Marcos Martinz usa linguagem cativante para alcançar problemas nem sempre notados

Por Alexandre César | Redação CCSP | Fotos: Acervo pessoal

25/08/2025

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No último dia do Festival Internacional Literário de São Paulo (FLI Sampa), sábado, 23, o Centro Cultural São Paulo (CCSP) recebeu o escritor Marcos Martinz, que apresentou seus novos livros, mas falou mais do seu principal trabalho: Até que a Morte nos Ampare (MARTINZ, Marcos. 2021. Principis). A palestra fez a festa de crianças e jovens na Sala Paulo Emílio.

Acompanhado da atriz Alitha Genestra, no papel da noiva cadáver Rosinha, Marcos contou suas próprias experiências de infância, que foi chamado de “esquisito” por sua aparência e gostos culturais, além de sofrer bullyng pela sua baixa estatura e corpo franzino. Essas más experiências o levaram a uma depressão, ainda na infância.

Passei por muitos problemas na infância, principalmente na escola. Eu não tinha muitos amigos, e a maioria das crianças me chamavam de “esquisito” e outros nomes depreciativos, e tudo era motivo para o bullyng: o fato d’eu ser baixinho, ser magro, ter cabelos encaracolados… Eu não conseguia conversar com ninguém sobre o que eu estava sentindo e passando, nem para minha mãe, que é super protetora, eu tinha vergonha. Depois de ir a vários médicos, que pensavam que eu tinha Anemia, uma psicóloga me pediu para escrever o que eu sentia, já que eu não conseguia resumir em conversas. Ela chamou minha mãe e me diagnosticou com depressão, mesmo eu ainda sendo uma criança. Fiz tratamento, e ainda fui aconselhado a continuar escrevendo. A partir das anotações do meu caderno, saiu o meu primeiro livro, Até que a Morte nos Ampare, que foi um sucesso de vendas em seu lançamento – afirmou o autor.

Problemas que já atravessam décadas, mas que só nos últimos anos têm sido discutidos e combatidos, o abuso moral e físico na infância e na juventude, principalmente nas escolas, têm sido amplamente estudados e ganhado corpo entre pedagogos.

Experiências boas e ruins moldam o caráter e podem fazer com que as vítimas de abusos carreguem traumas não superados para o resto da vida, gerando sentimentos de rancor, raiva, solidão, timidez e outras situações que poderão prejudica-las no crescimento. Sobre isso, o autor acrescentou.

Eu acredito que pegar tudo isso que eu vivenciei na infância e na adolescência e transformar num livro que traz tudo isso de forma fantasiosa, lúdica e divertida é uma forma de eu pegar todos esses medos, chamar eles para perto. É como se fosse convidar para um café da Dona Morte, como tem lá, no livro, e a gente vê, e eu pelo menos vejo, que esses medos que eram tão grandes assim. Aquelas memórias, que eram tão assustadoras, quando eu as trago para a escrita, eu vejo que elas não têm tantas garras, não têm tantos dentes, esses monstros não são tão assustadores assim. Eu acho que falar sobre o que a gente sente é a única solução, é a melhor solução, e escrever também. E essa foi a forma que eu encontrei para que isso também incentivasse outros jovens, outras pessoas, a escreverem sobre o que eles estão sentindo. Muito por causa dos meus livros, eu recebo muita procura dos leitores, a maioria de crianças e jovens. Muitos são relatos de como a leitura trouxe, como as ajudou a identificarem o que estão passando por um processo de depressão e a buscar ajuda psicológica. Eu recebo muitas cartinhas, eu recebo muitos pedidos de ajuda, eu tenho parceria com consultório de psicologia que encaminha as crianças. Então, a gente tem a Rosinha, tem esse mundo fantasioso, lúdico, e no meio disso, ali dentro, a gente acaba despertando essa galerinha a cuidar da saúde mental – disse.

Mesmo fazendo apenas figuração nas palestras, Alitha Genestra afirmou que a Rosinha desempenha um papel fundamental, pois é muito parada nos eventos por crianças, jovens e adultos para tirar fotos, interagir sobre as obras e até mesmo para agradecer a sua ‘participação’ nas obras.

Eu trabalho com o Marcos há três anos, e sempre somos abordados com muito carinho pelos fãs, pelos leitores. Uma vez aconteceu algo que nunca vou esquecer, uma menina de uns 12 anos veio até mim, com uma lágrima nos olhos, me abraçou e disse: “Rosinha, muito obrigado, você salvou a minha vida…” ela não me deu detalhes como isso poderia ter sido, mas se ela esteve feliz por isso, significa que ela superou o que a afligia, e isso nos deixa muito contente – confidenciou a atriz.

Para quem quiser conhecer mais do trabalho de Marcos Martinz, basta acessar sua página no Instagram (eumarcosmartinz/).

O FLI Sampa, realizado pela Secretaria Municipal de Educação (SME), em parceria com as Secretarias de Relações Internacionais (SMRI) e da Cultura (SMC), é uma grande celebração da literatura e da cultura, que reúne escritores, artistas, estudantes, educadores e toda a comunidade para promover o encantamento pela leitura e a formação de novos leitores.

Para saber mais da programação de agosto, acesse o site do CCSP.

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