Projeto Luz da Obra pôs nada menos que cinco conjuntos no mesmo palco

 

A Sala Adoniran Barbosa veio literalmente abaixo durante o show de Lula Queiroga, na última quinta-feira (27.03), no Centro Cultural São Paulo. Quatro conjuntos, espalhados nos quatro cantos do palco, alternaram o som com um dos músicos mais representativos do cenário underground do Brasil, junto com Alice Caymmi, Aparecido da Silva, Caio Prado e Helena Serena.


É uma alegria tremenda, foi um show com muita emoção. Eu não vi uma pessoa que tava aqui dentro que não tivesse vibrando na mesma corda afinada, sabe? Isso tudo nasceu de uma ideia muito louca de um cara chamado Du Sterblitch (Eduardo Sterblitch, produtor do show), e há 10 anos a gente fez um show como esse, não exatamente assim, porque os cinco cantores que participaram, ninguém nem se falou, porque o Sterblitch não queria isso, era para manter uma energia original. As bandas ensaiaram entre si, mas assim, a gente, os cantores não ensaiamos. É uma super honraria você ter sua obra é a obra que eu chamo é porque até o nome do negócio é Luz na Obra, né? Assim de executado e cantado e vivida por tanta gente legal, tanta gente bacana, tanta gente que eu admiro pra caramba. 
E aí, causou essas surpresas, duetos que eu não imaginava que aconteceriam… Essa coisa da surpresa terminou dando certo – disse Lula Queiroga.


Além dos citados, no palco uma figura ilustríssima do Soul brasileiro arrebentava no piston, nada mais nada menos que Reginaldo 16, intérprete de um dos grandes sucessos da banda paulistana Funk Como Le Gusta, o 16 Toneladas, canção que arrebata gerações desde a década de 1940, e que fez enorme sucesso no Brasil, na voz de Noriel Vilela, nos anos de 1970. Reginaldo até topou posar para nossas lentes, mas tímido, preferiu não gravar entrevista.


Na plateia, jovens e adultos dançaram e cantaram os sucessos que acompanham o cantor pernambucano desde o começo dos anos de 1980. Uma mistura de Rock, Soul, Pop, e até Baião iluminaram o espaço, que bem fez jus ao nome de Luz da Obra. Sobre as dificuldades do início de carreira, o cantor lembrou seus primeiros dias como músico, tendo ao lado seu amigo e parceiro artístico Lenine.


Lá em Recife não tinha muita opção, mas lembro que fomos tocar numa praia longe, depois de Piedade, tipo um arraial. Tocamos para poucas pessoas, aí, uma comunidade lá nos ofereceu uma refeição, daí, chegou uma senhora muito simpática, pôs a mão nos meus cabelos e falou “Esse galeguinho (pessoa de cabelos louros), gostei dele”, daí, passou uma outra e exclamou “É, mas se ele fosse bom, não estaria aqui”. Passei um dia inteiro pensando nisso, e na semana seguinte, eu e Lenine fomos para o Rio de Janeiro, assinamos com a gravadora PolyGram, dividimos um disco, e fiquei 10 anos lá, até que nossas carreiras tomaram rumos diferentes e eu decidi voltar para o Recife – relatou.


Contagiado pela energia vinda do palco, o público largou as poltronas da Adoniran, e ficou à beira do tablado, como se fosse combinado ou fizesse parte do espetáculo.


Essa ideia de todos juntos ao mesmo tempo no palco é uma loucura, aí ficou ensurdecedor, levou as pessoas ao delírio, pensei que iriam entrar aqui junto conosco. Isso acontece porque a música tem esse poder, a música não toca só para o seu ouvido, toca para o seu estômago, toca para tudo, porque ela treme, ela consegue fazer vibrações. 


E essas vibrações existem de verdade, como física, física mesmo, real e quântica. E isso trouxe uma empatia com o público muito forte, um jogo de entrar na onda. Foi muito bacana, foi muito lindo – sentenciou. 


De novidade, Lula Queiroga divulgou seu mais novo disco, o Capibaribum, e explica o porquê do nome.


O disco tem o nome de Capibaribum em homenagem ao Rio Capibaribe, que é o rio mais importante do Recife, que é o rio das capivaras, onde elas passeiam e nadam. E o ‘bum’ é do mergulho, o barulho que se faz quem entra forte na água – encerrou entre risos, o artista.

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