VOZ DOS BASTIDORES

01

gestão

Renato Luiz de Andrade Vieira dos Santos

Apresentação e memória especial no CCSP
Meu nome é Renato Luiz de Andrade Vieira dos Santos. Eu trabalho atualmente no Núcleo de Gestão como Coordenador do Setor de Manutenção e Zeladoria do prédio. E a minha memória mais especial é de quando eu comecei a trabalhar aqui no Centro Cultural São Paulo.

Eu já vinha aqui no Centro Cultural acompanhado do meu pai quando era pequeno, tinha uns 14, 15 anos, por aí. Ele trabalhava no CCSP, na iluminação cênica. Eu gostava tanto daqui que pedia pra vir com ele conhecer essa parte cênica, de iluminação do prédio. E me encantei, achei super lindo. Em 2002 eu tive a oportunidade de entrar aqui no Centro Cultural para trabalhar. Na época, eu ficava no Setor de Zeladoria. Foi muito mágico. Quando eu entrei aqui parecia que eu estava em outro mundo, porque é muito lindo. E até hoje eu sou apaixonado por esse prédio.

Percurso no prédio
No caminho que eu faço, eu normalmente desço ali na estação Vergueiro. Venho subindo a rampa entre o metrô e CCSP, que foi feita uns anos atrás. Subo a rampa, passo pelo Foyer, desço as escadas do elevador e venho até o subsolo, até chegar no corredor da zeladoria, que tem a minha sala.
[Esse caminho] sempre teve mudanças. Por exemplo: antigamente, o setor administrativo ficava lá no piso Flávio de Carvalho. Não tinha esse acesso entre o a estação Vergueiro e o Centro Cultural. Tinha que ir pela rua Vergueiro até a entrada principal do CCSP para ir até o espaço administrativo, que era lá no fundo, no piso Flávio de Carvalho.

Locais favoritos no CCSP
Eu gosto do prédio todo, acho que o prédio todo é muito lindo. Gosto da sala Adoniran Barbosa, gosto pra caramba. O espaço dela é tão bonito, parece um ringue se olhar de cima. A Discoteca é muito linda. Acho bem legal parar um minuto, escutar um som, um disco diferente. De vez em quando, eu vou lá e dou uma ouvida em alguns discos. A Gibiteca é bem legal. O Centro Cultural todo em si é perfeito, sabe? Muitas vezes, a gente conversa com algumas pessoas que nem sabem como é o CCSP. Aí eu falo: “Ó, tendo a oportunidade, vai lá, vai conhecer!”. Quando a pessoa vem aqui, se encanta, porque é sensacional: tudo aberto, tudo livre para quem quiser poder aproveitar essa cultura que está disponível gratuitamente. Eu acho isso muito especial porque você vai conhecer um pouco mais de cultura, e aqui está aberto para isso.

Rotina
Escuto meu nome diversas vezes no rádio, no telefone! A minha rotina é um pouco louca. Normalmente, eu chego na minha sala, ligo o computador, vejo os pedidos de Ordem de Serviço. Vejo quais são as demandas, quais são as urgências para passar para o pessoal da manutenção e acompanhar o serviço. Dependendo, se for um serviço específico, mais de infraestrutura, eu tenho que acompanhar para ver se está tudo ok. Também passo algumas demandas para o setor de manutenção.
Fora isso, às vezes a gente tem mudança de layouts, que a arquiteta Zilah manda. Isso inclui algumas mudanças de mobiliário, no setor administrativo mas em outras áreas também – Bibliotecas, Acervo e assim vai. 
O que deixa a gente motivado e contente são os serviços, porque a gente faz o cuidado dos espaços. É uma vitória sempre que conseguimos fazer esse cuidado, porque isso permite que o Centro Cultural continue aberto e funcionando 100%. Sempre zelamos pelo público. Deixamos o prédio o mais bonito e o mais seguro para todos poderem usufruir do espaço – para as pessoas, são elas que mantêm o Centro Cultural vivo.

Cultura no CCSP
Vejo cultura no CCSP inteiro, no prédio inteiro. Existe uma diversidade sensacional de público aqui. Tem teatro que o público faz nos espaços abertos, tem dança. Vem o pessoal aqui fazer oficinas, fazer música. Vem o pessoal das Lakitas, que são uma parceria com a Ação Cultural, que faz atividades de música aqui embaixo, na Sala de Ensaio. A gente escuta aqui da manutenção, acho sensacional isso. Essa mistura de cultura que está sempre perto, essa diversidade que tem do público é sensacional. E tem em todos os espaços. Aqui no porão tem: a gente ouve os ensaios, o pessoal passando. Tem nos espaços de convivência: do lado do Foyer, o pessoal dança, o pessoal faz teatro. Tem lá no fundo no Jardim Sul. Até no Jardim Suspenso eu já vi o pessoal também fazendo dança, capoeira. Acho que a cultura está no prédio. Qualquer pontinho que você vai tem cultura.

Participação nas programações
Eu sempre tento participar da programação, de shows, teatro. Sempre que tem uma programação que eu me interesso, eu separo um tempinho para vir assistir ou participar. Tem algumas oficinas que eu até queria [ir], mas nem sempre tenho tempo tempo por causa das demandas do serviço. Tem umas oficinas que eu acho legal, como as de dança, de Hip Hop.
Em termos de show, tem diversos que eu já participei aqui: Demônios da Garoa, Ultraje a Rigor. Teve Planta e Raiz agora que foi bem legal. Eu sou bem eclético, então eu gosto um pouquinho de cada coisa. Assim como o Centro Cultural São Paulo. (risos)

02

ação cultural

Marta de Oliveira Fonterrada

Apresentação

Meu nome é Marta de Oliveira Fonterrada. Eu entrei no Centro Cultural em julho de 2014 e atuo como radialista num laboratório de criação sonora chamado Rádio CCSP. Eu trabalhei 18 anos na [TV] Cultura, mas tinha sido demitida num desses cortes e eu estava fazendo mestrado. A Janete El Haouli era diretora da rádio na época, e estava ministrando uma oficina de rádio com a Andrea Cohen sobre paisagem sonora, que é uma coisa que eu pesquiso. E aí eu vim super feliz. Quando cheguei aqui, a Janete estava doente, com problema na coluna, e não pôde vir. E eu comecei a assessorar a mulher [Andrea], peguei um pouco essa “responsa” para mim sem ter nenhuma necessidade, era mais pela amizade com eles. Daí, encontrei a Ângela Volcov, que estava aqui na curadoria de música. Quando ela me viu, ela lembrou de mim, porque eu tinha trabalhado com ela na Cultura, e me chamou para trabalhar aqui alguns meses depois.

Trajetória no CCSP

Ela me chamou para trabalhar na rádio porque precisava de uma pessoa para editar os concertos. Antes, na curadoria de música, tinha o lado popular e tinha um lado de música erudita, com concertos na Jardel Filho toda terça-feira e domingo. O programa de rádio era relativo aos concertos e era publicado no site.

Nesses anos todos que passaram, eu fiz outras coisas na Comunicação e depois fui para Ação Cultural em 2016 ou 2017. Eu falei: “Ah, eu vou para a Ação Cultural, mas eu vou levar a rádio comigo!”, porque praticamente só eu tinha sobrado na área.

Dia a dia no CCSP

Eu tive tempos muito intensos e tempos mais tranquilos. Depois da pandemia, a gente desacelerou um pouco. Lá em 2014, quando eu fazia esses concertos, eu ficava toda terça-feira para assistir ao concerto, mesmo não tendo essa obrigação, e depois editava a gravação. O concerto tocava aqui na terça e já na sexta-feira eu estava subindo a gravação editada no site. Aí eu ficava nesse “corre” de fazer a edição, de gravar e de fazer as outras coisas também, porque na rádio também tinham outros programas.

Bem no início, eu ficava só na rádio. Depois eu subi para o andar do setor administrativo, que é bem mais difícil de trabalhar com áudio por causa do ruído, passa mais gente, tem o som dos carros. Lá [no Estúdio de Rádio] eu edito sozinha; aqui [na Ação Cultural] é mais barulhento, mas ao mesmo tempo você conhece um monte de gente. Eu fico um pouco aqui na Ação Cultural, que é o lado burocrático, e depois desço para a rádio para fazer as coisas. Eu adoro ficar lá, na parte de criação ou de atendimento às pessoas que vêm gravar, ou fazendo edição, que é o que eu mais gosto de fazer. Por mim eu só ficava lá (risos), mas normalmente, eu acabo dividindo as demandas entre a parte “burocrática” e a parte “criativa”.

Chegando no CCSP

Eu chego de carro. Eu mudei de casa recentemente, faz um mês que eu me mudei pra aqui perto, mas eu morava na Granja Viana e vinha de trem e metrô, entrando pela rampa. Às vezes, eu vinha de carro. Se eu não conseguisse estacionar aqui fora, eu estacionava lá dentro, aí eu só subia a escada e já estava na Rádio.

Durante anos, eu vim de carro ou de metrô, depois eu descobri o trem que era mais fácil, apesar de demorar mais. Era mais constante e menos cansativo, então eu comecei a vir de trem, do trem eu pegava o metrô até a Vergueiro e subia sempre pela rampa.

Agora que eu estou morando perto, muitas vezes eu venho a pé, aí eu entro ou pela entrada vindo da [rua] Pires da Mota, ou pelo piso do meio, perto do restaurante. Às vezes eu venho de ônibus, que me deixa lá no Paraíso, aí eu venho descendo pelo piso da exposição. Eu venho por todos os lados que o prédio permite!

Cultura no CCSP

A primeira coisa que eu achei muito interessante logo que eu entrei na Rádio é o Modelo Vivo, que agora foi pras Salas de Ensaio. Eu lembro que tinha um casal, uma mulher de collant e asas de anjo, e um cara que também estava com asas de anjo. Tinham várias mesas e uma música alta, que eles colocavam, e ficavam posando para os desenhistas que estavam participando da oficina.

A primeira vez que eu saí da Rádio, eu dei de cara com eles e pensei: “Nossa que louco, cada dia que você sai daqui tem uma imagem diferente, uma coisa diferente acontecendo”. E isso ainda continua. Por exemplo, o corredor da dança tem sempre um monte de dançarinos. Tem dia que você se depara com dançarino de samba, tem dia que é dançarino de forró. Esses meninos do Hip Hop, que são os que mais estão [por aí]. O corredor da dança é interessante, sempre que eu passo eu paro para olhar. Vir pelo [piso] Caio Graco eu acho uma delícia, porque eu percebo que mudou a exposição de Artes Visuais para uma que eu ainda não vi. Daí eu começo a dar um tempo nas exposições, ouvindo as coisas. Aí já vou para o Jardim Suspenso. Depois, desço pelas Bibliotecas e vejo o pessoal.

Eu gosto muito de ver as ocupações, me chama muito a atenção, porque vai muito além da programação. Talvez por ser da Ação Cultural, que fica fazendo essa intermediação entre público, programação e acervos, eu gosto muito. E até na rampa a gente já vê muita coisa acontecendo. É cultura o tempo todo, uma arquitetura maravilhosa. Os jardins… quando você quer sumir um pouco daqui, você vai pro jardim e olha lá para baixo. Você vê aquela obra da Tomie Ohtake, na 23 de Maio. É tudo muito bacana, é difícil não ver arte aqui. E mesmo os acervos, vira e mexe eu estou em contato com o Rafa da Missão ou com Marçal da Discoteca, o Aloysio, o Jefferson da Discoteca. 

Memórias especiais no CCSP

Todo fim de ano, quando o CCSP fechava, tinha um show de calouros. As pessoas se inscreviam e se apresentavam no último dia. A gente ia na Adoniran, geralmente tinha um coquetel fora ou em outro lugar, e aí sentava todo mundo para assistir o show de calouros, que era com os funcionários do CCSP.

Então tinha o Jefferson tocando violão, a Priscila da Memória cantava e o Lanza apresentava. E, gente, não tinha nada igual àquelas apresentações. É muito engraçado, muito divertido e muito bonito ver esse outro lado dos seus colegas de trabalho!

Projeto favorito da Ação Cultural

Um que foi muito legal foi o “Peripatumen!”, que era um projeto de filosofia para crianças. No final daquele mesmo ano, [a programação] ganhou um fomento e daí entrou a pandemia.

Ele acontecia no piso expositivo do meio, o Flávio de Carvalho. A gente colocava vários pufes, convidava uma pessoa, geralmente um filósofo, e os pais iam com as crianças. Tinha uma equipe de visitas que ia fazer um tour com os pais enquanto o convidado ficava com as crianças, desenvolvendo alguma coisa, e depois os pais voltavam e juntos faziam um debate final. Era muito legal. Eu gostaria que voltasse a acontecer porque foi uma coisa muito pontual, mas muito forte. Foi uma coisa bem cultural mesmo, para fazer criança pensar.

(…)

Eu estou aqui há 10 anos e eu gosto muito. Eu já trabalhei em empresa privada, mas nunca me identifiquei, sempre fui do público. 

As pessoas se sentem bem e a gente também. Sente como se fosse a nossa casa. Às vezes, eu acho que aqui é mais a minha casa do que a minha casa. Eu gosto demais daqui, mesmo com todos os defeitos, que todo lugar tem, a gente gosta daqui, está dentro do nosso coração. Eu estou falando no plural, porque eu sei que vários funcionários também sentem isso do jeito que eu sinto.

03

produção

Paulo Jordão

Cidade nova, vida nova: primeiros contatos com o CCSP

Meu nome é Paulo Jordão e eu sou da Administração de Salas. Desde que eu entrei aqui em 1996, eu sempre trabalhei na Administração de Salas.

Eu vim pra São Paulo batalhar a vida. Inicialmente, era para passar só três meses nessa cidade. Sonhava em ser artista, sonhava em ser ator. Eu não tinha dinheiro para ficar, mas queria conhecer a cidade. No fim, eu fiquei [em São Paulo] de março até setembro de 1995… Eu passei muito tempo aqui, e nesse tempo eu vinha todo dia no Centro Cultural – o pessoal até pensava que eu estava trabalhando aqui!

Em março de 1996 eu fui trabalhar com um show do Toquinho. A turnê ia começar em São Paulo em maio e ia circular pelo Brasil todo, mas eu já estava namorando o Centro Cultural, para vir trabalhar aqui. Eu sempre falava para o pessoal: “quando tiver um negócio aí sobrando, me dá um toque, que eu quero trabalhar aqui”.

Quando surgiu a oportunidade, um tempo depois, ligaram. Minha mãe atendeu e disse: “Ligaram pra você do Centro Cultural, é pra você ir lá amanhã sem falta”. Era minha chance.

Eu vim para passar dois anos no CCSP, para arrumar a minha vida financeira, para pagar o que eu estava devendo. Só que quando eu cheguei aqui, já na primeira semana, teve um evento do Mercosul, Brasil e Portugal, algo assim, e tinha que virar a noite. Minha chefe, na época, disse que iria precisar de mim, que sabia que eu fazia muito trabalho como freelancer, mas que me queria aqui. E aí eu fui ficando.

Rotina (ou não) na produção

Tem dois centros culturais: o Centro Cultural à noite é uma coisa, durante o dia é outra. Durante o dia é essa coisa mais administrativa, burocrática, essa coisa toda. E à noite é essa coisa mais prática, cuidar de espetáculos, de shows, de danças, de todos os eventos. E aí você lida com pessoas, com o público de modo geral, com funcionários e com as produções. Eu chego aqui e eu olho a programação do dia. Vai ter o show daqui a pouco, tal peça depois. Eu vou nos espaços e começo a me preparar para esses eventos acontecerem.

Quando as produções chegam aqui, as equipes de teatro, de dança, de shows, elas já chegam completas, então a gente vai dar um apoio, vai dar uma assessoria, ver o que eles precisam. A gente trabalha com muita coisa ao mesmo tempo, por isso eu não tenho uma rotina propriamente dita, é como a vida: eu não sei o que vai acontecer hoje, eu tenho que estar pronto para os imprevistos dos espetáculos. Eu cheguei hoje aqui para trabalhar, e vai ter um show pra gente cuidar, depois um teatro. A produção é como a vida, vai aparecendo e você tem que ir resolvendo.

Quer dizer, tem um espetáculo e de repente um ator pegou dengue ou algo assim. Esses imprevistos acontecem de vez em quando, e aí a gente tem que estar preparado: saber lidar com as situações inusitadas que pintam no dia a dia, informar o público. […] Você tem que estar aberto para resolver problemas e lidar com pessoas.

Histórias

Eu já recebi ligações aqui de pessoas perguntando que peça ia passar naquele dia, qual o preço, quais os horários. Gente que eu percebia que vinha pela primeira vez no teatro e tinha escolhido justamente o CCSP… Isso é muito bacana.

04

comunicação

João AMARO

Trajetória no CCSP

Eu trabalhei em três períodos aqui. De outubro de 1991 até junho de 1995. Aí saí. Nesse meio tempo, a gráfica comprou uma máquina nova. O rapaz encarregado na época, que já até faleceu, me chamou e eu voltei. Isso foi no primeiro dia útil de 2004. Saí de novo na pandemia, em 2020. O Centro Cultural ficou fechado a partir de março de 2020 e a equipe ficou afastada. Nesse tempo, a gráfica foi fechada e eu saí, com um colega. 
Nesse intervalo, fiquei trabalhando lá fora. Eu já estava aposentado. Não pela prefeitura, mas pela previdência. Em outubro de 2021, fui chamado de volta para reativar a gráfica e estou até hoje. Se for contar tempo a tempo, já faz uns 24 anos mais ou menos que eu estou aqui, sempre exercendo a função de impressor de offset. Depois que voltei, fiquei mais à frente, porque eu tenho um conhecimento e sou o mais velho daqui… Eu procuro organizar os trabalhos, vou distribuindo e fazendo os trabalhos conforme os pedidos que vêm para nós.

Dia a dia de trabalho

O trabalho mais complicado que fizemos até hoje foi esse aqui: um catálogo com duas faces. Tem dois lados. Levamos três meses para fazer, com cinco pessoas na equipe. Foi muito complicado, mas depois de pronto a gente se sente feliz. Fica feliz por ter conseguido entregar o trabalho e pelos elogios que recebemos. Na época, a impressão era só eu. Eu vou na máquina de impressão. Depois vou lá cortar o papel. Depois vou lá (aponta) para cortar o papel e depois a gente vai para as máquinas de dobra. Depois volto para cá para grampear. Depois de grampeado, volto para máquina de corte de novo para refinar. Aqui na gráfica tem três “Joãos”: João Francisco, João Batista e o João Gomes.

Já trabalhei em escritório. De terno e gravata todo dia, com máquina de escrever. Mas não adianta, não era o que eu queria… Eu gosto disso aqui. De sujar as mãos com tinta, usar osprodutos aqui. Não é qualquer um que aguenta, não. 44 anos praticamente na profissão. Não tem trabalho que é chato aqui. O que vier a gente faz e com o maior carinho.
Um trabalho que gostei muito de fazer foi o álbum dos funcionários, em 2018. Todo ano tem aquela foto que o pessoal faz dos funcionários. Nesse ano, eles fizeram um álbum de figurinhas com as fotos dos funcionários. E aí fizeram o projeto para rodar aqui. E deu pra fazer. Distribuiu para todos os funcionários da época. Foi um trabalho que foi muito bom de fazer, porque o pessoal via o próprio rosto nos impressos. Foi um dos melhores trabalhos que fizemos aqui. Foi só elogio. 

Memória no CCSP

Eu perdi muitos amigos daqui, né? Às vezes eu entro aqui na porta e relembro aquele pessoal que foi encarregado, um companheiro que trabalhou comigo até 2019 ali e acabou falecendo em 2020, 2021. De vez em quando você entra e vê a máquina do colega trabalhar, você lembra. Vem na memória. Não tem como. Nessas épocas de fim de ano, você lembra do pessoal que se reunia aqui, fazia uma festinha. Era muito bom. As datas são especiais, mas também tristes. Agora, sobre o CCSP não posso reclamar, não. Sempre tive bons amigos aqui. Tem alegria mesmo com essas perdas, que acontecem na vida de todo mundo. Gosto bastante daqui, tanto que saí e voltei. Vamos ver quanto tempo vão me aturar aqui. E também quanto tempo vou aguentar. Estou ficando velhinho…

 

Percursos e caminhos no CCSP

Já tive momentos difíceis para vir para cá. Eu morava lá em Guarulhos, no bairro dos Pimentas. Longe, né? Só o tempo que você perdia… Agora estou morando em Itaquera. Tudo mais fácil, o acesso ao metrô. Você pega a linha vermelha, a linha azul e você já está aqui. É coisa rápida comparando com o que eu pegava antes. Entro pela Vergueiro, pela rampa. Pego a escada da portaria lá de cima e venho descendo. 

 

Cultura

Eu já estive em muitos eventos aqui. Teatro, música. E inclusive fazia convocação ali na parte do teatro. Tinha que acompanhar uma peça de teatro, por exemplo, desde o início até o final. Esperar os artistas terminarem com os autógrafos e fechar. E só depois ir embora. Era muito bom, muito bacana. Já vi muita coisa legal nesse Centro Cultural.

05

biblioteca

Maria Evangelista

Apresentação e trajetória
Meu nome é Maria Evangelista e sou assistente administrativa. Eu vim pra cá em 1997, então estou aqui há exatamente 27 anos. Minha vinda para o CCSP se deu assim: eu era funcionária da Secretaria Municipal de Saúde, até que foi criada uma parceria público-privada. A saúde acabou sendo privatizada, o chamado PAS (Plano de Atendimento à Saúde). Quem não quis aderir ao PAS, foi convidado a procurar um outro lugar para trabalhar. Eu fui pensando em lugares, e pensei que deveria aproveitar e ir para um lugar que eu gosto. Não que eu não gostasse da saúde, não é isso, mas eu era da área administrativa e ver as pessoas doentes mexia muito comigo. Eu disse: eu quero ir para um local onde eu não veja sofrimento. A área da cultura é ligada, em parte, à alegria, né? A pessoa está no teatro, em uma biblioteca, em um show… Sempre alguma coisa que traz alegria. Eu falei assim: “Não, chega de sofrimento! Eu quero ir para um lugar onde as pessoas venham alegres”. Acabou me dando estalo de vir ao CCSP ver se tinha vaga. Eu fui muito bem recebida pelo diretor administrativo e ele me convidou para ficar em uma atividade estritamente administrativa. Essas coisas assim, com papéis, mesmo, com contrato. Naquela época não era tudo online, tudo digital. Eu respondi: “Ah, eu não quero, não. Se eu puder, eu quero ir trabalhar na biblioteca”. Eu sempre gostei muito. Era um sonho antigo trabalhar em biblioteca. Eu sou do interior de Minas Gerais, de uma cidade que se chama Dores do Indaiá. Naquela época, não tinha biblioteca lá. Talvez até tenha hoje, mas naquela época não tinha. Quando eu fui morar em Belo Horizonte, conheci uma biblioteca pela primeira vez. E, meu Deus, foi um mundo encantado. Eu ficava o dia todo na biblioteca, lá no centro. É uma biblioteca que existe até hoje, na praça da Liberdade. Ela é bem conhecida, é uma das maiores. Tipo uma Mário de Andrade de BH. E aí eu ficava lá o dia todo…

Percurso no prédio
Eu venho da Zona Leste. Eu moro na Grande São Paulo, na região Leste, em Ferraz de Vasconcelos. Eu venho de trem, pego a Linha Coral até a Estação da Luz. Quando eu chego na estação da Luz, faço transferência para a Linha Azul, no sentido Jabaquara. Eu desço na Vergueiro e faço aquele acesso da estação que dá direto no Centro Cultural São Paulo. Eu entro pelo Foyer e venho caminhando até a Gibiteca. Às vezes, eu sinto que eu sou um pouco resistente à mudança. Eu fiz esse caminho e deu certo. Não quis mais mudar a rota, desde que eu entrei aqui.

Memória especial no CCSP
Uma época, apareceu uma senhora que fazia doutorado na área de literatura. A tese dela era sobre Guimarães Rosa, que tem uma linguagem bem peculiar. Ela falou que há quem diga que o jeito que ele escreve é falso, que as pessoas de Minas Gerais não falam exatamente do jeito que é representado por Guimarães. Eu respondi: não, não é falso, não! Essa linguagem realmente existe, porque eu sou do interior de Minas. Eu ainda tenho muitos parentes que moram na roça e eles falam desse jeito. Eu já li Guimarães Rosa e os mineiros falam assim mesmo… “Mas é pequeninin’. É pequeninin, é rapidin’”. O “minerês”. Então, a pesquisadora me entrevistou e colocou meu nome na tese dela. Ela disse que as pessoas que não conhecem Minas Gerais não sabem como realmente é. O regionalismo é uma coisa muito peculiar. Esses dias eu estava assistindo uma entrevista com o Mia Couto. Ele mora numa região de Moçambique que também existe um tipo de regionalismo. Como as obras dele foram traduzidas para muitos países, ele contou que muitas vezes os tradutores entram em contato com ele para tentarem entender alguns trechos. Porque o tradutor fica sem saber. E é o que acontece lá em Minas. Então, a pessoa que fala que não existe essa linguagem é porque não sabe, não tem ideia do que é regionalismo.

Rotina no CCSP
Todos nós sabemos que o brasileiro lê muito pouco. Então, procuro focar no atendimento, principalmente quando é criança. Incentivar e agradar a criança para que ela possa aprender a gostar de ler. A minha missão é essa. Porque tem muita gente na minha família, dos antigos, que não é alfabetizada. Minha mãe era analfabeta e pobre. Na minha vida, passaram pessoas muito boas, muito boas mesmo, que incentivaram e ensinaram a minha família a importância do conhecimento e do estudo. Então, nós fomos estudar. Sofremos muito para estudar, mas conseguimos. Então, eu sei o quanto é importante estudar, ler. Sempre gostei muito de ler. Eu tento passar isso, principalmente quando se trata de criança.
Quando é adolescente, eu tento incentivar também. Adolescente gosta muito de mangá e eu tento: “Ah, então, tem esse mangá que a gente recebeu e tal”. Adolescentes realmente amam mangá, e é uma leitura que desenvolve o intelecto, porque aqui no Brasil a gente tem o hábito de ler de um lado específico. E o mangá é ao contrário. Um exercício que você faz no seu cérebro, né? Não é tão fácil ler um mangá para quem não está habituado. Nós, que trabalhamos em biblioteca, temos que incentivar a leitura.

Público do CCSP
Aqui, de público, a gente tem de tudo. Desde pessoas em situação de rua, pessoas que moram em albergues e pessoas de um nível social mais elevado. Teve uma vez que veio uma escola muito chique aqui, veio até com segurança. E chegou uma pessoa em situação de rua que sentou do lado das crianças. E esse encontro é algo que o próprio prédio proporciona. Aqui é um lugar público, então todo mundo pode vir, sim. E todo mundo tem direito de ser bem tratado. 

Cultura no CCSP
Aqui é um local de diversidade, um lugar eclético. É muito interessante os espaços de convivência que são utilizados para quem quer praticar dança: tem Hip Hop, tem tango. É muito diversificado, onde a diversidade reina todos os dias, tanto de atividade quanto de público. Às vezes você está voltando do almoço, tem uma pessoa dançando e você pára, dá uma olhada. É muito gostoso. Tem um funcionário que sempre de manhã vai ali no piano e toca. E, nossa, que delícia começar a trabalhar assim. Hoje ele tocou “Asa Branca”. É um espaço surreal.

Livro marcante do CCSP
Fico tocada com a história da Carolina Maria de Jesus. Li “Quarto de Despejo” e alguns outros livros dela. Dei uma pesquisada na biografia dela e fiquei muito tocada. Ela sempre gostou de escrever, morando ali na favela do Canindé. Foi um jornalista lá (na favela) para fazer uma cobertura. E… acho que ela fez de propósito, né? Deu um jeito do jornalista ver os escritos dela. E ele ficou impressionado. Acabou conseguindo uma editora e o livro foi publicado. A única coisa que me deixa meio chateada é que ela ganhou muito dinheiro, os livros foram publicados em vários idiomas, mas ela morreu pobre. Mexeu muito comigo. E ela saiu de um lugar, assim como eu, de um contexto em que as pessoas eram analfabetas. E ela teve esse poder com a palavra super impressionante. Às vezes eu me sinto meio Carolina, né? Eu também vivi muito tempo em um contexto onde quase todos eram analfabetos. Eu gosto e sempre gostei de ler. Quando eu morava no interior de Minas, como eu falei, não tinha biblioteca. Às vezes, naquela época, se eu comprava alguma coisa no mercado, eles embrulhavam no jornal. Eu comprava mandioca, pegava aquele jornal e lia todo ele. Lia tudo. E isso tem muita coisa de ter pessoas boas passando pela sua vida. Eu tive um professor que sabia da pobreza dos alunos dele. E aí ele falava assim: “Gente, tudo o que vocês verem pela frente vocês leiam! Até bula de remédio”. Jornal de meses atrás, que embrulhava a mandioca, eu lia ele todinho. E hoje, nesse momento mesmo, eu estou rodeada de livros. Na minha casa também, com os livros que eu quero reler. Sabe aquela fase que você vai relendo os livros que já foram lidos? Tem aquele livro “A sangue frio” do Truman Capote. Eu li esse livro quatro vezes e cada vez que eu leio eu tenho uma visão diferente.

06

acervo

Andrea morelatto

Apresentação
Meu nome é Andrea Morelatto, hoje eu pertenço à equipe do Laboratório de Conservação e Restauro, mas eu trabalho fisicamente no Arquivo Multimeios, e praticamente minha vida inteira eu trabalhei lá – já estou aqui há mais de 30 anos. Sou a conservadora responsável por todo o acervo do Arquivo Multimeios, que tem mais de 1 milhão de documentos. Tem muita coisa, é muito variado: papel, fotografia, filme, fita. A minha especialização é em papel, mas eu cuido de um pouco de tudo que tem lá.

Percurso no prédio
Hoje, como eu disse, atuo no Arquivo Multimeios. Desde o metrô, na rampa, eu já venho encantada com esse lugar. Eu fico super emocionada. O que me chama muita atenção é essa parte verde, os jardins, o cuidado que as pessoas têm. Eu vejo como se estivesse gravando um videoclipe, só falta a musiquinha, mas a gente imagina, né? Enquanto subo a rampa, fico olhando as árvores e as pessoas que ficam paradas ali, tem pessoas que são fixas, que ficam nas mesinhas aqui em cima, tem o pessoal que fica estudando inglês, tem o casalzinho que fica conversando, e muitos outros detalhes. Meu dia já começa bem, sabe, muito bem. Aí eu desço as escadas, eu sempre recebo um bom dia dos funcionários que fazem o controle de acesso. Vou descendo a escada, encontro com os jardineiros que estão molhando as plantas. Aí eu chego no Arquivo, onde fica a minha mesa. Minha mesa fica em um lugar muito privilegiado, porque ali ela recebe a luz natural que vem dos vidros que dão para a rua Vergueiro. E essa luz é muito boa de trabalhar, para o meu trabalho é muito boa, eu adoro luz natural. Aí às vezes a gente tem um fundinho musical do pessoal que fica ensaiando ali nas mesinhas de xadrez. Ali dá para escutar algum som, quase sempre nas segundas-feiras tem alguém que fica ensaiando. A minha mesa fica do lado da Biblioteca Infantil, então também sempre tem essa escuta das crianças, da empolgação das crianças com os brinquedos. Para mim é um lugar muito vivo, a gente sempre está vendo muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, nesse pequeno caminho a gente vê tudo isso.

Um lugar para amar
Olha, tem 2 coisas que me marcaram muito. São muitas as lembranças, porque eu trabalho aqui há mais de 30 anos, então tem muita gente que eu conheci aqui, praticamente todos os meus melhores amigos da vida eu conheci aqui dentro. Aí não tem como ser diferente, mas a memória mais importante foi quando eu conheci o pai do meu filho. Na época eu fazia convocação nas artes cênicas e eu ficava ali no corredor orientando o público onde ficava o banheiro, o bebedouro, a saída. Eu estava ali no corredor dos banheiros que dava acesso a uma saída da Sala Adoniran Barbosa. Aí eu fui tentar abrir uma porta do lado do corredor e ele foi abrir a porta do lado de dentro da sala, porque ele também estava trabalhando aqui. Ele era iluminador. E aí a gente trombou assim e ele falou: “opa!”. E assim, eu nunca tinha visto aquele menino na minha vida e, juro para você, que quando eu olhei para a cara dele foi um momento muito mágico para mim, muito, muito. Eu juro que eu vi estrelinha, eu escutei musiquinha, não tem como dizer que não foi amor à primeira vista. A partir daquele momento a minha vida mudou para sempre: eu era casada, tinha uma vida fora daqui e larguei tudo para viver essa história de amor. E hoje eu tenho um filho que é a cara dele, então me lembra o tempo todo. E eu sou pisciana, né? Por isso que eu fico super emocionada. Foi a minha grande história de amor da vida.
E teve um outro momento que me marcou, ligado à parte profissional. Eu trabalhava no Laboratório de Restauro, era mais ou menos 2010, por aí. A gente tinha uma diretora de divisão que era uma restauradora de papel muito conceituada. E aí eu, que sempre trabalhei com o Multimeios, que são documentos em papel, fotografia, filmes, resolvi participar de um treinamento que ela ia ministrar, ensinando a dar banho numas obras de arte do acervo da coleção. Estava todo mundo super nervoso, a gente nunca tinha mexido com obra de arte. Ela ficou me observando e reconheceu que eu fazia tudo certinho, que eu era cuidadosa. E me convidou para mudar de área. Eu saí do Arquivo e fiquei por um tempo cuidando da coleção das obras de arte. Aquilo para mim foi muito inusitado, fiquei muito feliz em ter meu trabalho reconhecido. E o meu trabalho de restauração, que em tese é para ser imperceptível, foi reconhecido. Foi muito importante para mim..

Como o CCSP faz parte da sua rotina?
Eu conheço cada cantinho desse lugar. Eu seria capaz de andar de olho fechado, no escuro aqui dentro, e eu saberia onde eu ia tropeçar. É bem a casa da gente mesmo, né? Eu passo praticamente o dia todo aqui dentro, então minha rotina está totalmente ligada a esse lugar. Por incrível que pareça, até quando eu tiro férias eu passo aqui. São muitos anos de trabalho, e eu amo demais o meu ofício. Eu tenho plena convicção do privilégio que eu tenho de ser tão apaixonada pelo meu trabalho.

Cultura no prédio
Tem essa coisa da cultura estar presente em cada centímetro desse lugar. A gente vem andando pela rampa e já vê as obras de arte que pertencem à coleção espalhadas pelo prédio, no corredor de dança, onde ficam os meninos dançando, rodando ali no chão, as meninas sambando. Todo lugar que você olha você vê alguém lendo, cantando, estudando, tocando, conversando, ensaiando. Acho que isso é o que tem de mais apaixonante nesse prédio. É um refúgio para a loucura do mundo que está lá fora. Sem contar que no dia a dia, em cada documento que eu fecho um rasguinho, em cada foto que eu colo no álbum de figurinhas dos contatos, é cultura o tempo inteiro. Cada documento que a gente lê, que a gente pega na mão, o tempo inteiro a gente está lidando com isso. Todo lugar que a gente vê, a gente respira cultura aqui dentro. É um lugar incrível, muito mágico.

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curadoria

Aline Mohamad

Trajetória no CCSP
Eu sou Aline Mohamad, sou curadora do teatro do Centro Cultural São Paulo desde 2019.

Memória
Acho que a memória que eu tenho aqui é de quando eu pisei aqui. Eu sou do Rio e fui convidada para vir morar em São Paulo, para trabalhar aqui. Tive essa honra. Eu estava namorando morar em São Paulo há alguns anos, mas estava meio “assim”, sabe?. Nessa instabilidade, nessa loucura de vida de artista. E quando a Sônia me fez o convite para estar com ela na curadoria de Dança, como assistente dela, eu disse “Sim”. Eu falava pra algumas pessoas que eu estava vindo pra cá e todo fazia: “Ah, o CCSP…”. Os paulistas que moram no Rio. E eu pensava: “nossa, que engraçado, né?”. Porque todo mundo tinha memória com o CCSP e eu não tinha nem ideia do que era aquilo. E aí eu tive a minha primeira reunião. Eu tinha acabado de chegar em São Paulo, vim (para o escritório) no dia seguinte do dia que eu cheguei com a mudança. Vim de metrô. Falei: “Ah, vou saber chegar lá de metrô”. É claro que eu parei errado, parei lá em cima: desci no Paraíso ao invés de descer na Vergueiro. E aí isso já me trouxe muitas memórias de quando estava nesse sonho de vir morar em São Paulo e passei aqui na porta. Falei: “Nossa, que negócio grande! Depois eu volto aqui para poder saber o que é esse negócio”. Não sabia o que era, só vi que era uma coisa muito grande. E aí, de fato, eu voltei para esse negócio. A minha memória vem muito desse primeiro dia. De quando eu vi o que estava acontecendo mesmo. Hoje eu não sou mais assistente e nem estou na linguagem de Dança, sou curadora de Teatro… Quantas mudanças na minha vida a partir da entrada nesse Centro Cultural… Daí, desde então, tudo é memória, né? Tudo ficou.

Rotina
É um presente para mim trabalhar com cultura, viver da cultura e estar hoje em um centro cultural, sobretudo no CCSP. Eu gosto da não-rotina de fato. As surpresas, ainda que burocráticas, as surpresas artísticas pelas quais a gente passa. Não tem exatamente uma rotina. Sentar na minha mesa, com o Marcos, com o Wallace, e conversar sobre o teatro. Pensar quais são os nossos próximos passos. Ter esse campo da ideia como um trabalho para mim é muito prazeroso, de fato. Acho até estranha a palavra “rotina”. Nunca tive rotina. O Centro Cultural me traz uma rotina quando eu tenho que, de segunda a sexta, de alguma forma estar aqui. Mas meu trabalho [de curadora] não é um trabalho de rotina. Então, eu não trabalho das 10h às 19h. Eu trabalho a todo instante, porque a cabeça não para, porque eu saio daqui às 19h e vou assistir a uma peça. E eu gosto disso. É loucura, mas eu gosto disso assim.

As coisas acabam acontecendo, né? Lembro de uma vez que estava passando pela República e a gente estava querendo fazer um projeto de curadoria sobre o aniversário de São Paulo. Eu já estava pensando no que eu faria. E eu amo um churrasquinho grego. Um vício. E aí nessa de amar, eu vi um churrasquinho grego e decidi comprar. Quando cheguei, na verdade, não era só um churrasquinho grego… era uma performance. Um grupo de teatro fazendo uma performance e aquele churrasquinho grego fazia parte da performance deles. Era maravilhoso! Eles estavam fazendo um trabalho ali no meio da República com trabalhadores do centro e tal. Isso é muito incrível. Eu falei: “Aí… aí… A cidade já está se apresentando”. Então é isso: o que seria só uma pausa de horário de almoço, era uma performance teatral. Isso faz parte desse olhar curatorial contínuo.

Percurso dentro do prédio

Eu entro, na maioria das vezes, pelo metrô, na Vergueiro. Entro e venho direto para cá, pela escada da administração mesmo. Os espaços que mais frequento são a sala Jardel Filho e o Espaço Cênico Ademar Guerra, claro. Mas eu gosto de buscar novos espaços para que se tornem espaços cênicos, ainda que temporariamente. O Foyer ou o Jardim, por exemplo, quando eu vou lá e dou uma mexidinha num artista para fazer uma performance. É um prédio que tem muita coisa e tudo para mim se torna cênico. Quando a gente faz uma temporada no Espaço Missão, sempre falam: “Aline, vamos fazer espetáculos só nas áreas cênicas?”. E eu falo: “Não… Não vamos, vamos para um outro lugar. É bom!”. Apesar de usar sempre a Jardel e a Ademar, eu acho que tem muita coisa ainda em que se pode mexer.

Cultura na Instituição
O mais legal no Centro Cultural São Paulo é a ocupação do público. Segunda-feira é um dia que o prédio está fechado. Com muitas aspas, estaria “fechado” para o público, mas as áreas de convivência continuam abertas. Em compensação, a coisa mais legal que se vê é a forma de ocupação que os moradores de São Paulo fazem aqui. Digo isso porque você entra ali pela Vergueiro, sobe a rampinha do metrô e então você vê alguém fazendo um ensaio de teatro. Aí você fala: “Legal… Ensaio de teatro!”. Você segue… e topa com Hip Hop. Meio passo depois, gente dançando valsa. Você pode querer ir lá pro fundo, para almoçar, e vai ter gente lutando boxe. Uma galera produzindo uma dança de salão. Então o CCSP é ocupado fortemente pela população. E essa ocupação bem que podia descer para os espaços cênicos também!
Por isso que eu acho que a gente também tem que aprender a ocupar essas áreas comuns enquanto curadoria. Aqui é um espaço onde a arquitetura em si já pulsa cultura. Esse monte de concreto, que é muito a cidade de São Paulo, esse concreto puro que é, ao mesmo tempo, um concreto que pulsa vida, um concreto pulsante. Essa ocupação como um todo. Eu fico me perguntando se as pessoas que esquentam a marmita do outro lado da rua, entram para cá e assistem alguém dançando forró, se elas param para pensar: “Cara, será que, de repente, não seria legal eu também descer no final do dia e assistir a um filme, assistir a uma peça?”. É tudo gratuito. É um espaço que ele já chama por si. Assim como me chamou. É esse concreto, é essa coisa dura. Mas que ao mesmo tempo é pulsante. Isso é muito incrível nesse espaço. Essa coisa bem ocupada. Ocupada no sentido amplo da palavra. Agora eu entendo as falas: “Ah, o CCSP…”.

Coordenação

Isabela Pretti

Entrevistas

Bárbara Bigas (estagiária)

Jasmin Santos (estagiária)

Web Designer

Edmarcio da Silva

Fotografia
Nina Gocke

 

Ministério da Cultura e Petrobras apresentam “Ronoel Simões: A Singularidade do violão brasileiro”.

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