Ocupação feminina nos acervos do CCSP

Por Camila Martins* | Redação CCSP | Fotos: Acervo Pessoal
03/12/2025

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Na última quarta-feira de outubro, 29, o público pôde, durante a tarde, acompanhar em frente à Gibiteca mais um encontro especial de “Feminismos em Fricção”, o qual discutiu a presença feminina na Discoteca Oneyda Alvarenga. 

Promovido pela Ação Cultural, “setor que programa atividades voltadas à formação”, o projeto, criado em 2019, propõe-se a refletir coletivamente e agregar informações sobre questões de gênero, sexualidade e cultura em busca de compreender a realidade e tensões que perpassam todas as mulheres – jovens, idosas, indígenas, negras, cisgêneras, transgêneras, travestis, heterossexuais, lésbicas e bissexuais – de maneira transversal e que reconfiguram as relações sociais.

“A violência contra as mulheres sobre a ótica do racismo” foi temática principal do primeiro encontro há seis anos atrás. De lá para cá, a iniciativa de Marisabel Melo e Ana Beatriz Oliveira Souza, que traz ao público um debate plural e respeitoso e conta com intervenções artísticas, debates e muita intelectualidade, já passou por diversos formatos, como lives e cursos durante o período pandêmico, exibições audiovisuais, podcasts e os tradicionais encontros presenciais.
Relembre abaixo os encontros passados:

Desta vez, as edições recentes segmentam seu olhar para as vivências históricas dentro do próprio Centro Cultural São Paulo e,  segundo a supervisora da Ação Cultural, há conexão dos  acervos ao “eixo da ‘invisibilidade’ das mulheres nas artes e toda a carga histórica que ela encerra”.

A Discoteca Oneyda Alvarenga, objeto de estudo da vez, possui um passado histórico. Criada em 1935 por Mário de Andrade, escritor propulsor da Cultura Popular brasileira como identidade, foi, mais tarde, dirigida pela museóloga e pesquisadora Oneyda Alvarenga, a qual incentivava e difundia música clássica gratuitamente, por meio de políticas públicas, e realizou grandes contribuições para desvendar a influência negra na música brasileira.

É exatamente neste ambiente que as convidadas Nilcéia Cleide Baroncellic, compositora e servidora no CCSP entre 1978 a 1986, e Pergy Nely Grassi, que continua a exercer função de Pesquisadora de Assuntos Culturais, desenvolveram suas carreiras e agora discutem o papel feminino na música. A roda de conversa permitiu que ambas compartilhassem as dificuldades e conquistas da figura feminina neste ramo, por meio de histórias emblemáticas de compositoras e cantoras que compõem o acervo da discoteca, um dos mais importantes do país, como Hildegard von Bingen, feira beneditina do século 12 e uma das primeiras mulheres compositoras reconhecidas na história. Além de relatos pessoais de suas vivências na profissão.

Ao compartilhar dificuldades, Nicélia  Baroncellic, a agora crescida criança criada em meio a uma loja de discos relata que a  indagação “Nunca vi mulher compor”  foi o mote para confecção do livro “Mulheres Compositoras – Elenco e Repertório” (1987) através de pesquisas intensas, ato revolucionário contra opressões que diariamente mulheres lutam contra.

A programação especial do projeto voltado aos acervos do Centro Cultural São Paulo, estenderam-se também em novembro à Coleção de Arte da Cidade presente na Biblioteca do CCSP. 

Com o ânimo da véspera do feriado, no dia 19,  a coleção criada em 1961 com a finalidade de reunir, catalogar e expor as obras de artistas nacionais e estrangeiros pertencentes ao patrimônio do município de São Paulo e gerida desde 1982 pelo CCSP foi então palco das discussões que encerraram no ano de 2025 os encontros em diálogo aos nossos espaços culturais. Entre as cerca de 10 mil obras de diferentes períodos, técnicas e suportes anteriormente pertencentes à antiga Pinacoteca Municipal, as ideias das convidadas Maria Adelaide Pontes e Claudia Lameirinha Bianchi ressoaram. As profissionais especializadas em artes visuais destacaram em suas falas a ampliação da visibilidade e a importância da ocupação feminina na história das artes visuais e suas obras no âmbito da coleção.

Os resultados são positivos. Na edição coordenada por  Marta Baião, uma das 20 integrantes relatou emocionada ter ganho “confiança em si mesma”. A respeito de novos encontros, a organizadora e mediadora dos debates afirma que não há ainda um desenho das ações do “Feminismos” para 2026, mas garante a continuidade do projeto e aponta:

A voz das mulheres está sempre presente na sociedade, e cada vez mais essa voz é coletiva, composta por grupos que se organizam e se articulam em torno das pautas e demandas de interesse das mulheres em todos os cantos do mundo. Penso que este projeto foi mais um âmbito que possibilitou vocalizar as mulheres e suas questões. Esta programação em diálogo com os acervos, foi também de encontros com servidoras do CCSP, com as quais pudemos trocar e apontar perspectivas de um ponto de vista institucional.

*Sob supervisão de Felipe Cartier