Por Camila Martins* | Redação CCSP | Ilustração: Reprodução | Foto: Reprodução
28/10/2025
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Cada Tijolinho do CCSP
As tendências de consumo variam a todo instante na atualidade. Os memes, as roupas e a fotografia denunciam padrões que ditam qual será “a moda da vez”. Com a constante exposição nas redes e bombardeamento de informações do mundo ao redor, o público em geral, e principalmente os chamados nativos digitais enfrentam em meio a evolução tecnológica a necessidade de inovar as maneiras de entreter-se, desprender-se do mundo e adentrar em uma nova esfera: a Arte – tão alucinante e presente dentro do CCSP , o qual carrega em si um universo à parte em suas mais distintas formas, exposições.
Assim, câmeras analógicas, fotos reveladas, acessórios ousados, brechós retrôs estão de volta e remontam a cena de décadas passadas. O chamado “feed zero”, nome dado à propensão de não exposição e postagens nas redes sociais, expressa a vontade de ser e controlar quem é. Na música não é diferente, e se permite-me, eu Camila, descrevo aqui através de rimas a magnitude a incessante vontade de conectar-se com algo e emocionar-se:
Sebos de CDs e vinil,
mp3 e fones de fios,
despertam ecos sutis,
memórias e sons gentis.
Entre chiados e trilhas sonoras guardadas,
a música convida a descobrir,
novas antigas formas de tocar e sentir –
como se o tempo pudesse ainda caber nas mãos.
De fato, nossos cinco sentidos e vibrações são ferramentas inestimáveis não apenas para escapar da realidade que nos permeia, mas para exercer a capacidade humana de externar idéias, visões de mundo, uma verdadeira força de expressão.
Trilha sonora de momentos felizes e tristes, a música celebra e acompanha a trajetória de cada indivíduo: funk, rock, erudito, popular, gospel e rap. Os mais variados ritmos, sonoridades e batidas penetram a alma e irradiam mudanças de humor no corpo.
A relação entre música e desenvolvimento neurológico é extraordinária. Segundo pesquisas feitas por Mauro Muszkat que é neurologista, neuropediatra e professor da Unifesp, por exemplo, a harmonia sonoras estimula o cérebro aumentando “a flexibilidade mental e a coesão social” atuando, inclusive, como fator de melhora em doenças como depressão ou Alzheimer.
O som ecoante da infância, do rádio do carro de um parente ou dos clássicos hinos de karaokê são evidências da universalidade e transformação dessa arte, que mesmo com inovações em seus meios não tornou-se obsoleta ainda que diante de tecnologias e plataformas como Spotify.
A conexão da Música com memória e afetos
Diante disso, o Centro Cultural São Paulo reconhece em sua curadoria e programação a essencialidade desse saber. “Sou Som: a música que toca em mim”, iniciativa idealizada por Djayson Marcio e Marta Fonterrada, ambos da supervisão de Ação Cultural. Eles desenvolvem atividades interativas que buscam conectar a música às pessoas, gerando memórias e afetos. Dessa vez, em parceria com a supervisão de Acervo, através da Discoteca Oneyda Alvarenga.
Em 2017, a proposta teve como público alvo frequentadores do CECCO, além de outros inscritos, a partir de uma demanda do próprio CECCO Ibirapuera (Centros de Convivência e Cooperativa). “A parceria se deu porque […] a arte terapia já fazia parte do processo de trabalho daquela equipe. Desde a segunda edição a participação foi híbrida, composta pelos servidores municipais do grupo de terapia do HSPM e por interessados em geral que se inscreveram”, detalha Marta Fonterrada.
Neste ano, a 7ª edição está sendo sediada do mês de agosto ao dia cinco de dezembro, às sextas feiras em diversos locais da instituição. O “[…] sucesso de participação, interesse e integração” está proposto em uma configuração diferente, o Coletivo Preguiça, grupo autônomo de pessoas interessadas em realizar diferentes experimentações artísticas como meio de terapia e ocupam espontaneamente espaços do CCSP como FabLab e Folhetaria agora integram os procurados encontros, os quais, assim como em seus primórdios, propõem um estímulo à socialização e aos benefícios da saúde mental.
Marta possui experiência e relevância no apoio às pessoas que estão em tratamento de saúde e alega:
A arte conecta as pessoas de forma lúdica e sensível, contribuindo para a expressão de sentimentos e emoções que contribuem para a melhoria do bem-estar físico e mental. Minha experiência na coordenação do ‘Sou Som’ só comprovou esta tese, pois a cada encontro acompanhamos as trocas afetivas e as vivências que fortaleciam os participantes. Ao final do processo nas gravações do relato de cada pessoa foi possível comprovar o impacto positivo da oficina.
Os encontros dão aos participantes a oportunidade de explorar afetos, vivências musicais e artísticas com serigrafia. Incrível, não é? Mas não para por aí.
Integração das ações e departamentos no CCSP
A iniciativa que à primeira vista parece misturar linguagens que nada tem a ver, ao serem analisadas mais de perto despertam a integração de dois mundos distintos. Como ressalta Aloysio Nogueira, coordenador da discoteca em seu discurso, muitas das notas musicais presentes nos quadrinhos da Gibiteca Henfil fazem parte também da coleção de notas musicais da Discoteca Oneyda Alvarenga , a exemplo do clássico “Asa Branca” de Luiz Gonzaga.
A ação coletiva, portanto, não só relembra a importância de integrar departamentos em um ambiente tão amplo e plural, como divulga e multiplica o público, ao garantir o direito ao lazer, educação e cultura.
A troca única idealizada por define um marco na cidade de São Paulo e carrega consigo um momento de renovação de sua coleção e repertório de obras icônicas e de diálogo mediado por Edson Marçal com os colecionadores Regilnado, Can Merg.
A gente tem aqui música também para as pessoas escutarem da discoteca e conhecer o espaço da discoteca e fomentar também o acesso à leitura, à mediação, conhecer também o espaço da biblioteca como um todo e também movimentar o CCSP como um todo, o Centro Cultural São Paulo, aproveitar essa movimentação toda que tem aqui, essa coisa da juventude. – conclui Lilian Lorente, coordenadora da Gibiteca Henfil.
Entusiasmo não faltou para os integrantes da feira. É o que diz em suas próprias palavras Gustavo Barreto, estudante do Ensino Médio, veio de Francisco Morato com uma sacola cheia de quadrinhos adquiridos ao longo da vida e com a mesma força de vontade já pretendia voltar para casa e ler as novas obras conquistadas:
Bem, lá em casa, quando eu era menor, eu tinha muito costume de pedir pra minha mãe comprar mangá, quadrinho pra mim pela Amazon, aí eu lia tudo quase no mesmo dia e ficava guardando poeira na prateleira, então quando eu ouvi sobre a troca de quadrinho aqui no Centro Cultural, eu decidi. Bem, eu não vou ler de novo, já li, vou deixar a oportunidade pra outra pessoa ler, né? Ali eu já conseguia fazer muita troca, metade dos mangás que eu tinha eu já troquei por outros, quando chegar em casa, vou ler o que eu troquei e é isso ai!
Um contraste paradoxal de quem ainda se prende ao físico em um mundo de hiperconectividade. Onde tudo muda a cada clique, onde o tempo parece correr mais rápido do que a própria memória, o “Sou Som: a música que toca em mim” reafirma a importância de parar, escutar e sentir. Em meio a tendências que vão e voltam, a música permanece, mutável em forma, mas imutável em essência, como trilha e testemunha de nossas vidas. Que essas iniciativas reacendem não apenas sons, mas memórias, conexões e afetos. Por meio de experiências que vão da serigrafia às rodas de troca de discos e HQ ‘s, os participantes redescobrem em si mesmos o poder transformador da arte, da escuta e do coletivo. Um refúgio a produtividade diária e a consagração e valorização do subjetivo
O Centro Cultural São Paulo fica agraciado por receber o nosso público e fornecer a oportunidade de que estes descubram a cada dia o poder de mudar, transformar e ser transformado pela criatividade. Um grande agradecimento a todos artistas, colaboradores e visitantes que tornam viva e pulsante cada estrutura do maior Centro Cultural da América Latina.
Lembrando que: a Discoteca Oneyda Alvarenga, a Gibiteca Henfil, a Folhetaria Atêlie Público e tantos outros portais de teletransporte permanecem abertos a descobertas, trocas e encontros, porque a Arte nunca para, ela apenas muda de faixa, de página e de coração.
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Citação
https://www.serene.com.br/site/neuro/ler/2466-corpo-clinico
*Estagiária sob supervisão de Felipe Cartier


