Ana Meira é escritora, tradutora e educadora. Amante de poesia e ficção científica, é autora da plaquete de poesia Gravidades (Editora Primata, 2019) e participa da plaquete independente sutura (2019).
Miriam Alves é Bacharel em Serviço Social, integrante do Quilombhoje Literatura (1980 a 1989), ministrou cursos de Literatura e Cultura Afro-brasileira, como escritora visitante, na Universidade do Novo México, e na Escola de Português de Middlebury College, EUA. A partir de 1982, publicou poemas e contos publicados em Cadernos Negros, do volume cinco ao volume quarenta (2017). Co-organizou duas antologias bilíngues internacionais: Finally us: Contemporary Black Brazilian Women Writers, (1995), e Women righting – Afro-Brazilian Women’s Short Fiction, (2005). Obras individuais: poemas Momentos de Busca (1983); Estrelas nos Dedos (1985). Ensaio Brasilafro autorrevelado (2010). Contos Mulher Mat(r)iz (2011). Romance, dois primeiros volumes de uma quintologia: Bará na trilha do vento, (2015); Maréia (2019), lançado na Flip, na Casa Poética Negras.
REVELAÇÃO – ANA MEIRA
um apocalipse não significa apenas
o fim do mundo
zumbis preenchendo a terra
epidemias dizimando populações
ou o embrulho sufocante do dia mais quente ao encontro dos mares
o apocalipse vem às vezes
na caixa preta
onde uma mulher toma um chá
e corta as unhas
em todo movimento
há a quebra de peças
ela dá as mãos à outra mulher
e o profeta não sabe mais
o apocalipse ele chega
nos ônibus atrasados
nas listas cansadas
na sede constante
e no peito
VOU LONGE – MIRIAM ALVES
Vai alta a lua viageira
com ela os sonhos
Leva num rastro de prata
o ouro que o verso lavrou
Vai alta e ao longe
lua viageira
pouso borboletas noturnas
em asfalto molhado
Vai alto o pensamento viageiro
procura abrigo repouso
na noite prateada em insônias
Resvalo com as pontas dos dedos
Lembranças
Vai alta a lua
voo pensamentos ao longe
vejo-me melhor