Intervenções artísticas de Luna Bastos e Diego Mouro

O CCSP recebeu na última semana duas intervenções dos artistas plásticos Luna Bastos e Diego Mouro

A obra de Diego Mouro está localizada no painel na rampa principal, próximo às mesas de xadrez, e a de Luna Bastos está na parede da caixa d’água, no Jardim Sul. 

 

“Memórias para o Amanhã” traz como seu principal fundamento o conceito do Sankofa, convidando o público a refletir sobre a forma de mudar a realidade e construir o futuro.

No povo Akan, localizado atualmente em Gana, há um provérbio que diz “Se wo were fi na wo sankofa a yenkyi”, que significa “Não é tabu voltar para trás e recuperar o que você esqueceu ou perdeu”. Deste conceito originou-se o símbolo adinkra do Sankofa, representado por pássaro que voa para frente e tem sua cabeça voltada para trás carregando no seu bico um ovo, que representa o futuro.

Esta filosofia inspirou Luna Bastos a desenvolver a obra “Memórias para o Amanhã”, que foi pintada na caixa d’água do CCSP. A artista piauiense traz em seu trabalho a imagem de uma mulher negra e o símbolo do Sankofa. Ela nos convida a refletir sobre a importância de retornar às nossas raízes para compreender melhor o presente na construção de novos futuros.

“Esse movimento de resgate de nossa história e de nossas memórias a partir de uma nova perspectiva é uma possibilidade para cultivar nossa identidade e nossa singularidade”, explica Luna. 

Em 2022, o CCSP completou 40 anos de história, sendo um dos primeiros centros culturais multidisciplinares do Brasil. A arte de Luna será feita para dialogar com o local, que possui um caráter plural e democrático. 

 

Nos painéis pintados no CCSP o artista dá continuidade a sua pesquisa dedicada a investigar as relações da ancestralidade e memória através de um olhar cuidadoso para o cotidiano. Em cenas que nos parecem comuns ao olhar, o artista busca pela representatividade de uma cultura negra afro diaspórica, que resiste e firma sua existência nos fazeres e afetos ordinários, no trabalho manual, nas brincadeiras, danças, no elo entre o novo que vem do velho e o velho que vira novo. Uma cultura que tem no comum o seu extraordinário.

Pescadores, barranqueiros, lavadeiras, pais, filhos, boiadeiros, encantados, guiam a produção do artista que busca representar uma cultura brasileira pautada nos fazeres, no encantamento, na partilha dos saberes, na adaptação e na continuidade. Uma cultura negra, e nacional, que resiste e reside essencialmente no fazer cotidiano e ordinário da vida. As obras, repletas de poesia, propõem um olhar contemporâneo e preto que nos convida a olhar com calma para o que chamamos de ancestralidade. Um convite para parar e enxergar a ancestralidade não só como algo que já passou, mas como algo que se molda e se constrói no fazer e na continuidade, nas miudezas. Ancestralidade como esse alargamento do presente.

Diego Mouro é um artista autodidata e muralista nascido em São Bernardo. Utiliza técnicas e influências que vão da arte tradicional à arte de rua, passando pela pintura contemporânea. O artista constrói sua trajetória a partir dos saberes e práticas ancestrais. Seus trabalhos perpassam por questões raciais, ressaltando o afeto, promovendo o encontro de elementos e símbolos tradicionais da cultura negra.

 

 

Fotos: Luan Batista e Artur Cunha.

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