Spok pára em São Paulo devido ao clima e compõe Frevo-de-Rua para o seu Santa Cruz
Por Alexandre César | Redação CCSP | Fotos: Acervo pessoal
12/12/2025
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Sonhei que estava em Pernambuco
Fiquei maluco quando o Frevo passou
Mas quando estava no melhor da festa
Ora, esta, alguém me despertou…
(Clóis Mamede)
No Nordeste, dezembro é marcado pelos grupos de Pastoris e outros folguedos natalinos, mas na Terra da Garoa, o Carnaval veio antecipado, mais precisamente o de Pernambuco, pois, paulistanos, cariocas e naturais de outros Estados caíram no passo com o Frevo Bixiga e com o Maestro Spok na última quinta-feira, 11, na Sala Adoniran Barbosa, no Centro Cultural São Paulo.
Morena segura o Frevo
Não deixa a dança parar
Que a gente só vai pra casa
Na hora do Sol raiar
Azeite bem as canelas
Amarre bem sua trança
No vai e vem da folia
Fazer o passo na cansa
(Severino Araújo)
A própria presença de Spok não estava programada, o maestro estava viajando para Londrina, no Paraná, quando os fortes ventos que têm castigado São Paulo impediram o seu avião de chegar ao destino. Ao ser convidado para tocar com Fábio Carrilho e a Orquestra Frevo Bixiga, Spok prontamente aceitou soprar o seu Saxofone, para a alegria dos presentes.
Caramba, é um sonho muito grande trazer o Frevo para fora do Nordeste. Já há alguns anos, eu vinha para cá, depois do surgimento da orquestra, tocar Frevo com Antônio Nóbrega, por exemplo, e a gente ia entendendo, cada vez mais a importância da estar perto do próprio povo, da linguagem, do sotaque. A gente ia ganhando força, e recebemos força, até que gravamos o nosso trabalho, passamos a vir para cá com o nosso trabalho algumas vezes. O som do Frevo chegou ao povo de São Paulo através do trabalho, dos artistas pernambucanos que residem aqui, que passam essa paixão aos músicos de São Paulo, como é o caso do Frevo do Bixiga, do qual estou muito feliz de tocar com eles. Fico muito feliz em fazer parte de uma geração que traz um pouco de tudo isso para cá – afirmou Spok.
Tri-Tricolor
Tri-Tri-Tri-Tricolor
Santa
(Domínio público)
Há pouco mais de 20 anos, Spok concedeu uma entrevista à imprensa, dizendo que faria um Frevo-de-Rua para o seu querido Santa Cruz Futebol Clube, até então, o único dos três grandes da capital pernambucana que não possuía um hino nesse ritmo, mas apenas de Frevo-Canção, ao contrário de seus co-irmãos, Sport e Náutico, sendo Casá, Casá; e Come e Dorme, respectivamente, ambos do maestro Nelson Ferreira. Nessa mesma época, o Maestro Forró, também torcedor do Terror do Nordeste, compôs o Frevo-de-Rua Furacão Tricolor. Mas num furo de reportagem, Spok nos contou que finalmente a música saiu de sua cabeça e já está ganhando notas nas folhas de partituras.
Rapaz, tu acredita ainda não tem nome? Eu estava no hotel hoje com o guitarrista, com o Renatinho, eu comecei veio uma melodia, eu comecei a cantar essa melodia ele começou a acompanhar e a gente terminou. Não vejo a hora de gravar, mas a melodia tá pronta. Tudo pronto, a melodia e a hora de poder gravar e dar de presente ao nosso Santinha. Eu ainda preciso decorar tudo, faz assim: Pá-pá, tá-tá,pá-tá (imitando os sons dos metais). Ainda não lembro de tudo, mas está tudo escrito, mas vamos gravar – encerrou emocionado o maestro.
Para sempre seja louvado
O Frevo-Cantado que é nostalgia
Louvado seja o Frevo
Que me deixa louco no meio do povo
Minha cantiga, minha anestesia
Da saudade antiga, da melancolia.
(Aldemar Paiva)
Com um repertório finamente preparado para a ocasião, o guitarrista e maestro da Orquestra Frevo Bixiga, Fábio Carrilho, passeou por Relembrando o Norte, de Severino Araújo; Último Dia, do Mestre Vivo Levino Ferreira; Esquenta Mulher, de Nelson Ferreira; e outros grandes clássicos, sendo um deles do próprio Spok, Passo de Anjo.
Na orquestra, nem todos são filhos ou netos de nordestinos, então, como saber o amor pelo Frevo, ritmo este que é tão restrito à região Nordeste? Essa é uma das perguntas que Fábio Carrilho nos explicou.
Olha, a gente sempre gostou muito do Frevo, e também sempre gostou muito de orquestra, de big bands. Então a gente quis unir as nossas paixões, fazer um repertório de Frevo instrumental comas mújsicas das big bands, que é algo que nunca houve aqui em São Paulo. Passamos a nos apresentar na cidade, fazendo shows todos os meses e tem sido um grande prazer, e temos uma grande aceitação do público e pra gente, né, um grande barato poder tocar Frevo aqui em São Paulo. Olha, isso do Micróbio do Frevo (Frevo-de-Bloco de João Santiago) depende cada pessoa aqui. Tem gente que morou no Recife, como o nosso passista, que é daqui, mas cresceu lá. Então, cada um tem uma história. No meu caso, eu, quando criança, ouvia muito Frevo-Canção, aqueles de Moraes Moreira, de Capiba. E eu sempre gostei muito de Carnaval, sempre gostei muito de música instrumental, então, o resto foi meio caminho natural. A partir daí, fui conhecendo mais repertório, pesquisando os compositores, como Cláudio Moreira, Duda, Severino Araújo, Levino Ferreira, Antônio Sapateiro, e tantos outros aí, a gente sempre faz os tributos, toca música deles – disse o maestro.
Eu sonhei que todos os Blocos saiam nas ruas
Meu povo cantando, sem medo no olhar
Sonhei, janelas se abrindo, crianças sorrindo
E meus blocos passando, somente deixando saudades no ar
O sonho que eu tive, os Blocos nas ruas, não vi ninguém só
Não vi pelas ruas, nem água, nem lama, nem caldo, nem pó
Os Clubes fechados, as nossas orquestras tocavam remorso
Foi um sonho tão lindo, tão lindo meu sonho, acordei e chorei
Sonhei, sonhei, sonhei, acordei e chorei
Sonhei, sonhei, sonhei, acordei e chorei.
(Reinaldo e Fernando de Oliveira)
Durante o Frevo rasgado tocado na Adoniran, muitas sombrinhas surgiram no salão, sendo nem todas vindas do Nordeste. Um casal, do Rio de Janeiro, arriscou os passos e se divertiu muito com mais esse exemplo da cultura brasileira no CCSP.
O show é maravilhoso, eu já tinha visto, ambos (Bixiga e Spok), separadamente, maravilhoso, eu acho que o Frevo tem tudo a ver com o São Paulo, com o Carnaval. Olha, eu lembro de escutar Frevo desde criança, nas ruas do Rio de Janeiro, mas nunca tive um contato mais próximo. E eu acho que é uma cultura super rica, é nossa, porque isso nasceu no Brasil. Então, eu acho que a gente só tem que valorizar, disseminar, porque faz sucesso na nossa cultura – opinou a arquiteta Marcia Pellegrini.
Em seu relato, o seu marido não foi muito diferente.
Eu já conhecia o Spok de outras apresentações, a primeira vez foi em Olinda. Pernambuco é maravilhoso, é um lugar, é uma alegria, é um Carnaval… aquele carnaval da antiga, não é? Lá, as pessoas vão para brincar e é muito interessante que o Estado inteiro se mobiliza, desde as crianças até os idosos, as próprias agremiações de Frevo incentivam essa junção de todas as gerações. Eu acho que é assim: é o Carnaval dos Sonhos. Ainda é um lugar para você usufruir da alegria do Carnaval apenas. A coisa forte é a alegria do Carnaval – descreveu o artista visual Luiz Travassos.
Para saber mais da programação de dezembro, acesse o site do CCSP.


