Agenda de seminários é aberta ao público e debaterá conservação, arquivo e memória
Por Alexandre César | Redação CCSP | Fotos: Nina Gocke / Carlos de Jesus
As servidoras Camila Romano e Claudia Bianchi vão representar o Centro Cultural São Paulo (CCSP) na agenda de seminários da Semana comemorativa dos 70 anos do Arquivo Histórico Wanda Svevo, entre 26 e 30 de maio, no lounge da Fundação Bienal de São Paulo. O evento é aberto ao público e contará com a participação de convidados de instituições culturais da área, que debaterão, entre outros assuntos, temas como conservação, arquivo e memória.
No dia 27.05, Camila Romano e Claudia Bianchi ministrarão o tema “Conservar para Mostrar: A Longevidade da Imagem”. Sobre a expectativa para evento, as duas servidoras nos concederam algumas observações sobre os tópicos que serão levantados no seminário.
Redação CCSP: Qual o impacto de ser representante do CCSP em tão significativo evento?
Camila Romano: A responsabilidade é muito grande. A Fundação Bienal de São Paulo tem grande relevância e projeção internacional. Participarmos da comemoração de 70 anos do Arquivo Histórico Wanda Svevo, além de ser uma honra, valida as ações de salvaguarda do CCSP como referência na área. A Supervisão de Acervo do CCSP é responsável por acervos incríveis, cada um com sua especificidade, potência e representatividade. Toda oportunidade de falar sobre os acervos é colaborar com sua extroversão.
Redação CCSP: Uma das preocupações de setores de memória e acervo é assegurar documentos dos mais variados materiais para que permaneçam intactos por um longo período, e sobre isso, a tecnologia tem se tornado forte aliada para preservação. Você acredita que chegamos numa tecnologia ideal para manter vivos os acervos desde o analógico para a posteridade?
Camila Romano: A tecnologia está aí, cada vez mais alcançando níveis maiores para nos ajudar. No entanto, considero que esta ainda não seja uma realidade plena na maioria das instituições, sobretudo no Brasil. O principal elemento para manter os acervos vivos têm sido os profissionais comprometidos e sua capacidade de resiliência.
Redação CCSP: Como é o processo de Conservação dos acervos do CCSP?
Claudia Bianchi: Todas as ações de conservação são realizadas com o propósito de assegurar a integralidade dos acervos pertencentes ao CCSP, assim como garantir assim como garantir sua estabilidade e acesso ao longo do tempo.
O CCSP abriga cinco Coleções em seu acervo: Arquivo Multimeios, Coleção de Arte da Cidade, Discoteca Oneyda Alvarenga, Acervo Histórico da DOA e Núcleo Memória.
As etapas de conservação dos acervos do CCSP ocorrem da seguinte forma: cada Coleção determina as prioridades, que podem ser a manutenção do acervo ou o tratamento de novos itens; os acervos devem estar devidamente catalogados e registrados para que possam ser trabalhados no Laboratório de Conservação e Restauro.
Após isso, realiza-se um diagnóstico ou avaliação do tipo de material a ser tratado e a adequação das técnicas (higienização, pequenos reparos, aplanamento, etc). Também é feita a checagem dos materiais a serem utilizados, a escolha do tipo de acondicionamento mais apropriado e, finalmente, a guarda nas Reservas Técnicas.
Além disso, é importante considerar os fatores que podem prejudicar o acervo como a variação de temperatura e umidade relativa, infestação biológica, poluição, sujeira e outros, além do tempo necessário para a execução dos procedimentos.
Redação CCSP: Quais são os desafios enfrentados pela equipe de Conservação?
Claudia Bianchi: Os desafios são significativos quando pensamos na dimensão dos acervos do CCSP. Somando todas as Coleções, o Centro Cultural de São Paulo possui cerca de 1,8 milhão de itens que já foram catalogados e tratados e, aproximadamente, 500 mil itens que ainda precisam ser processados.
Ademais, é necessário considerar a variedade de suportes existentes; acervos de diferentes categorias (museológicos, artísticos, arquivísticos, bibliográficos, entre outros) e os estágios de salvaguarda diferentes de cada acervo.
Um aspecto relevante a ser levado em conta é a compra de materiais e aparelhos especializados em conservação para assegurar que as atividades desempenhadas no Laboratório de Conservação e Restauro estejam em conformidade com as diretrizes internacionais estabelecidas.
Redação CCSP: Quais medidas de segurança são adotadas nas exposições no CCSP?
Claudia Bianchi: Os espaços expositivos do Centro Cultural São Paulo ocupam duas áreas, o Piso Flávio de Carvalho e o Caio Graco, que juntas totalizam 2.300 metros quadrados, aproximadamente. É um trabalho realizado em conjunto com as equipes responsáveis pela Coordenação de Acervos, Conservação e Curadoria de Artes Visuais. O CCSP é um espaço aberto ao público e sem controle de acesso às exposições, por isso o cuidado com obras expostas é sempre tratado com atenção especial. Dentre as ações implementadas, destacam-se: O reforço da equipe de segurança; e instalação e posicionamento de câmeras que realizam gravações em empo real e vistoria diária nos espaços expositivos realizada pelas equipes técnicas.

Para Dandara Almeida, diretora do CCSP, esse é um momento muito especial para a história da casa:
É um sentimento de orgulho a participação de duas colaboradoras da nossa equipe na Bienal de São Paulo, um dos eventos culturais mais importantes do País que reúne ideias inovadoras, expressões culturais transformadoras e diálogos que moldam o futuro. Ter representantes nesse espaço significa projetar a identidade do CCSP para além do mercado em que atuamos… Significa mostrar que estamos comprometidos com a Cultura, com a diversidade, com o pensamento crítico e com a construção coletiva do conhecimento. Camila e Claudia não levam apenas o nome do Centro Cultural São Paulo, mas a nossa essência. Elas simbolizam tudo aquilo que buscamos ser como instituição: humana, plural, diversa, relevante, inovadora e conectada com o mundo à nossa volta. A representatividade delas é um reflexo direto do que valorizamos internamente: a formação contínua, a sensibilidade, a escuta ativa e o protagonismo feminino em espaços de impacto. Tenho plena convicção de que essa experiência será enriquecedora para elas, mas também para toda a nossa equipe, que certamente se beneficiará dos aprendizados, das conexões e da inspiração que elas trarão de volta – afirmou Dandara Almeida.

Camila Bôrtolo Romano (Centro Cultural São Paulo)
Supervisora de Acervo do Centro Cultural São Paulo, setor responsável pela gestão e salvaguarda da Coleção de Arte da Cidade, Arquivo Multimeios, Núcleo Memória, Discoteca Oneyda Alvarenga e Acervo Histórico da Discoteca Oneyda Alvarenga. É mestre em Museologia pela USP (2018–2020), com pesquisa sobre a Arte Postal da XVI Bienal de São Paulo, e especialista em Gestão de Museus e Inovação pela ABGC (2022–2023). Licenciada em Artes Visuais pela Universidade de Guarulhos (2010–2012), atua no CCSP desde 2011, passando por funções de conservação, documentação e coordenação de acervo. É membro do ICOM desde 2019, vinculada ao Comitê de Gestão de Museus (INTERCOM).

Claudia de Brito Lameirinha Bianchi (Centro Cultural São Paulo) Conservadora responsável pelo acervo da Coleção de Arte da Cidade de São Paulo, do Centro Cultural São Paulo. É graduada em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp e possui pós-graduação pelo Centro Universitário Senac, com ênfase em fotografia e design. Tem experiência como Pesquisadora de Assuntos Culturais na área de Artes Plásticas da antiga Divisão de Pesquisas do CCSP. Atualmente, coordena o Laboratório de Conservação e Restauro do Centro Cultural São Paulo e é responsável por planejar e supervisionar projetos voltados para a preservação e conservação dos acervos da instituição.