Efetivado como curador de cinema em 2017, Carlos Gabriel Pegoraro Paiva encontrou no Centro Cultural São Paulo o ambiente ideal para reunir suas vivências com cineclubes universitários, seu conhecimento técnico em projeção de película e sua paixão pela pesquisa cinematográfica.
Sua trajetória no CCSP começou com um estágio, que logo se transformou em uma posição efetiva na curadoria, onde está até hoje. “Já são quase 10 anos por aqui. É difícil escolher só uma lembrança marcante, porque foram muitas mostras e experiências especiais”, comenta.
Entre elas, uma se destaca: uma retrospectiva da diretora norte-americana Bárbara Hammer, referência no cinema experimental e nas pautas LGBTQIA+. A mostra trouxe ao Brasil, pela primeira vez, filmes inéditos em formato original de 16 mm, resultado de uma curadoria profunda, feita a partir de textos, críticas e relatos — já que as obras não estavam disponíveis em nenhum lugar online. “Foi emocionante ver pessoas vindo de outros estados só para assistir. Aquilo me mostrou o alcance que uma mostra pode ter.”
Outra memória marcante foi logo no início de sua trajetória no CCSP: uma mostra dedicada à atriz japonesa Setsuko Hara, famosa por seus papéis nos filmes de Ozu. A programação, feita em parceria com a Fundação Japão, foi exibida também em 16 mm e contou com um debate sobre a posição da mulher no Japão do pós-guerra. “Foi a mostra que abriu caminho para que eu fosse efetivado. Ver a sala cheia de pessoas da comunidade japonesa, se reconhecendo na tela e participando do debate, foi algo que me tocou muito.”
Carlos acredita que o trabalho de curadoria é uma forma de pesquisa aberta, um convite à reflexão coletiva. “Costumo dizer que é como uma tese que a gente nunca conclui. A ideia é deixar que o público também pense, sinta, tire suas próprias conclusões.” Para ele, o CCSP é um espaço único justamente por permitir esse tipo de experimentação e diálogo constante com o público.
Ao completar 43 anos, o Centro Cultural São Paulo segue sendo palco dessas histórias, feitas não só dos filmes projetados, mas também das pessoas que os trazem até o público. “O CCSP me deu espaço para crescer, experimentar e ver o cinema como uma forma viva de encontro. É um privilégio fazer parte disso.”
Reportagem: Maria Paula Azevedo
Foto: Nina Gocke
Projeto: Sabrina Godoy