marcas no local de onde partimos, estamos presentes nos objetos que deixamos e nos que levamos junto, tem vida em cada detalhe. Pegar uma fotografia antiga de 30/40 anos atrás e falar sobre ela é mexer com os sentimentos de quem conta e de quem escuta. Apesar de a imagem ser datada e “fiel” ao que aconteceu, quando se retorna “àquele tempo”, nem tudo é lembrado, normalmente alguns fatos são esquecidos como se desse um branco na mente. Essa sensação de “lembro, não lembro” forma a poética visual do filme.

 

De que modo você acredita que memórias tão particulares da sua família podem tocar outras pessoas?
Histórias pessoais nos tocam porque somos todos seres humanos que, apesar de únicos, temos os mesmos anseios, os mesmos sentimentos. Quando ouvimos alguém falar de sua própria experiência de vida, acabamos nos colocando em seu lugar, imaginando como foi, como seria se fosse com a gente. Além disso, o processo de migração é comum – principalmente nas grandes cidades como São Paulo – e é bem provável que muitos tiveram a mesma origem que a minha, ou seja, filhos de pais migrantes, e irão se identificar. Mesmo sendo muito pessoal a relação de minha mãe com a fotografia, a história dela pode gerar interesse de outras pessoas por fazê-las pensar em como se relacionam com as suas próprias fotografias antigas, com o seu passado e o da sua família. Nos relacionamos com assuntos humanos.

 

Você pretende estender esse trabalho com a memória, seja particular, seja coletiva, para os seus próximos projetos?
Com certeza esse tema continuará presente em meus trabalhos. Como eu disse no início, meu interesse é o que nos forma, o que nos move e o que pode nos paralisar. A questão “Quem somos Nós” está presente em novas pesquisas que venho fazendo. Além disso, o próprio Écfrase – Frases de mãe tem a pretensão de se expandir para outros recortes das outras tantas histórias que ainda estão ali contidas. É o passado estando presente caminhando para o futuro.

 

Entrevista: Danilo Satou, Marcia Dutra e Vinícius Máximo
Foto: Divulgação

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