Tendo como referência sua origem na região metropolitana do Vale do Paraíba, o artista plástico Bruno Brito é um dos selecionados para a II Mostra do Programa de Exposições 2017.
Nascido em Jacareí, Bruno se mudou para São Paulo em 2011, para cursar a graduação em artes visuais na UNESP e, em seguida, continua no mestrado na mesma instituição. Após o ingresso na universidade, seu trabalho, que se dava no campo da pintura e do desenho, inicia um processo de transformação.
A percepção de que sua produção se voltaria para as práticas e manifestações populares, com ênfase nas projeções arquitetônicas caiçara, caipira e demais expressões regionais, vem do âmbito familiar. Até os 18 anos, Bruno manteve uma intensa circulação nessa atmosfera rural. “Minha família sempre teve o costume de frequentar propriedades e atividades, além dos parentes mais antigos, que tinham um vínculo mais profundo com esse ambiente, muitos deles cresceram no âmbito rural. Então, minha pesquisa, de certa forma, sempre girou em torno desse contexto construtivo tradicional”, conta ele.
Desde 2013, o artista executa instalações da série Régua, realizando a mensuração da paisagem natural por meio de métodos vernaculares. São estacas verticais inseridas em um determinado terreno, cuja distância entre elas, é determinada pela escala do corpo humano, como a braça e o passo. Essas réguas não têm o propósito de extrair dados exatos, mas sim subjetivos, operando como um primeiro parâmetro de leitura visual da paisagem.
A primeira instalação de Régua, intitulada Régua de Medição de Maré Vazante, foi na praia de Camburi, em Ubatuba, localizada no litoral norte do Estado de São Paulo.
A proposta do artista para o Centro Cultural São Paulo se pauta pelo contraste entre a construção de concreto armado, ferro e vidro do espaço expositivo e a obra, cuja base das hastes esguias é feita em latas de óleo, tinta, solvente, manteiga, com um aspecto rudimentar.
O artista também se coloca no papel de observador e investigador. Em sua pesquisa O Espaço na Obra de Almeida Júnior, Bruno propõe uma narrativa que conecta as pinturas regionalistas de Almeida Júnior (1850-1899) a partir dos espaços retratados, listando aspectos da organização espacial cabocla e os sistemas vernaculares de medição desenvolvidos por essas comunidades tradicionais – um dos principais eixos para a elaboração de suas obras.
Outro elemento que orienta Bruno é o livro de Antonio Candido Os parceiros do Rio Bonito, que também descreve o modo de vida cabocla e analisa o impacto causado pela expansão econômica capitalista na vida do caipira no século 20. Segundo o escritor, a cultura caipira caminhava para o fim inevitável, mas é ainda capaz de criar formas de resistência.
A sensibilidade de observar e anatomizar esse Brasil profundo e resistente, que atravessa o campo da arquitetura e das demais linguagens das artes visuais e reconfigura procedimentos presentes no plano imagético do caipira e caiçara, é traduzida no trabalho de Bruno pelas instalações tridimensionais, que trazem à tona a potência poética do imaginário rural brasileiro.
Texto e foto (retrato do artista): Fernando Netto
Foto de capa: Divulgação
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