Quem fez, quem faz: Vinícius Máximo

Quem fez, quem faz é uma seção do site do CCSP que procura colocar luz sobre trabalhos fundamentais para o funcionamento da instituição, mas que, por diversas razões, permanecem “invisíveis” ao público. Graduado em Jornalismo e atualmente cursando o bacharelado em Letras – Português, Vinícius Máximo de Andrade Costa foi editor do site da instituição e, na entrevista a seguir, realizada em novembro de 2018, ele conta um pouco sobre seus oito anos de trabalho no CCSP na Supervisão de Informação. Leia abaixo a entrevista completa:

 

Em que ano você entrou no CCSP e como foi esse processo?
Entrei como estagiário no Centro Cultural em maio de 2010, enquanto cursava o segundo ano de Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. Eu me lembro de ter feito o processo seletivo em janeiro de 2010, mas só comecei a trabalhar aqui em maio. Eu até achei que não ia rolar, lembro-me que eu havia mandando currículo no ano anterior, no final do ano. Em 2009, eu tinha acabado de entrar na Cásper e em outubro desse mesmo ano eu comecei um estágio na Procuradoria Geral do Estado, na assessoria de imprensa, que foi meu primeiro trabalho. Entrei muito novo aqui, antes de completar 20 anos.

 

Você se lembra de como chegou lá? Foi um processo seletivo parecido com o daqui?
O governo do estado [de São Paulo] faz uma seleção de estágio para todos os órgãos, todas as secretarias, e eles fazem uma prova, como se fosse um vestibular. Você faz a prova e, de acordo com a sua pontuação, dá pra escolher alguns lugares. Com alguma periodicidade vão te encaminhando algumas vagas. Olha só que loucura, eu cheguei a fazer uma entrevista na assessoria do Palácio dos Bandeirantes, para trabalhar na Secretaria de Comunicação no Morumbi. Acabei deixando de lado porque seria muito complicado chegar lá. Então apareceu essa outra vaga, na assessoria de imprensa da Procuradoria Geral do Estado e optei por isso, já que estudei na Cásper [na Avenida Paulista], e a Procuradoria ficava na [rua] Pamplona, a duas ou três quadras da faculdade. Como eram só 4 horas, à tarde eu saia do estágio e já ia pra faculdade.

Acabei indo para esse estágio mais pela novidade mesmo. Eu era um menino de 19 anos, que nunca tinha trabalhado, tinha acabado de entrar na faculdade, e queria começar fazer alguma coisa já na área. Aí fui. Foi uma experiência interessante, porque acho que é legal, até certa medida, fazer alguma coisa que você mesmo não goste, até pra saber que não quer aquele caminho. Fiquei um tempo lá, aproximadamente 6-7 meses, mas foi um tempo de muito aprendizado. Muito por conta disso, eu tinha que lidar com um universo completamente distante do meu interesse. Nunca tive interesse na área do Direito, na área jurídica. Eu quebrava a cabeça para entender o que eram determinados termos, porque eu tinha que fazer reportagens e escrever textos a partir de despacho de juiz, a partir de sentenças, textos de procurador, etc. Era um universo completamente distante do meu, um trabalho muito tranquilo. O assessor de imprensa, Silvio Montenegro, é uma pessoa ótima, por quem eu tenho um supercarinho, mas, de fato, todo aquele universo não me mobilizava muito. Então, dois meses depois, eu já comecei a procurar outra coisa.

Fui fazer jornalismo porque eu queria trabalhar, de alguma maneira, com cultura. Eu sempre tentava procurar algumas coisas relacionadas com cultura. Mas, assim como todo mundo desse meio pode falar, trabalhar com cultura é muito complicado – as vagas são poucas e, quando aparecem, muitas delas são precarizadas demais.

No primeiro ano, fui fazer o estágio na procuradoria, mais pra começar mesmo, pra dar esse pontapé. Lembro-me que, no primeiro ano ainda, eu tinha mandado o currículo pra cá – ainda no primeiro semestre de 2009 abriu uma vaga – a que eu ocupei posteriormente. Só que naquele momento eu ainda não podia nem concorrer. Lembro-me, inclusive, de a Paula [Paula Bassi – que trabalhou no site] ter me respondido que infelizmente não podia me chamar para a entrevista porque eu estava no primeiro semestre. Mandei a segunda vez, no final do ano, superdesencanado, e em janeiro fui chamado para fazer a entrevista. Depois desse hiato entre o processo seletivo e a contratação, comecei aqui em maio de 2010 como estagiário.

 

O que você faz hoje no CCSP?
Hoje em dia, eu sou editor do site do Centro Cultural. Isso envolve, principalmente, um trabalho de atualização do site, tanto no que se refere a informações mais gerais de serviço quanto a atualizações de conteúdo. Uma das responsabilidades mais importantes que eu tenho desempenhado é organizar o planejamento de conteúdo que a equipe e eu temos produzido juntos. Mensalmente, vários textos entram no site, textos relacionados ao CCSP de uma maneira mais ampla, que não necessariamente falam sobre programação, acervo, biblioteca, mas procuram, a partir do Centro Cultural, expandir discussões e debates em relação, principalmente, à arte e à cultura. Basicamente é isso. É esse trabalho de atualização, manutenção do site e planejamento, acompanhamento e execução de conteúdo on-line.

 

Conte acerca de sua trajetória profissional. Faça um resumo de tudo o que você fez ao longo do tempo aqui.
Bom, eu cheguei aqui em maio de 2010 e, depois de um ano, fui contratado, porque uma pessoa estava sendo desligada naquele momento. E de lá pra cá eu sempre trabalhei na Comunicação, com a equipe responsável pelo site. Naquele momento, em 2011, eu já fazia o que eu faço hoje, mas de outra maneira. O foco não era exatamente esse, eu produzia também conteúdo, mas, naquele momento, o trabalho era muito mais de atualização e manutenção do site. Muito mais no que se refere ao serviço. Precisávamos garantir a divulgação da programação e as informações gerais, a credibilidade de tudo isso. Um padrão mais jornalístico de atualização de site de instituição cultural.

Ao longo dos anos, por conta de algumas gestões da comunicação que a gente teve, toda a divisão, de alguma maneira, procurou trabalhar de um jeito menos focado em serviço. Quer dizer, houve um entendimento de que comunicação não se restringia a prestação de serviço, e com isso essa produção de conteúdo foi colocada em um plano de maior privilégio. Pelo menos no meu entendimento. Principalmente a partir das gestões do Márcio Yonamine e da Juliene Codognotto, a gente realmente teve a valorização de um trabalho mais criativo. No momento da minha contratação, esse trabalho era muito mais voltado para a garantia da informação de serviço [horários e datas dos espetáculos, regras de funcionamento do espaço, etc.]. E acho que isso foi se transformando para um trabalho um pouco mais criativo.

 

Durante esse tempo você percebeu alguma mudança relacionada a alguma tecnologia? Parece que atualmente há uma demanda maior de coisas on-line.
Eu acho que sim. É curioso, né? Quando você me perguntou de tecnologia, imediatamente me veio todas as evoluções que a gente teve nesse processo todo, né? Naquele momento, em 2010/2011, a gente fazia o site em Dreamweaver, e era um processo muito mais lento. E até por isso se demandava muito mais de tempo para o serviço… Porque é isso… A plataforma exigia mais tempo. E, exigindo mais tempo, a gente precisava priorizar aquilo que é mais imediato, aquilo que, de qualquer maneira, a gente precisa garantir para o público. Então, com certeza, nesse processo, os avanços que tivemos em relação à tecnologia foram fundamentais também pra essa mudança de foco. Sair dessa perspectiva mais de serviço para uma mais criativa com certeza tem a ver com aprimoramento de tecnologia.

Hoje em dia, por exemplo, não é à toa. E agora que a gente trabalha em uma plataforma como o WordPress, a gente pode se dedicar mais a essa produção de conteúdo, porque a alimentação e a atualização do site são bem mais simples. Antes, fazer uma atualização (como a mudança de um show de uma sala para outra) demorava. Parece que não, mas isso tomava muito mais tempo. Então eu acho que essa mudança de foco para um trabalho mais criativo tem a ver, sim, com aprimoramento das tecnologias. Talvez isso seja o principal até… Acho que tem a ver, sim, com um entendimento maior de gestão. Quer dizer, se a gestão entende que o trabalho não pode ser só cumprimento de demanda e do que é esperado, se essa perspectiva muda, o trabalho vai se desenvolver de maneira mais bacana, mais própria a um Centro Cultural, mais livre mesmo.

Só complementando esse percurso… Acho que desde que eu entrei aqui até agora as gestões da Comunicação, diretores e diretoras da Comunicação foram pessoas muito generosas das quais eu consegui me aproximar muito. Então, ainda que em todos esses anos eu tenha ficado muito mais próximo do trabalho do site, isso não me limitou no sentido de não poder explorar outras coisas, principalmente na gestão da Ju (Juliene Codognotto) e do Marcio Yonamine, em que a dinâmica era muito mais compartilhada, e pude aprender muito de gestão, ainda que não tenha ocupado um cargo de gestão, mas pude, pela abertura e pela generosidade deles, ficar muito próximo, discutir várias coisas. Foi muito rica essa experiência, fazendo agora um balanço desses quase oito anos que estou aqui.

 

Aproveitando isso que você falou, o quanto lhe influenciou participar de experiências tão diferentes, como, por exemplo, ser membro de comissão de edital? E o quanto isso influenciou você como pessoa e como profissional?
Só contextualizando: de 2015 para cá eu participei de algumas comissões de seleção de editais lançados pelo Centro Cultural e pela Secretaria Municipal de Cultura e fui chamado para participar dessas comissões pelos diretores do setor educativo do CCSP. Na verdade eu participei da Comissão do Edital da Folhetaria a convite da Adriane Bertini, que, na época, ainda não era a diretora do educativo, mas trabalhava na Comunicação, no Projeto Gráfico; participei de um edital maior, que era um edital de seleção de oficinas para todos os equipamentos da Secretaria Municipal de Cultura; teve, também, um outro edital de seleção de oficinas para o Centro Cultural.

Acho que esses convites vieram muito dessa possibilidade que o Centro Cultural oferece para quem se abre, de fato, para viver tudo o que esse espaço oferece. Eu sempre fui uma pessoa muito interessada em arte e cultura de maneira geral, e estar em um Centro Cultural como esse dá a você a possibilidade de conviver com muita coisa e muita gente com experiências bem diferentes. Procurei nesse tempo em que estou aqui me relacionar muito com as pessoas, e acho que esses convites vêm muito desse interesse que percebiam em mim, por pensar a coisa pública também, por arte e cultura de uma maneira geral. E, para mim, no que se refere especialmente a essas comissões, com certeza esses processos todos foram muito importantes pela troca com as pessoas, porque você nunca trabalha sozinho nessas comissões. É muito rico porque tem muita troca ali de olhar, de experiência, de visão de mundo, para a arte e para a cultura, foi muito rico.

Ler projetos é uma coisa muito interessante, que te forma demais. Você ler um projeto de oficina, de residência artística, do que quer que seja, faz com que você leve isso. Eu, por exemplo, sou uma pessoa que quer continuar trabalhando com cultura e, como essa área é muito pautada por edital, é muito interessante ter essa aproximação para que você mesmo consiga também elaborar seus próprios projetos futuramente. Acho que essas experiências foram muito legais porque que elas são resultado dessa minha tentativa de ver o Centro Cultural em todas as suas possibilidades.

 

Que importância você dá para o que faz aqui, pessoalmente, e para o público?
Eu estou aqui há oito anos e, nesse meio tempo, pude entender melhor como essa coisa pública funciona. E por tentar entender isso eu acho que a gente precisa ter muito respeito pelo trabalho que se faz dentro de uma instituição pública, porque é um compromisso com a cidade, com a memória. E para o público é fundamental que de fato tenha uma informação confiável. É importante que o site esteja atualizado com informações fidedignas porque é um respeito com o público, que vem aqui pra este espaço pra consumir cultura, conviver, frequentar as bibliotecas, conhecer o acervo, etc. Então, tudo o que se refere ao CCSP e que está no site precisa ter uma credibilidade porque é um respeito com as pessoas que vêm aqui. Acho que o fundamental do trabalho é ao menos aquilo que tenho tentado nesse tempo em que estive aqui: garantir que o público tenha acesso pleno ao Centro Cultural, ainda que a gente erre, por várias razões nossas e por questões internas.

Já faz alguns anos que tentamos desenvolver um trabalho mais criativo. Eu acho que o trabalho que a gente tenta fazer de aprofundar o olhar a partir das coisas que acontecem aqui, este trabalho, que muitas vezes não fica tanto sob o holofote, acho que é fundamental porque é muito o papel de um centro cultural – seja por meio da programação, dos eventos, das ações do setor educativo. Para mim, o papel do Centro Cultural é, de alguma maneira, aprofundar questões, fazer com que o público aprofunde o seu olhar para a arte, para a cultura e para a cidade e acredito que a gente vem tentando fazer isso com os textos e entrevistas que nós produzimos. Entre outras coisas, uma das que fiz e que me despertou algo fundamental foi uma série chamada “como, onde, por quê” que começou em 2012 e teve uma duração relativamente longa. Era bem simples e consistia em sair semanalmente pelo CCSP para conversar com o público e entender como eles tinham chegado aqui, que lugar eles mais gostavam e por que essas pessoas continuavam aqui. Ainda que tenha sido simples, foi um trabalho superimportante, formador, e me ajudou a entender onde eu estava.

Porque estar no Centro Cultural tem tantas motivações, desde as mais banais. “Venho aqui estudar para o vestibular”; ou então: “venho porque desde 1990 fazia tal coisa” ou “esse espaço foi muito marcante em minha trajetória”. As pessoas em geral, o público, me fez entender demais este espaço e a importância que eu disse de respeitar e ter um comprometimento com a coisa pública. Não consigo me lembrar de um espaço que cause a mesma sensação de pertencimento, e isso eu acho que a gente só consegue sacar conversando com as pessoas. Se você olha para o público, você valoriza a coisa pública também. Entrevistei pessoas incríveis pelas quais eu tenho muita admiração, como a Maria Alice Vergueiro e a Laerte, e encontrei outras pessoas aqui que também admiro muito: Marilena Chauí, Baby do Brasil, Gilberto Gil, e toda essa gente. E, assim, você me perguntando do que me marcou, acho que realmente foi o “como, onde, por que”. Por isso, com ele eu entendi onde eu estava, o que eu tinha que fazer e para onde meu olhar tinha que se direcionar.

 

Se você tivesse que falar alguma coisa para quem está entrando agora, o que você falaria? O que você deixaria como uma herança de saberes para quem está começando?
Como eu disse, acho que o que me ajudou a entender o CCSP foi visitar o espaço e olhar e conversar com as pessoas e entender as motivações delas e como elas ocupam este espaço.

Outro ponto fundamental para entender este espaço tem sido conversar com as pessoas que já estão aqui há muito tempo. Acho que não construímos nada se não olhamos o que foi feito antes da gente. E é terrível isto porque, como tudo, o tempo é muito fugaz, mas não sei se isto é de hoje. Acredito que isso seja mais da natureza do tempo mesmo. Acho que na vida sentimos tudo acontecer tão rápido. Precisamos ir para frente mesmo, mas também penso que é uma pena quando não olhamos para trás, para quem veio antes da gente e, não só pela experiência e pelo tempo de vida. Tem olhares e delicadezas que só a experiência traz. E não só a experiência, mas também uma disponibilidade de trocar com as pessoas. Eu sou muito agradecido por ter encontrado tanta gente que já estava aqui há certo tempo e se disponibilizou a trocar comigo.

São pessoas que, de fato, me ajudaram a conhecer o CCSP e me formar como pessoa também. Imagina, eu entrei com 19 anos e agora estou com 28. Olha só! Entrei na vida adulta aqui. Eu tive este presente de conviver com pessoas com essa disponibilidade e acho que a gente só consegue sacar conversando com elas. Ao mesmo tempo, desde que eu entrei aqui, muito novo, pouco depois de ser contratado venho supervisionando alguns estagiário. No começo, eu tinha muita insegurança. Logo que fui contratado, veio um estagiário, Ariel, que era mais velho do que eu, e a Márcia naquele momento estava de licença. Acabei tendo que supervisionar alguém muito novo, pouco depois de ser contratado.

Estagiários mais velhos que eu que já tinham circulado muito mais e eu ficava pensando “como vou ajudar essa pessoa?”, “que propriedade eu tenho para isso?” E aí, com o tempo você vai sacando que, gente, é uma troca. A quebra dessa hierarquia é superimportante. Tem responsabilidades, claro, que eu, enquanto funcionário, tenho que bancar e não passar para o estagiário naquele momento. Se desse um problema é claro que eu teria que me responsabilizar, mas, no dia a dia, é a troca. Às vezes nós nos colocamos numas cobranças tão bobas, né? Tentei receber com muito acolhimento todas essas pessoas porque acho que isso faz muita diferença na sua trajetória. E faz diferença não só porque o estágio vai ser legal, mas por se abrir para uma vivência e um olhar mais generosos. Isso tem sido muito fundamental para que eu tenha vivido este espaço de uma maneira mais afetuosa.

E aí, o que eu diria, depois de todo esse prólogo para chegar a um conselho, se é que eu posso dar algum conselho para alguém, acho que chegar aqui, estar neste espaço é realmente um privilégio porque reúne pessoas muito especiais, ainda que a palavra “especial” seja um pouco esvaziada de sentido. Dependendo dos encontros que você tem aqui, se você se disponibilizar a encontrar de fato as pessoas, a estar com elas aqui, isso será fundamental. Então, o conselho que eu dou é: abra-se às pessoas que estão aqui e tenha a humildade de escutar quem veio antes e entender que quem está chegando agora tem muito saber também, né? Se aproveitarmos os saberes que já percorreram muito chão e também saberes frescos, se conseguirmos ter esse convívio dentro da gente, assim a experiência vai ser impressionante, incrível mesmo.

Tentei e venho tentando, olhando outras experiências profissionais de amigos e familiares, aproveitar ao máximo esse convívio tão intenso entre gerações tão distintas. Isso é muito raro, mesmo dentro do Centro Cultural. Isso traz muito aprendizado. Não projetamos futuro nenhum se não olhamos o passado. Nossa referência para tudo deve ser o passado. Ouvir as pessoas que estão aqui há muito tempo com certeza foi muito decisivo para entender melhor onde eu estava, e também entender e escutar pessoas que estavam chegando com um olhar muito novo para isso tudo também foi fundamental e me fez olhar de novo para meus vícios e ranços com algumas coisas. Vamos trocar com as pessoas, não tem por que cada um ficar nas suas próprias caixas. Acho uma pena ver dinâmicas sem trocas e diálogos, porque isso não só vai limitar sua experiência de estágio como a experiência do Centro Cultural. Pela disponibilidade dos outros em trocar comigo e pela minha própria abertura em trocar com as pessoas, a experiência foi fundamental.

A principal dica é: não se feche. Podendo ir um pouco além do que esperam de você, acho legal. Não no sentido de, por exemplo, você tem o seu trabalho para cumprir, não ache que fazer só isso é o suficiente. Ah, isso não estão pedindo para eu fazer. As pessoas não enxergam isso como uma coisa fundamental, porque trabalhar só sobre demanda é muito limitador. É como se você só estivesse correndo atrás, e não em passos à frente. Não vamos trabalhar só sobre demanda. Olha para o lugar onde a gente está, sabe? É um lugar que permite tanta coisa. Se a demanda for pobre, sua resposta também será. Acho que ficar limitado a isso contradiz a própria vocação do CCSP, que é ampla, que é de aprofundar mesmo.

 

Para finalizar, por que estar aqui e sempre voltar?
Eu não imaginava que fosse ficar tanto tempo. Achei que logo depois do estágio eu seguiria minha vida e, contrariando toda a lógica da coisa pública, calhou de eu ter sido contratado. Fiquei oito anos aqui – um de estágio e sete como funcionário. Estou todo esse tempo aqui porque os encontros que tive aqui me mobilizaram demais, me formaram muito. Tive um crescimento profissional enorme, mas com certeza o crescimento enquanto pessoa foi infinitamente maior porque, de fato, é um lugar que reúne pessoas muito queridas, muito afetuosas, dedicadas e apaixonadas pelo que fazem.

Em qualquer lugar do setor público ou privado a gente costuma ver as pessoas trabalhando no automático e tudo mais. Aqui a minha experiência tem sido outra, fui completamente contaminado por todos que entenderam que nós temos que ir além em um espaço como o Centro Cultural. Se a gente tá aqui, a gente tá no mundo. Tem muita vida aqui dentro, nos espaços. E também pelas pessoas que estão aqui. Tem pessoas que criam e trabalham com coisas interessantíssimas também, que fazem daqui uma experiência muito viva mesmo.

Acho que é esse espaço para o qual eu sempre volto. Principalmente pelos encontros que eu tive aqui. Essa palavra “encontros”, que eu mencionei tanto ao longo da conversa, acho que explica o Centro Cultural. Sou canceriano, então me movimento pelos afetos, né? Esse lugar e as pessoas que estão aqui me mobilizaram nesses anos todos.

Entrevista, transcrição e edição: Márcia Dutra e João Vitor Guimarães
Foto: Sossô Parma

*Publicado em: 26 de fevereiro de 2019

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