Emma Bovary, Dadá, Carmen Miranda e outras personagens figuram no espetáculo
De quantas Mulheres você é feita? Essa é a pergunta que a atriz, bailarina e professora de Dança, Andréia Nhur, responde há oito anos, no espetáculo Mulher sem Fim, no qual interpreta em expressão corporal grandes personagens femininas da história. A apresentação fez parte do Abril pra Dança, no Centro de Cultural São Paulo (CCSP), entre 17 e 20 de abril.
No palco, a cangaceira Dadá (1915-1994), a cantora e atriz Carmen Miranda (1909-1955), aparecem em evoluções de Dança, assim como as personagens fictícias Emma Bovary, do romance Madame Bovary (1856), de Gustave Flaubert, e Lady Macbeth, do livro Macbeth (1623), de William Shakespeare.
Esse projeto é de 2017, ele vem de dois trabalhos antigos que eu realizava: o coletivo Proposição, que existe desde 1973, fundado pela minha mãe (a acordeonista, bailarina e coreógrafa Janice Vieira) e pelo bailarino Denilton Gomes, que dá o nome ao Prêmio Denilton Gomes. E neste grupo já fazíamos propostas de multilinguagens, misturando Dança, Teatro, Artes Visuais, e Música. E no Katharsis, que é um grupo de teatro dirigido pelo meu pai Roberto Gill Camargo (diretor, produtor e autor de Teatro), a gente tinha uma pesquisa do mesmo tipo, com a mistura de várias artes, aliada com a dramaturgia. Nisso, desenvolvi esse trabalho solo, uma relação do movimento, da voz e das figuras femininas, que resultou nesta construção da ideia de feminino, da Mulher como um gênero que se produz, de algo que você constrói com o corpo – explicou Andréia Nhur.
Mas como diversificar e convergir personagens assim tão distintas, como surgiu a inspiração para pô-las no mesmo espetáculo? Para Andréia Nhur, cada uma, embora de universos, épocas e situações diferentes, carregam consigo os conflitos, os problemas, as paixões e as dificuldades de ser do gênero feminino através dos séculos.
No início da apresentação eu faço uma cena que remente à minha ancestralidade libanesa, então, vou me constituindo de todas essas mulheres que fazem parte do imaginário e da cultura ocidental. A Emma Bovary, por exemplo, é um recorte da mulher oprimida pela burguesia da época. Já a Dadá é interessante, eu peguei um trecho do documentário A Mulher no Cangaço (de Hermano Penna, de 1973) e transformei no recorte que eu quis para este trabalho. E a história da Dadá é muito triste, ela foi sequestrada e abusada pelo Corisco, mas o trecho que trago é quando ela torna-se uma guerreira vitoriosa dentro do Cangaço, uma liderança feminina (Dadá foi a única cangaceira que participou de combates). E quanto a Carmen Miranda, apesar de todo o seu sucesso e fama, ela foi vítima da indústria cultural e cinematográfica norte-americana, e sugada por figuras masculinas que a sugaram até os seus últimos minutos. No fim do espetáculo, eu faço uma menção e homenagem à Mercedes Sosa – encerrou a atriz.
Foto de capa: Paola Bertolini
Para saber mais da programação de Teatro, acesse o link do CCSP.