Com o bombardeamento de informações ao qual estamos submetidos todos os dias, em um ritmo cada vez mais frenético e exigente, é difícil separarmos momentos específicos para cuidar do corpo e pensarmos nos impactos causados por esta rotina tão cansativa. Por esta razão, o CCSP desenvolve, além da programação propriamente artística e cultural, encontros que proporcionam um maior bem-estar com nossos corpos.
Em linhas gerais, a prática do Yoga (do sânscrito yuj, cuja acepção remete a integrar, unir) se concentra em estabelecer um equilíbrio entre todos os eixos físicos e mentais do nosso organismo. Esta prática envolve o conhecimento das disciplinas indianas tradicionais que se preocupam com o corpo por meio da realização de diferentes posturas articuladas a técnicas de respiração e meditação.
Dentre as variedades do Yoga, a Hatha-yoga se destaca por ser uma forma pré-clássica da prática que procura equilibrar, além da tensão corpo e mente, as forças opostas solar (ha) e lunar (tha), por meio de recursos psicoespirituais desenvolvidos com a imobilidade do físico. Assim, para constituir estes recursos na prática e alcançar o elevado “estado de liberação”, a Hatha-yoga se atenta à criatividade e à expressão do ser, bem como ao fortalecimento do físico para suportar aquele que seria o peso da elevação espiritual.
Para a instrutora Mariana Vilela, que comanda sessões de Hatha-yoga do Movimento Mais Flow todas as quintas-feiras no CCSP, a prática “trabalha com a psicologia positiva: fortalecer a capacidade de sermos felizes, e não emanar energia no trabalho da remediação. Podemos, também, tratar o Yoga como uma forma de terapia por seus inúmeros benefícios e efeitos comprovados na busca pelo equilíbrio psicológico, combatendo a ansiedade, depressão ou distúrbios, comuns na atualidade”.
No que concerne os aspectos físicos, alguns dos benefícios que a prática proporciona estão voltados para o desenvolvimento de habilidades como a flexibilidade e a força (sendo esta segunda habilidade outro significado possível para o termo “hatha”), presentes na realização das posturas que exigem uma entrega e uma concentração completas naquele instante. Além disso, os exercícios pretendem diminuir o estresse e trazer uma sensação de relaxamento ao indivíduo.
Os oito estágios da Hatha-yoga contemplam: os yamas (princípios éticos), os nyamas (princípios de autocontrole), ásanas (posturas do Yoga), pranayamas (exercícios respiratórios), pratyahara (retenção dos sentidos), dharanas (técnicas de concentração), dhyanas (estados meditativos) e samadhi (grande iluminação, alcançada após um bom desempenho em todas as fases precedentes).
Em relação à saúde, alguns dos principais benefícios do Yoga incluem a prevenção de dores nas articulações, o aumento da imunidade e da disposição e melhoras no fluxo da corrente sanguínea, na saúde dos ossos e no alinhamento dos músculos – e, portanto, da postura.
A origem do Hatha-yoga é controversa. Uma das correntes mais aceitas, por exemplo, acredita que a difusão desta prática teve início com as duas seguintes compilações de aforismos: “Yoga Sutras”, de Patanjali, traduzido pelo guru Paramahansa Yogananda e “Hatha Yoga Pradipika”, de Svatmarama que se tornaram clássicas após a consagração do Yoga no século XX. Ambas são estruturadas em quatro capítulos, sendo que, enquanto a primeira pode ter sido escrita entre os séculos II a.C. e III d.C. e é composta por 196 aforismos, a segunda data aproximadamente entre os séculos XIV e XVI, sendo estruturada com cerca de 390 provérbios, diferenciados do primeiro livro por serem menos concentrados nas posturas e nas técnicas em si e mais focados na função transcendental do Yoga – mais especificamente da Hatha-yoga – de promover no indivíduo um escape do ciclo de nascimentos e mortes.
Na América do Sul, o Yoga foi introduzido com a vinda do francês Leo Alvares Mascheville (que se tornaria conhecido como Sri Sêvánanda Swâmi) na década de 1920 na cidade de Buenos Aires. Posteriormente, ele fundou o GIDEE (Grupo Independente de Estudos Esotéricos) em Montevidéu e, mais tarde, percorreu o Brasil com esse grupo, divulgando seus estudos espirituais, místicos e filosóficos.
Atualmente, na esfera nacional, a atividade é comumente associada à elite, pelos equipamentos e vestimentas que, embora frequentemente fáceis de encontrar, exigem um alto orçamento por parte do Yogui. Pensando nessa restrição da prática, “o projeto Movimento Mais Flow nasceu pela defesa de que todos temos o direito de acesso à consciência e movimentação corporais. Não só o Yoga como todas as atividades são fornecidas em espaços abertos e convidamos todos a participar”, afirma Mariana.
A importância de atividades voltadas para o corpo, em espaços públicos, está na necessidade de redescobrir a cidade, visto que o cotidiano em grandes centros urbanos demanda de nós uma energia tão intensa que não temos tempo de nos atentarmos ao que eles oferecem, como espaços gratuitos para usufruirmos em prol de nossa saúde física e mental. A união do Yoga e do espaço público é, portanto, um convite para as pessoas pausarem a correria do dia a dia e se atentarem a si mesmas – ainda mais num lugar como o CCSP, constantemente procurado por quem acredita na potência desse espaço como uma forma de desacelerar. Segundo Mariana, “a apropriação dos espaços urbanos vem crescendo através de projetos que apostam no uso da cidade, além da interação entre comunidades e pessoas de diferentes histórias e experiências, tendo a praça como extensão dos pequenos apartamentos em que a maioria de nós se acomoda. Usufruir da cidade exatamente como ela é: minha, sua, deles”.
+Para saber mais:
Instrutora Camila Borghetti sobre a prática do Yoga
Personare: entenda melhor sobre Hatha-yoga
GreenMe: origem e benefícios do Hatha-yoga
Yogui.co: significado e estrutura da Hatha-yoga
Texto e entrevista: Danilo Satou e João Vitor Guimarães
Colaboração: Mariana Vilela (instrutora de Yoga do CCSP)
Ilustração: Beatriz Vecchia
Publicado em 22 de outubro de 2018