Plêiade no CCSP traz temas de inclusão e diversidade em literatura musical
O ambiente é a Praça das Bibliotecas do Centro Cultural São Paulo (CCSP), onde, na última quarta-feira (23), aconteceram dois eventos simultâneos: o Transarau Convida, e o Sarau no Kintal, sendo um encontro de poetas e músicos, que mesclam melodias e versos com temas de inclusão social, racismo, preconceitos sexuais, intelectuais e outros.
Roda poema, êêê
Roda poema, ááá
No Sarau no Kintal
O poema vai rodar
Roda o poema…
Essa era hamada para quem estivesse na plateia para ir ao microfone e declamar sua poesia ou de seu autor preferido. A roda de samba continuava e todos que quisessem participar, tinha livre trânsito.
Oriundo da Brasilândia, zona norte da capital paulista, o Sarau no Kintal é encabeçado por Akins Kinté, e Bruna Imani, com o objetivo de divulgar a arte da declamação de poesias como uma força de expressão social, política e conscientizadora sobre o papel das classes minoritárias no mundo.
De acordo com Kinté, o encontro de poetas e esse contato com o público serve para resgatar um hábito familiar e da boa vizinhança, é que é das pessoas se juntarem, para trocar ideias, cantar, declamar poesias e do simples exercício do conversar entre si.
O Samba e a Poesia são elementos fortes lá na Brasilândia, e eu venho de uma família que tem origem forte no Samba, então, pensei em trazer a tradição da oralidade e mesclar com a música, fazendo encontros uma vez por mês, para a gente se divertir, se encontrar. Estamos vivendo uma época em que as pessoas estão se encontrando menos para conversar, debater… às vezes, você não está sozinho com sua família e amigos, mas ao mesmo tempo está, porque muita gente fica conectada na internet, no celular, e não conversa mais ao vivo. Nós quisemos aliar a música com poesias que não são necessariamente rimadas, como vemos nas obras de Castro Alves, mas com versos que têm um ritmo, que pegue a gente pela mensagem – analisou o poeta.
E falando em música, ao contrário do que muita gente pensa, não há apenas Samba e as Street-Dance nas periferias. Para Bruna Imani, a busca pela oralidade ancestral é algo inerente ao ser humano, onde a expressão de recitar versos persiste, seja à capela ou acompanhada de sons instrumentais, pois a poesia ocorre de acordo com o tempo, as gerações, as tendências da moda, visto que até a tradição é passível de mudanças.
Quando a gente propõe uma roda de sarau, trazemos não só a música em si, mas com temas, com debates reais, trazemos a política do bem-viver, uma política estruturada, onde o nosso povo saiba sobre a sua identificação. A gente traz o direito de que sua voz pode ser ouvida através do canto ou de uma conversa com outra pessoa, trazemos o palco para perto da nossa família, da nossa comunidade. Falando sobre a oralidade, é também uma maneira do público em geral desmistificar sobre de a produção de arte, é, nas periferias de São Paulo, do Brasil. Eu tenho uma amiga chamada Ana Paula de Oiá, que faz batalhas de rimas em escolas públicas, e os vencedores levam um troféu para sua escola. Isso é muito importante. A pergunta é: jovens vêm atrás da gente? Alguns, não muitos. Mas eu acho que isso é uma coisa que a gente enfrenta desde de lá de trás, não é? Antes de ser o Funk, era o Rap, e antes eram as Cantigas de Roda, e antes eram as rodas de Capoeira. Então, sempre foi um desafio muito grande a gente continuar as coisas que são dos nossos ancestrais, mas que nos traz libertação em algum momento da vida – afirmou Imani.
Muito da sabedoria ancestral se perdeu no tempo, devido ao fato do conhecimento ser passado pela oralidade através das gerações. Para Larissa Alves, o mundo digital contribui para o registro de novos trabalhos, mas, por outro lado, os encontros presenciais ficam cada vez mais comprometidos justamente pela escolha de muita gente em permanecer no mundo virtual.
Eu escrevo desde criança, mas só agora estou assumindo essa prática como trabalho. Estou com um projeto chamado Carrego Poesia, que envolve formas poesia em camisas e outras peças. Eu me preocupo muito com a maneira de registrar nossos trabalhos, até fazemos muitos encontros, mas é preciso saber como registrar as obras para que mais pessoas conheçam, que se renovem as gerações. Hoje em dia que tem essa coisa da internet, tá tudo muito disponível, mas eu acredito muito nessa coisa do que é passado daqui. A gente sabe viver isso, por exemplo, quando estamos numa Roda de Samba, temos experiências vividas no momento, e se você não está, como explicar isso num livro, no TikTok? Por isso a importância de se encontrar, de se reunir, e o Quintal nos mostra muito bem isso. Eu acho que a presença física não tem algo que a substitua. Acho que a internet é importante, a gente tem que se manter antenado nas coisas, mas também saber que aquilo é uma ferramenta e não necessariamente o fim da coisa, sabe? Continuar entendendo que a presença é o primordial – encerrou Larissa.
Para conhecer mais da programação da Ação Cultural, acesse o site do CCSP.