Daisy Serena, São Paulo (1988). mulher, preta, mãe do acauã, ativista visual, escrevivente, pisciana, estudou sociologia e política na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) entre coisas-outras e coisas-nenhumas. Teve sua primeira Exposição fotográfica em 2016, dentro da Mostra de Criadoras em Moda: Mulheres Afro-latinas, no Sesc Interlagos : Tecituras de Tempo & Identidade. Seu primeiro livro – Tautologias – foi publicado em Novembro de 2016, pela Padê Editorial. Em Janeiro de 2018 teve fotos publicadas junto a 26 fotógrafos na coletânea em homenagem a cidade de São Paulo, “São Paulo em Imagens”, da Aquarela Brasileira. em Outubro e Novembro de 2018 participou da exposição coletiva Fotopreta, curada pelo coletivo Afrotometria.
Diogo Cardoso nasceu em São Bernardo do Campo (SP). É bacharel em Letras (FFLCH/USP) e Mestre(IEB/)USP, estudando a obra Cadernos de João, de Aníbal Machado.. Participou de diversos projetos literários, dentre eles o sarau Faça pArte (2004-2006), em parceria com o Departamento de cultura de São Bernardo do Campo, e Leitores itinerantes (2008), sob curadoria de Tarso de Melo, na cidade de Santo André. Publicou o livro Sem lugar a voz (Dobradura Editorial, 2016) e a plaquete Paisagem e pântanos (Baboon, 2019). Tem poemas publicados em revistas impressas e eletrônicas, dentre as quais Polichinello, Meteöro, Zunái e Ruído Manifesto, e nas antologias Subúrbios da Caneta (Dobra, 2014), Antologia Primata (Edições Primata, 2018) e Simultâneos pulsando(Corsário-Satã, 2018).
QUANDO UM ACAUÃ CANTA EM MIM – DAISY SERENA
entre o futuro pousado em meu seio
– farto d’um leite só nosso –
e o passado que me foi negado
onde fica a coragem?
terei a força necessária
para erguer as pernas
como fossem espadas?
uma trás outra
em frequência ritmada
parece fácil demais
pra ser verdade
formar os passos
anunciará nossos destinos
mais do que esbarrar
nos dados?
terei o ímpeto do pássaro
que te dei por nome?
flanar cerrados
nos confins do agora
fazer paragem
no invisível dos mitos
buscar perguntas
que ficaram na
língua do ontem
trazer verão
na cosmologia
do bico
COREOGRAFIA DOS OSSOS – DIOGO CARDOSO
Eu não estava lá
ainda assim a dança acontecia
batida na porta azul do pátio
eu não estava
e adiava-me na dança
não estava
e os nós dos dedos guardavam
gritos e cabelos
choravam flores em meu corpo
esse corpo
cadáver delicado quase
sabia o abraço quando
o azul na madeira
gritava a dança nos ossos dos dedos
o anel que tu me deste
foi promessa quebrada
em oceanos impossíveis
onde você era a certeza esfarelada
o anel guardava o azul
da porta
da noite
habitada no pátio onde
estou onde estivera
a porta azul do pátio
se debate nos nós dos dedos
cantando percussivamente
adeus.