Carlos Gabriel Pegoraro e Célio Franceschet, curadores de cinema do CCSP, comentam a produção de Khalik Allah, fotógrafo e documentarista nova-iorquino.
Khalik Allah é um fotógrafo e documentarista nova-iorquino relacionado a uma nova tendência cinematográfica americana chamada de novo autorismo negro. As obras artísticas de Khalik se alternam entre retratos fotográficos feitos nas ruas do Harlem em Nova York, e filmes, entre curtas, médias e dois longas-metragens, que trazem o estilo único e pessoal do diretor, uma construção hipnótica do tempo e a evocação de imagens em forma de retratos. Esse senso extático de suas imagens se misturam às narrativas pessoais e nos transportam para uma espécie de jornada espiritual. Ao invés de uma narrativa tradicional, somos carregados a uma série de encontros que surgem com a mesma textura dos sonhos.
De seus trabalhos, indicamos o seu documentário Field Niggas (2015), uma crônica documental em formato de retrato filmada nas noites do verão americano na intersecção das ruas 125th Street e Lexington Avenue. O seu título foi tirado do famoso discurso de Malcom X, “Message to the Grassroots”, e o uso das cores, do contraste entre claro e escuro, da câmera lenta, de uma narrativa destacada do som ambiente da cidade grande, cria essa suspensão destes personagens do Harlem de seu lugar, e os destaca de suas realidades de sobrevivência.
Em uma entrevista para o New York Times, Allah se considera autodidata. Ele começou aos 19 anos, fazendo filmes em uma câmera Hi-8 que sua mãe lhe deu. Ele também estudou cinema digital e depois aprendeu fotografia still. Segundo o artista, o visual de suas imagens noturnas depende da parte de técnica (usando as luzes dos postes, dos carros e das lojas noturnas) e da parte instinto. Ele grava as conversas separadamente, e segundo ele, o fato de não serem sincronizadas com a imagem, lhe dá a liberdade que ele precisa para criar seus filmes.
Black Mother (2018) é o seu penúltimo documentário e o mais famoso, vencedor de vários prêmios, incluindo o “Prix de l’expérimentation” no prestigiado Festival de Montréal. O filme é uma brilhante jornada meditativa sobre a identidade jamaicana, filmado na ilha, entre imagens coloridas e em preto e branco. Parte documentário e parte ensaio, é um trabalho de difícil classificação, assim como todos os seus filmes. Em Black Mother, seguimos uma profusão de imagens de pessoas profundamente enraizadas na ilha e seus testemunhos pessoais misturados à uma sinfonia de rezas, criando um mosaico que evoca passado e presente ao mesmo tempo.
>>> Veja mais matérias do #CCSPdeCasa aqui!