No Centro Cultural São Paulo (CCSP), muitas pessoas contribuem com ações discretas, mas profundamente transformadoras. Marisabel Lessi de Mello, ou Bel, é uma delas. Servidora pública há 36 anos, com 8 deles vividos dentro do CCSP, ela tem atuado na Supervisão de Ação Cultural, onde sua formação como pedagoga se traduz em projetos sensíveis e encontros inesquecíveis.
“Eu não tenho cargo, eu tenho uma função pública: sou analista de desenvolvimento e assistência social”, explicou Bel, que desde que chegou ao CCSP em 2017, atua em diálogo constante com os demais setores da instituição, das bibliotecas aos núcleos de curadoria, tecendo pontes entre saberes, práticas e públicos diversos.
Entre tantas histórias, ela destaca com carinho a parceria com o coletivo Warmís – Convergência das Culturas, um grupo de mulheres imigrantes que, por 10 anos (de 2014 a 2024), ocupou o CCSP com programações marcadas por resistência, ancestralidade e afetividade.
“Elas problematizaram a imigração no Brasil, as violências específicas sofridas pelas mulheres imigrantes, a questão do pertencimento e do racismo. Trouxeram documentários, bordados com identidade cultural e o ritual da Pachamama, aberto ao público, como forma de celebrar a Mãe Terra”, lembra Bel.
Mas talvez o maior orgulho de Bel seja o ‘Peripatumen! O que as crianças pensam’, projeto criado em 2018 para estimular o pensamento crítico e filosófico entre crianças de 5 a 12 anos. “Falamos sobre quem somos, o que é a vida, o pertencimento, o racismo…”, diz. A metodologia envolvia encontros em que as crianças refletiam com facilitadores, enquanto os adultos responsáveis participavam de um passeio pelo espaço. Depois, todos se reencontravam para compartilhar as descobertas.
A proposta foi tão bem-sucedida que, em 2019, o Peripatumen foi um dos projetos vencedores do Prêmio Darcy Ribeiro de Educação, concedido pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), como uma das 10 melhores práticas educativas em espaços museológicos. Com o valor do prêmio, o projeto foi adaptado para ser levado a uma escola pública da zona sul, durante a pandemia, mantendo viva sua missão de democratizar o acesso ao pensamento e à escuta.
Quando questionada sobre o que diria a alguém que entra no CCSP pela primeira vez, Bel é direta: “Entre. Observe. Se sinta em casa.” Para ela, o Centro Cultural São Paulo é uma extensão da casa das pessoas, um espaço onde se pode estar sem obrigação de consumir, produzir ou pagar. “Aqui é o espaço da boa preguiça”, brinca. “Um lugar onde se pode construir memórias.”
Reportagem: Maria Paula Azevedo
Foto: Nina Gocke
Projeto: Sabrina Godoy