Por  Camila Martins* | Redação CCSP | 

27/11/2025

Confira toda programação do CCSP

Você irá encontrar: Artes Visuais, Ação Cultural, Cinema, Dança, Literatura, Música e Teatro.

Cada Tijolinho do CCSP

Registro Oral, Escrito e Imagético das Histórias de Quem Construiu e Constrói o Centro Cultural São Paulo

Essa entrevista faz parte de uma série de produções realizadas pelo Centro Cultural São Paulo em comemoração ao Dia da Consciência Negra. A entrevistada que inaugura a coletânea especial é Maria Luiza Meneses, curadora de Artes Visuais com experiência documental e artística, que estagiou no CCSP em 2022 e retornou à casa neste ano.

Durante todo esse período que você esteve quais projetos você já desenvolveu e desenvolve no CCSP?

A curadoria de artes visuais é composta por quatro pessoas: eu, Maria Adelaide Pontes, que também é curadora, Karen Doho, arquiteta e a nossa estagiária, Isabela de Barros. Somos uma equipe pequena e realizamos projetos majoritariamente coletivos, nos quais todas participam de forma muito ativa. No entanto, se houve um projeto em que estive um pouco mais à frente, coincidindo com as férias de Adelaide, foi a exposição “A Cidade CCSP 43 Anos”, em celebração aos 43 anos do Centro Cultural São Paulo, realizada em maio deste ano.

Uma lembrança boa que você tem aqui. 

Acho que mais do que um momento específico, uma lembrança boa está naquilo que construímos na relação com as pessoas. A equipe de artes visuais é muito unida, então, o cotidiano, saber que eu vou chegar aqui e eu tenho uma equipe muito dedicada e unida pra mim é uma lembrança boa cotidiana.

Gostaria de saber o que significa pra você o Dia da Consciência Negra?

O Dia da Consciência Negra é historicamente importante porque vem da luta do movimento negro pra visibilidade das pautas das relações étnico-raciais no Brasil, as desigualdades históricas a partir das raças, por conta do racismo e do colonialismo, estamos debatendo a colonialidade. No entanto, eu prefiro pensar numa outra perspectiva que é: quem precisa de consciência é o branco. As pessoas brancas de hoje não participaram dos processos históricos, mas elas se beneficiam do que os processos históricos criaram. Para mim a consciência negra ela diz muito mais sobre uma necessidade urgente de uma consciência branca e de sua responsabilidade atual e contemporânea para dissolução e  erradicação do racismo como estrutura da sociedade.

Pensando nessa dificuldade que grupos étnicos minoritários enfrentam, pessoas negras, o que você pensa de chegar até onde você chegou e ocupar esse cargo aqui no Serviço Público no Centro Cultural São Paulo?

Eu sou curadora de artes visuais num momento onde nós temos uma cena com muitos curadores negros. Acho que ainda tem muitas pessoas querendo se formar e entrar no campo, mas sem dúvida preciso reconhecer que estou onde estou por conta dessa luta anterior de um movimento que se organiza de uma maneira interdisciplinar e plural.

Eu me vejo como uma agente dessa continuidade, sou beneficiária de uma luta histórica e me responsabilizo. Mas, também entendo que a gente está no presente em um lugar no qual há  possibilidade de viver o mínimo, que é o direito de escolher uma profissão e poder vivê-la e isso tem que ser o direito básico de todo ser humano. Sem dúvida que as políticas de acesso e as políticas de acesso à universidade, de acesso à formação continuada, todas essas etapas envolvidas na possibilidade de acessar uma profissão são fundamentais e reconheço a importância delas, porém é interessante que estas nos garantem aquilo que é básico na vida, por exemplo, de pessoas brancas. 

Você como uma pessoa que vive cultura, a gente gostaria que você indicasse para o público alguma pessoa negra que serve de inspiração para você.

Uma referência um pouco óbvia, mas eu juro que nem tanto, é a artista visual paulistana Rosana Paulino. A partir do próximo ano, estará na Bienal de Veneza na curadoria de Diane Lima junto, ao lado de Adriana Varejão, ambas artistas negras. Rosana Paulino também foi a artista selecionada para o programa de exposições do Centro Cultural São Paulo, um desses trabalhos que nós realizamos na curadoria de artes visuais há 35 anos. Ela expôs aqui a primeira versão da Parede da Memória, uma das obras mais emblemáticas de sua produção, e um marco de arte contemporânea no Brasil. Minha indicação é uma artista que está aí, enorme no mundo e que começou sua carreira aqui no Centro Cultural São Paulo. 

Descubra como esse feriado surgiu e outras referências intelectuais sobre a história do povo negro (clique no link).

 

*Sob supervisão de Felipe Cartier e Alexandre César