Escritor faz alerta para uma atenção mais cuidadosa com crianças em casa e nas escolas
Por Alexandre César | Redação CCSP | Fotos: Acervo pessoal
20/08/2025
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No primeiro dia do Festival Internacional Literário de São Paulo (FLI Sampa), o escritor Tino Freitas fez a alegria de crianças e adultos, quando apresentou seus livros de dobraduras com ilustrações em que sugerem brincadeiras e disputas em grupo, como cabos de guerra, adivinhações, e improvisações de imas, mostrando que até com livros é possível aprender brincando.
A palestra, que foi realizada na Sala Paulo Emílio, no Centro Cultural São Paulo (CCSP), mais pareceu um coral orquestrado por um maestro, pois enquanto lia trechos de seus livros, o autor fazia brincadeiras de lenga-lengas, em que o público repetia suas frases e dando muitas risadas com as suas expressões corporais, imitando os ‘movimentos’ de seus personagens.
Numa destas, ele recitou o trecho do livro A Tromba: “Nasceu uma tromba gigante na cara do meu tio Zé…” (FREITAS, Tino; BARBIERI, Debora. 2019. Ed. Casa Baba Yaga). “Tromba” é uma expressão nordestina que remete a uma pessoa está de angustiada, ou seja, de “cara amarrada”, como se diz na expressão popular.
Foi entre este momento descontraído que Tino Freitas aproveitou para falar do seu livro Cadê o Juízo do Menino? (FREITAS, Tino; MASSARINI, Mariana. 2018. Ed. Brinque-Book) que foi uma homenagem ao seu filho, contando a experiência do garoto que na escola, quando criança.

Esse livro é uma homenagem ao meu filho Pedro, que foi expulso de três escolas quando ele era criança, aliás, foi convidado a sair em três oportunidades. Eu nem eu nem me lembro mais os motivos. O Pedro hoje é engenheiro, e um pai maravilhoso. Ele era um menino que de certa forma era incompreendido aqui e ali. Todos nós somos excluídos das escolas da vida por vários motivos. Às vezes pela cor da pele, às vezes porque temos alguma deficiência, às vezes porque a gente se comporta de um jeito diferente. O Pedro era uma criança com uma inteligência forte que ele fazia as coisas sempre primeiro que os outros, e isso incomodava os outros. Eu acho que nós não demoramos a encontrar uma escola boa para ele. O Pedro é um sobrevivente maravilhoso, e ele continua sendo menino muito bom, como ele sempre foi, mas um menino ‘danado’, como eu acho que devem ser as crianças. Eu acho que as crianças, quando você põe a criança dentro de uma caixa e diz mais “Não” do que “Sim” para ela, a gente pode estar criando um adulto que vai ser um adulto repressivo, que vai ser um adulto que pode exercer algum tipo de violência. O Pedro é esse menino aonde é livre de preconceito. E é tão bonito a gente poder ter escolas em que acolham crianças, e aí eu faço isso também nos meus livros, também falo um pouco da educação do Pedro. Vivemos uma geração que está crescendo cada vez mais com menos preconceito. Eu acho que o mundo fica melhor e a literatura tem essa força também – pontuou o autor.

Ao mesmo tempo em que o escritor se preocupa com o lado educacional, inocente e divertido da infância, também faz um apelo para que pais, responsáveis e profissionais da Educação tenham uma atenção especial ao que os pequenos falam ou demonstram, principalmente quando reações de temor ou defesa não podem ser ilustradas por palavras ou falas.
O autor contou em sua palestra que há alguns anos, recebeu uma homenagem numa escola no Rio Grande do Sul, e na ocasião, uma menina lhe entregou uma camisa como presente, durante a cerimônia no palco.
Ao abraçá-la para agradecê-la, a criança recuou assustada e escondeu-se atrás de uma de suas professoras quando ele disse “Muito obrigado, e você tem um bonito sorriso”. O escritor percebeu que um gatilho de alerta havia sido disparado na criança, e que ela poderia estar lembrando de uma agressão moral e/ou física acontecida.
Após o evento, Tino procurou a direção da escola e a professora e pediu que as mesmas procurassem saber o que poderia estar havendo com a estudante.
Passei dias incomodado com esse episódio. E pensando em como crianças podem ser vítimas de agressões fortes. Por isso, tive a inspiração de escrever o livro Leila, que conta a estória de uma baleia que é perseguida pelo personagem Barão. O livro vai falar sobre dar voz a quem já sofreu algum tipo de violência. Ele tem servido como uma ferramenta para ajudar a dar voz a denúncias de de violência, algo que tenha acontecido. Eu não sei depois o que houve com a menina que relatei, mas espero ter sido ouvido, que as professoras possam ter protegido ainda mais aquela criança. A editora recomenda que o livro seja lido a partir dos 9 anos, eu acho que se tiver um bom mediador, você pode ler também pouco mais 6 anos e tal, mas eu vou sempre vou pelo que a editora recomenda, através dos especialistas. Leila é uma obra que através dos anos vem servindo para muita gente desabafar sobre suas experiências, pois até hoje recebo mensagens de pessoas que dizem ter vivido algo semelhante e que se viram de certa forma – encerrou Tino Freitas.
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