Ayrton Montarroyos faz arrasta-pé em homenagem a Luiz Gonzaga

Público cai na dança junto com o cantor em volta do palco da Sala Adoniran

Por Alexandre César | Redação CCSP | Fotos: Nina Gocke

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Num total clima de prévia de São João, a Sala Adoniran Barbosa, do Centro Cultural São Paulo (CCSP), recebeu na última terça-feira (10), o cantor Ayrton Montarroyos, com o show Viva Gonzagão, uma apresentação que contagiou o público, que em vários momentos largou as poltronas para dançar em volta do palco.

Podemos dizer que o show foi uma revisitação de Luiz Gonzaga em duas fases de sua carreira: numa mescla do Forró dos anos de 1950, com uma instrumentista que tocou flautas Transversal e Pífano; e com uma mistura de arranjos modernos dos anos de 1980, pois não havia Zabumba, que foi substituída pela Bateria, com acréscimo de um Contrabaixo.

Primo do também consagrado tecladista pernambucano Allan Montarroyos, Ayrton tem uma forte ligação cultural familiar, não só deste parente famoso, mas sua avó Célia Montarroyos foi funcionária da extinta Fábrica de Discos Rozemblit, importante empresa fonográfica, que lançou grandes artistas e ritmos regionais e nacionais entre as décadas de 1950-80. A coleção de Lps da sua progenitora foi papel essencial para sua veia artística.

A Rozemblit foi uma gravadora muito importante, porque lançou vários discos do Capiba, do Maestro Guerra Peixe, Nelson Ferreira, do próprio Luiz Gonzaga e alguns artistas que a gente nem lembra que foram lançados por ela, como por exemplo, Claudete Soares, que apesar de ser depois famosa pela Bossa Nova, antes era tida no Rio de Janeiro como a Princesinha do Baião ao lado de um pernambucano chamado Luiz Vieira, que era o Príncipe do Baião e Luiz Gonzaga era o Rei. A minha avó trabalhou lá, e eu ouvia muitas histórias de artistas e de gravações e do próprio Zé Rosemblit, que era o dono, um judeu, lá do Recife e tal. Graças a isso, eu tive acesso a muitos desses discos, o que foi moldando meu estilo musical.

Eu estou rodando com um show chamado A Lira do Povo, que faz parte do meu terceiro disco que eu lancei ano passado e também com um show de voz e violão com um violonista maravilhoso chamado João Camareiro, que já acompanhou estrelas como Maria Bethânia e outras estrelas incríveis. Eu comecei a cantar aos 11 anos dentro de casa, depois em evento, em seresta da família. Minha família sempre gostou muito de tocar violão, fazer roda. Aos 18 anos fui indicado ao Grammy Latino pela minha participação em um álbum, e a consagração foi quando fui vice-campeão do The Voice Brasil, aos 21 anos me mudei aqui para São Paulo, e é sempre uma alegria cantar para o povo aqui, no CCSP – contou o artista.

Pequeno Príncipe do Sertão

Montarroyos subiu ao palco usando um paletó florido, bem longo, mais parecia um sobretudo, e após cantar No meu Pé de Serra (Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga), reclamou do calor e pediu um lenço ao público, sendo prontamente atendido por uma espectadora. E logo depois de passá-lo no rosto, alguém na plateia disse “Você é lindo”, e ele respondeu “Rá, me leva pra sua casa pra você ver o que é bom…” arrancando gargalhadas dos presentes.

Vocês viram como estou chique? Quando eu estava no The Voice (2015), disseram que eu era a cara do Pequeno Príncipe, e queriam que eu usasse uma capa verde, como o personagem. Misericórdia, eu não quis, mas agora, eu cedi – disse o músico, arrancando mais risadas e aplausos.

Todo tempo quanto houver pra mim é pouco

A partir daí, o público deixou a timidez de lado e passou a puxar seus pares para dançar ao som de Kalu – canção de Humberto Teixeira, mas já sem a parceria com Luiz Gonzaga, e gravada por Dalva de Oliveira – deixando um ar romântico no ambiente que, quem já brincou São João no Nordeste, sabe bem como é. Daí então, com Xanduzinha, Orélia, Qui Nem Jiló, e Xamego, o público nem mais voltou a se sentar e a Adoniran virou a Sala de Reboco, que o Rei do Baião tanto cantou ao longo da vida.
E por falar em romantismo, o cantor quis enaltecer o lado intérprete de Luiz Gonzaga, quando entoou Sanfona Sentida, clássico de Dominguinhos e sua esposa Anastácia, fazendo as duplas dançarem de rosto coladinho. Mas logo o clima voltou a ferver, quando Montarroyos atacou com a canção Festa, de Gonzaguinha, e a Adoniran Barbosa explodiu no fim, com o verso “Quero ver o Recife pegando fogo na pisada do Maracatu…”

Parecia até um Frevo, naquele vai e não vai

Ao fim da apresentação, Montarroyos desceu do palco e foi cantar com o público o sucesso Pagode Russo, de João Silva e Luiz Gonzaga, com todo o espaço cantando junto, e ele aproveitou para puxar um trenzinho em volta da arena. Depois, voltou para o bis e encerrou com Xamêgo, de Miguel Lima, e Luiz Gonzaga, mostrando a quem não sabe o que é o xamêgo, se é branco, mulato ou negro.

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