Por  Camila Martins* | Redação CCSP | 

01/12/2025

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Essa entrevista faz parte de uma série de produções realizadas pelo Centro Cultural São Paulo (CCSP) em comemoração ao Dia da Consciência Negra. Edimarcio Silva, webdesigner no CCSP há cerca de 29 anos, e que expressa grande “felicidade” e “identificação” com seu trabalho, é quem concede a segunda entrevista deste especial.

Em todos esses anos, eu gostaria de saber que projetos você desenvolve e desenvolveu aqui.

Tivemos muitos projetos. O que mais gostei foi o Navegar é Preciso, logo quando eu entrei aqui no Centro Cultural São Paulo. Na época que eu conheci realmente o que era e o que representava o Centro Cultural São Paulo para a cidade.

Uma lembrança boa que você tem aqui. 

Várias lembranças. Na época, foi o Mercosul, logo quando eu entrei, e o Navegar é Preciso, que foi um evento mais pro infantil e para o adolescente do que para o adulto. Acho que foi muito impactante minha entrada no CCSP, descobri que existia esse lugar público e gratuito de acesso à cultura. Porque eu era um cara de periferia que não tinha conhecimento do que era um teatro, uma apresentação musical; esse ambiente que é gratuito, que a gente pensava que só existia em compras de ingressos e tudo mais. Achava que uma peça de teatro era só pagando e era caro pra gente poder assistir. Aqui tem vários shows musicais, livros e exposições e trabalhar num ambiente assim é muito bom. Eu indiquei isso para várias pessoas e amigos que também não tinham acesso, não sabiam que a gente podia usufruir de um lugar como esse. 

Pensando nessa linha, qual a importância, na sua opinião, do CCSP em divulgar a arte e a cultura negra?

Importantíssimo. Esse lugar aqui é maravilhoso. Na época que eu entrei aqui, esse corredor que a gente tá conversando não tinha tanto uso como tem hoje. O pessoal usa para dançar e para ensaiar. Isso vai acumulando, trazendo outras culturas, outros modos de usar o equipamento público, que é o espaço que a gente tem aqui.

Pra você, o que representa o Dia da Consciência Negra?

Essa pergunta representa muita coisa. O orgulho de ser negro, a representatividade daquilo que todos os negros que sofreram, as separações das suas famílias, a escravidão. Na posição que a gente tem hoje, de poder andar, comprar uma roupa, entrar, comer, se alimentar, ir num restaurante, ter voz ativa em alguns momentos, acho que foi toda essa caminhada que os nossos antepassados tiveram para que hoje a gente tivesse essa condição e privilégio. Então é um momento de reflexão. De pensar e falar, eu tenho orgulho do meu cabelo, do meu nariz, da minha boca, da minha cor, da minha pele.

Como e quando você se entendeu como pessoa negra?

Quando eu me entendi como pessoa negra, percebi que eu era ‘diferente’, acho que foi através da discriminação, na escola. A partir do momento que eu comecei a sofrer discriminação racial, com os amiguinhos, o que já de dentro de casa, de uma educação dos pais. Porque a criança aprende isso, a criança não cresce sabendo que por você ser de uma outra cor isso vai influenciar em alguma coisa no convívio. Cheguei até a chorar na classe por não entender. E ficar constrangido por todo mundo estar olhando pra sua cara, dando risada de você. Sofrendo a discriminação que a gente conhece.

Por último, gostariamos de saber, como uma pessoa que vive cultura, uma outra personalidade que você indicaria para o nosso público, uma pessoa negra?

Eu não admiro uma pessoa, eu admiro um grupo, que me fez refletir em várias questões, principalmente a do empoderamento e de se aceitar como negro, e por ser um cara periférico é o grupo Racionais. Na minha época foi assim, meu entendimento de quem eu era, o que eu poderia ser e que eu tinha uma escolha, em ser a pessoa que eu quero ser, tanto para o mal, quanto para o bem.

Descubra como esse feriado surgiu e outras referências intelectuais sobre a história do povo negro (clique no link) e acompanhe a entrevista com a curadora de Artes Visuais, Maria Luiza Menezes (clique no link).

 

*Sob supervisão de Felipe Cartier e Alexandre César