Esmeralda Ribeiro (São Paulo) é Jornalista e Pesquisadora da Literatura Feminina Negra. Integrante do Quilombhoje Literatura, uma das editoras da série Cadernos Negros e colaborou com a feitura da Antologia Jovem Afro que revelou muitos escritorxs jovens de toda a parte do país. Tem contos e poemas publicados em Cadernos Negros, além de participações em antologias no Brasil e exterior. Idealizou os seguintes projetos, o “Sarau Afro Mix”, evento multimídia com minipalestra, roda de poesia e performance de dança e o “Xirê de Palavra & Poesia Afro”, palestras sobre a literatura afro-brasileira e negra, seguido de declamações de poemas destinado a crianças e adolescentes de escolas públicas e particulares. Publicou dois livros individuais: “Malungos & Milongas” (conto) e Orukomi (Meu nome), livro infanto-juvenil.
Tatiana Nascimento nasceu em 1981 em Brasília, onde reside atualmente. É formada em Letras pela UnB (Universidade de Brasília) e fez doutorado em Estudos da Tradução na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). A autora é poeta, slammer, cantora e compositora. Atua também nos campos editorial, educacional, cultural e audiovisual. Enquanto educadora ministra atualmente o curso “privilégio branco: uma questão feminista?”
O ENCONTRO DAS ÁGUAS – ESMERALDA RIBEIRO
encontro hoje e sempre
entre águas, entre Yabás
chuá-chuá, chuá-chuá
que vira mar
são lágrimas pelos negros, negros
ainda cheios de ideias, sonhos
quem sabe? O nosso coração e
o fundo do mar são insondáveis
são lágrimas que descem pelo nosso rosto
não tiram a visão da mulher
da negra-mãe
chuá-chuá, chuá-chuá
são pretas mães que choram, choram…
são águas, águas, águas todos os dias,
infelizmente, um pouco de lágrima-chuva
a cada dia encherá os rios-políticos
até transbordarem
não são águas calmas e nem silenciosas,
mas afogarão aqueles impotentes
pseudos machos “arianos”
vulgos raça pura
que exterminam sem critérios, sem pudor
nossos jovens e nossas jovens
Yabás cuidarão deles
para todos nós vivermos
chuá-chuá, chuá-chuá
quando levarem um dos nossos,
levem os filhos deles também,
até que a dor vire uma só
chuá-chuá, chuá-chuá
APOCALIPSE QUEER OU CUIER A.P. (OU ORIKI DE SHIVA)
nós vamos destruir tudo que você ama
e tudo que c chama “amor”
nós vamos destruir
porque c chama “amor à pátria”
o que é racismo
c chama “amor a deus”
o que é fundamentalismo
c chama “amor pela família”
o que é sexismo homofóbico y
c chama transfobia de “amor à natureza”
c chama de “amor pela segurança”
o que é militarismo
y o capitalismo
c chama de “amor pelo trabalho”
o que c chama de “amor à humanidade”
é especismo, y esse seu “amor pela Palavra”
na real é só um caso histórico de má-tradução — que
conveninente, chamar deus de “ele”, mas se
liga: nós somos seu apocalipse
cuíer. y o que c chama de
“amor pela liberdade”,
“pela justiça”, toda
essa sua ideia de “civilização” é
assassinato, é genocídio,
quer matar tudo
que ri, que goza, que dança,
quer matar a gente.
mas a gente vinga
que nem semente daninha:
a gente sobre
vive!
tá vendo? já começou!
sente a pulsação vibrando
o chão: é o beat do nosso coração!
porque a gente, que você amaldiçoa
em nome do seu amor doentio
normativo,
segregador,
a gente que é amante,
a gente é que vive y espalha
amor.