Público teve a chance de declamar suas poesias no Microfone-Aberto
Por Alexandre César | Redação CCSP | Fotos: Arquivo pessoal
17.07.2025
Como parte das comemorações do mês da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, o Centro Cultural São Paulo (CCSP) apresentou na noite da última quarta-feira (16), o Coletivo Sarau das Pretas, evento com declamação de poesias, dança e música.
Temas diversos foram levantados, tais como: política, questões sociais, afirmação da cultura negra, o papel da mulher negra na sociedade, família e amor. Ao som dos batuques com ritmos Samba, Afoxé e outros, as poetisas ditaram o ritmo do encontro. Ao fim de suas apresentações, a plateia foi convidada para participar do Microfone-Aberto, onde qualquer um pode subir ao palco e declamar suas obras, cinco pessoas fizeram suas performances, para os aplausos do público.
O Sarau das Pretas surgiu dessa necessidade de garantir na cena dos saraus literários um espaço para que as mulheres pretas pudessem trazer as suas pautas e esse acolhimento do público, mas também das artistas. Então, o espaço serve para a gente se fortalecer enquanto mulheres pretas, trazer as nossas pautas políticas, mas principalmente falar do amor que é o que a gente almeja acima de tudo. A gente tem nove anos de caminhada e ao longo desse tempo, a gente se fortaleceu e ampliou esse cenário cultural que a gente está buscando construir. A gente fala muito sobre a questão da nossa luta por um pelo bem-viver, então, a gente fala muito sobre a política, sobre a questão da violência, mas a gente está num momento de dizer que a mulher preta não é só aquela guerreira que aguenta tudo. A gente quer falar sobre o amor. Queremos falar que a gente também quer ser objeto de cuidado e não só aquela pessoa que cuida. Então, a gente quer falar sobre amor e quer ser alvo de amor, também – resumiu a poetisa Débora Garcia.
E por falar em amor, além do sentimento romântico, coube espaço para falar da família de ontem e da que vai aumentar num futuro breve. A poetisa Nancy Teixeira entrou sambando, mesmo com uma barriguinha de alguns meses, mas ainda não sabe se é menina ou menino. Em seu recital, Nancy entoou versos sobre a família que veio do Nordeste há uma geração, homenageou sua mãe, lembrou da infância difícil e fez odes para a criança que virá e na expectativa de ser mãe.
Minha inspiração é a minha própria história, assim, esse poema que eu escrevi, escrevendo para o amor… foi num momento em que eu precisava reconhecer, ver o amor para além desse ideal romântico e aí identificar o amor nas nos diversos detalhes que a gente tem no nosso dia a dia. Vejo o amor no olhar das crianças, até as risadas com a minha mãe, com a minha irmã. Vejo o amor até momentos e tristeza, como no cemitério, quando certa vez partiu um amigo meu. O amor está nesses pequenos detalhes, e isso fez com que eu não olhasse somente para o ideal romântico, mas de forma ampla, e que eu fosse acolhida por esse amor assim. Estávamos no camarim, e eu disse ‘Nossa, ele tá mexendo muito, acho que ele vai ser poeta’. Pretendo que meu filho ou filha frequente lugares artísticos, educativos, lugares da cultura tradicional brasileira. A educação é comunitária e eu acho que estar nesses espaços em que a gente é vive a nossa cultura, preta, vive a nossa história, vive a nossa ancestralidade, vai fortalecendo também a educação dessa criança que já está aqui frequentando esses espaços, os grupos, os coletivos, a nossa comunidade – encerrou a escritora.
Confira a programação do mês de julho no site do CCSP.