Podcast “Sem Título” – Transcrição e referências bibliográficas – Episódio #06

Podcast “Sem Título”

Você já parou para pensar que toda interação humana é uma história em potencial? Ao mesmo tempo em que a vida acontece, grandes e pequenos acontecimentos surgem e se dissipam, constantemente. Pensando nisso, o novo podcast do Centro Cultural São Paulo, “Sem Título”, conta para o público histórias, anedotas, acontecimentos, fatos e curiosidades ainda não contados, que se passaram dentro da instituição, e que marcaram, de alguma forma, a vida de seus funcionários.

No quarto episódio, Tessi Ferreira conversou com Luciana Nicolau, coordenadora da Coleção de Arte da Cidade, que faz parte da Supervisão de Acervos. 

Para ouvir o episódio na íntegra clique aqui e acesse o Spotify do CCSP. Também disponível no Google Podcasts e na Radio Public. 

Episódio #06 – Grandes coisas

Transcrição completa

Abre aspas

Sem Título

Fecha aspas

Olá, eu sou a Tessi Ferreira, estagiária da Comunicação do CCSP, e gostaria de dar as boas vindas ao “Sem Título”, um podcast do Centro Cultural São Paulo que narra histórias, fatos e curiosidades ainda não contados, que se passaram dentro da instituição, e marcaram, de alguma forma, a vida de seus funcionários. Se você está chegando agora, te convido a visitar também os episódios anteriores. 

Hoje nós estamos no acervo da Coleção de Arte da Cidade, que faz parte da Supervisão de Acervos do CCSP. Quem conversa comigo hoje é a Luciana Nicolau, coordenadora da Coleção. 

[Luciana] A Coleção de Arte da Cidade é um acervo de obras modernas e contemporâneas e ela tem o seu núcleo fundador na biblioteca pública de São Paulo que agora é a Mário de Andrade, então ela tem o seu início na sessão de arte que foi uma criação na gestão do Sérgio Milliet, e ele aliado a Maria Eugênia Franco começam a reunir as obras modernas do período. Esse núcleo foi um início, posteriormente foi criada a Pinacoteca Municipal, que foi o primeiro nome da Coleção de Arte. Nos anos 60 tem a criação da Pinacoteca, em 61, na verdade, e a ideia era reunir, catalogar e expor as obras do município. A Pinacoteca veio em 82 pro CCSP, daí em 2008 ela vira Coleção de Arte da Cidade.

E bom, o acervo da Coleção não é estático. Uma coisa interessante que a Luciana me explicou foi que o número de materiais que fazem parte deste acervo tem aumentado ao longo dos anos. 

[Luciana] Durante todo esse período que ela tem estado aqui no CCSP ela foi agregando mais obras, então aqui você teve várias ações em conjunto com a curadoria que contribuiu pra isso. O acervo foi crescendo com o passar do tempo.

O conjunto de obras que fazem parte da Coleção é muito diverso, mas um deles foi recentemente exposto para o público no CCSP. 

[Luciana] Em 2021 a gente completou 60 anos da Coleção de Arte e teve uma exposição comemorativa, que fala da Arte Postal, um grande núcleo que a gente tem dentro da coleção, que veio da 16ª Bienal de Arte de São Paulo. São obras diversas, desde cartões postais, páginas de livro, intervenções, obras em xerox. A exposição começou em 21 e terminou em 22.

E por falar em arte postal, grande parte das obras desta linguagem não são originárias apenas do Brasil, mas procedem de diversas partes do mundo. Então, o que exatamente quer dizer o termo cidade no nome do acervo? Quando falamos em Coleção de Arte da Cidade, de qual território estamos falando?

[Luciana] Ela tem esse nome porque reuniu essas obras do município, mas nós temos obras não só de artistas brasileiros, a grande maioria sim, mas temos obras de artistas estrangeiros, muitos da América Latina, especialmente devido a arte postal. 

Dentro dessa imensidão de tipos de obras, artistas, territórios e tudo mais, não pude deixar de perguntar qual ou quais são as preferidas da Luciana. Qual ou quais obras a tocaram, chamaram atenção ou despertaram seu interesse ao longo dos anos?

[Luciana] Tem um conjunto! E aí entra a característica de quando você começa a ter mais contato com o trabalho… pra mim foram os livros de artistas. Que basicamente é um trabalho que o artista fez, que pode ter o formato de livro, mas ele não necessariamente vai ser um livro de leitura, tem intervenções, pode ter ilustrações, então pra mim foi o primeiro conjunto que eu realmente cataloguei, foi um marco.

Além dos livros de artistas, um outro processo, outro momento do acervo também marcou a vida da Luciana, que ainda era estagiária quando a história principal desse episódio aconteceu. Foi o projeto de restauro dos painéis e mural do IV Centenário de São Paulo, sendo eles: O Restelo, de Manuel Lapa; Mineração, de Clóvis Graciano; Procissão, de Tarsila do Amaral; Fazenda de Café, de Emiliano Di Cavalcanti e o mural Missa de 25 de Janeiro (Conversão de São Paulo) 1554, de Manuel Lapa. 

Pra mim um projeto muito marcante foi o restauro dos painéis e de um mural do quarto centenário. Essas comemorações aconteceram em 1954, algumas coisas antes, e foram celebrações gigantescas, se você for procurar, tem alguns vídeos da época, foram investimentos em todas as áreas: dança, música, artes visuais. Foi nessa época que foi criado o Parque do Ibirapuera, a Oca, etc. Ele abre justamente com exposições, e foram convidados artistas pra fazerem painéis, que teriam dimensões de grande escala, então 2 metros e 75 de altura por cinco, seis metros. E atualmente a gente tem conhecimento de seis painéis, sendo que quatro deles estão aqui com a Coleção de Arte, e o mural que está na Oca e pode ser visitado. O projeto de restauro aconteceu entre 2016 e 2019 e foi realizado em três dos quatro painéis que nós temos, e no mural. 

Aqui, abro parênteses para uma pequena curiosidade:

[Luciana] Uma coisa interessante é que esse mural ficou oculto durante quinze anos, então não sei direito em que momento ele foi fechado, eles fizeram uma parede de drywall e ficou por quinze anos fechado.

Fecha parênteses. 

Como dito em outros episódios, a arte tem esse poder, essa característica, essa possibilidade de atravessar os tempos, as gerações, os espaços. Mas isso só é possível a partir da conservação e do restauro das obras. Mesmo o mural que ficou oculto durante tanto tempo, como uma espécie de limbo, um vácuo na existência dessa obra, ressurge anos depois, em outra São Paulo, dialogando com outras pessoas, com outro espaço. Essa obra também precisará de cuidados e reparos para continuar existindo. 

A manutenção da vida, assim, se manifesta na esfera dos seres vivos, mas também dos objetos inanimados. 

[Luciana] Entre esses painéis a gente restaurou o da Tarsila do Amaral, que chama Procissão, um do Manuel Lapa, chamado Restelo, um do Clóvis Graciano chamado Mineração e o mural que chama Missa de 25 de Janeiro, também do Manuel Lapa. E acho que um que é muito legal de lembrar é o Mineração, do Clóvis Graciano. Porque ele foi feito sobre um aglomerado de madeira, todos eles, mas com o tempo o aglomerado são várias partes de madeira coladas, com o tempo ele recebeu muita umidade, acabou sofrendo com isso, e o compensado inchou, o suporte tava muito deteriorado. Você tem a camada pictórica, onde tem a tinta e o suporte. Quando levou pro restaurador ele viu que teria que retirar esse suporte, ficaria só a camada pictórica e então colocado outro suporte. Foi um trabalho muito interessante de acompanhar porque foi basicamente desbastar essa madeira até uma espessura que mantivesse a obra original, pra depois colocar outro suporte. Foi um trabalho muito minucioso e demorado. Foi o mais difícil de todos, porque o suporte não estava estável. 

Eu acho que o que mais me chamou atenção foi que, primeiro que eu não sabia o que foi o quarto centenário, então quando eu comecei a entender as dimensões do que foi, isso me chamou atenção. E também as dimensões dos painéis, porque como eu falei, foram chamados artistas, se não me engano haviam quinze painéis, todos enormes. E hoje em dia restam apenas seis, contando com o mural. 

Durante nossa conversa, achei bonito o fato da grandiosidade permear toda a história que a Luciana me contou. Um enorme painel, que foi produzido para uma enorme celebração, de uma grande cidade, e que demandou um longo, minucioso e grandioso processo de restauro. O grandioso é capaz de nos assustar e nos encantar na mesma medida. Tira o nosso fôlego, mas também é capaz de remexer alguma coisa dentro de nós que nos marcará para sempre. 

Aqui, creio que vale a pena vocês entenderem melhor sobre o restaurador e sobre o processo de restauro em si, como ele funcionou, mais ou menos. 

[Luciana] O nome dele é difícil de falar, André Kosierkiewicz, ele é especializado em madeira, e isso foi importante justamente por conta do suporte fragilizado. O que foi feito, colocou-se mesas, os painéis sobre essas mesas, e se não me engano o que era movimentado era a máquina que o próprio restaurador desenvolveu pra fazer isso. Era uma logística complexa.

Bem, o restauro mais longo durou cerca de dois a três anos. A ideia dos painéis era quase ser uma espécie de cenografia para aquela grande celebração dos 400 anos da cidade de São Paulo. Assim, o tema principal dessas obras era a própria São Paulo, desde a sua fundação até o desenvolvimento moderno. 

Cada artista, cada qual com sua assinatura, tentou ilustrar naqueles painéis e murais um pedaço da história da cidade, de acordo com o olhar particular de cada um. São Paulo continua envelhecendo, mudando, se transformando, pessoas continuam indo e vindo. A arte da cidade acompanha esse movimento e coexiste com resquícios do passado, fenômenos do presente e vislumbres do futuro. 

Transição sonora. 

Esse foi o sexto episódio do podcast “Sem Título”, do Centro Cultural São Paulo. Esse foi o último episódio da primeira temporada, que contou histórias de quem constrói, todos os dias, a memória e os acervos da instituição. Mas não se preocupa, que ainda temos um episódio especial de despedida na semana que vem! 

Informações mais detalhadas sobre os acervos, visitação, notas deste episódio e outros materiais, você encontra em nosso site: centrocultural.sp.gov.br

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Este episódio teve 

Roteiro, pesquisa e narração de Tessi Ferreira

Colaboração de Luciana Nicolau 

Captação de áudio de Eduardo Neves 

Captação de vídeo de Rubens Gonçalves 

Edição de áudio e vídeo de Yago Sivi 

Arte gráfica de Tamiris Viana e Isaac de Moraes

Revisão de texto de Isabela Pretti 

Muito obrigada e até a próxima! 

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