Por Numa Gama
Memórias de Oneyda é a minha contribuição à celebração aos 85 anos da discoteca Oneyda Alvarenga com a residência RMX. O EP foi criado com fragmentos de gravações do acervo da discoteca.
Cada faixa foi desenvolvida como se fosse uma fotografia do inconsciente de Oneyda, que após tantas décadas de escuta seria um códice da música brasileira até o fim do século 20. Dessa forma, não há uma linearidade entre época e localidade das gravações utilizadas – A missão de pesquisas folclóricas de 1938 se mistura com partes do acervo de todas as épocas, incluindo as adições mais recentes de música brasileira.
As percussões, batidas, camadas harmônicas, vocais e quase todos os detalhes foram extraídos de áudios do acervo, com exceção apenas de algumas gravações de campo e trechos de instrumentos que gravei em outras ocasiões. Esses áudios adicionais também foram trabalhados como colagem sonora.
Adaptei as sonoridades para que adquirissem a qualidade e textura das gravações mais antigas, em um meio termo entre um som contemporâneo e uma gravação em disco de acetato dos anos 30. Soa como se fosse uma gravação antiga de uma realidade paralela onde se pode ouvir camadas de surrealidade. Bruno Palazzo me ajudou a reforçar mais ainda essa sensação com uma masterização analógica em fita k7
A capa é um remix visual do organograma do projeto Rádio-Escola, idealizado por Mário de Andrade, que seria uma instituição difusora da música brasileira. A discoteca foi criada, mas a proposta da Rádio Escola nunca se concretizou em sua plenitude. Hoje a Discoteca Oneyda Alvarenga está aberta a visitas, onde se pode acessar o vasto acervo de música popular, folclórica e erudita, de procedência nacional e estrangeira, disponível para consulta e audição.
A faixa 9 contém uma gravação do povo Yawalapiti que no ano de 2020 perdeu um grande líder para a covid-19. O álbum será disponibilizado gratuitamente no Bandcamp e aberto a doações. 50% do valor arrecadado será doado para o Movimento de Mulheres do do Xingu, ATIX Mulher.
FICHA TÉCNICA
Concepção, Criação, e Mixagem: Numa Gama
Design da Capa: Aaes Gama
Masterização Analogica: Bruno Palazzo
Fonte desenhada: Clau Smith
Câmera: Yule Mansur (Unsbeat)
Link para ouvir e comprar o disco ; )
Numa Gama
Numa Gama é artista multimídia, beatmaker e produtore musical natural de Niterói, RJ. Em sua música, extrai fragmentos de gravações espaciais e os organiza meticulosamente entre beats, sintetizadores, percussão, cordas e outros instrumentos acústicos. Dessa maneira, desenha para cada música uma atmosfera onírica que parece abolir os limites entre concreto e abstrato, acústico e eletrônico. A investigação principal Numa Gama está em intercessões como estas. O bandcamp weekly descreve suas músicas como “pistas ágeis que escorrem com uma cativante malícia”.
Artista nômade, tornou-se uma figura presente na cena da música eletrônica alternativa global e levou seus projetos à 18 países, em uma grande diversidade de ocasiões: Desde festivais grandes e pequenos, centros culturais a retiros e festas de rua. Alguns exemplos são Fusion Festival (Alemanha), MOS ESPA Genebra, Wiener Festwochen, Kunsthalle Darmstadt e SP na Rua. É parte do coletivo Voodoohop e também colaborou com trilha sonora e sound design para produções audiovisuais e instalações como a série Tapume, do estúdio Muamba (Pará) para o Canal Brasil e a instalação de realidade virtual de VJ Suave “Floresta Encantada/O essencial é invisível ao olhos”. Entre outros, seus lançamentos incluem a fita Microscopic Cookbook, em Novembro de 2017, no Japão com o selo Chill Mountain; em Abril de 2018, o EP J’écris, em parceria com A Macaca; Em Julho 2019 o LP “A Correnteza” pelo Festival Nômade do Chile. Em 2020, pela Voodoohop o disco “Me Redesenho”. Em 2020, também lançou a improvisação inter-espécies “Sapa Sincronia” onde interage com sapos e seus cantos ao vivo.
Foto: Renata Chebel